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BRASILEIRO 2022

A história da graduação “V” utilizada no boulder

Entender a graduação da dificuldade na escalada é uma tarefa complexa para o escalador que está iniciando. Existe praticamente para

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Blog de Escalada|Do R7

Entender a graduação da dificuldade na escalada é uma tarefa complexa para o escalador que está iniciando. Existe praticamente para cada tipo de escalada uma graduação diferente. A mais utilizada em todo o mundo é a francesa, seguida da americana.

Na América do Sul, com exceção do Brasil que desenvolveu uma própria, maioria dos países utilizam entre estas duas. A graduação das vias de escalada e boulder nos campeonatos do IFSC também utiliza a francesa.

Mas e quanto à graduação americana de boulder? Alguém sabe como ela foi criada?

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Existe uma teoria, sem qualquer embasamento, de que o motivo seria que a escala americana, que tecnicamente chama-se YDS (Yosemite Decimal System), baseia-se em uma escala que varia de 5.0 até 5.15c, a letra “V” seria o algarismo romano que representa o número cinco.


Para quem sempre acreditou nesta teoria, uma má notícia: não é verdade. O “V” na graduação de boulder significa verme.

O sistema “E”


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John Gill

A graduação americana de boulder, com a letra V, foi implementada pelo John “Vermin” Sherman, um escalador que praticamente assentou moradia na meca da prática de boulder dos EUA: Hueco Tanks. “Vermin” em inglês significa verme, um apelido “carinhoso”, que Sherman por causa de seu modos vivendi.


Mas a história de rebeldia em torno de que a graduação de boulder deveria ser mais diferente do que as de escalada esportiva e tradicional, é mais antiga do que a própria carreira de John Sherman. Inicialmente a prática de boulder não era vista com bons olhos pelos escaladores da época. Até mesmo a escalada esportiva, como conhecemos hoje, também era marginalizada e considerada “menor” pelos escaladores da época. Época esta que sequer existir o conceito de escalada livre.

Na época escaladores considerados líderes da comunidade de praticantes do esporte nos EUA, como Royal Robbins e John Gill, começaram a treinar movimentos de força e técnica em blocos de pedras no início dos anos 1960. Na época, Gill, que é considerado o “pai” da modalidade boulder, também criou uma graduação própria. Era a época do grau “B”.

A graduação “B” tinha três tipos: B1, que significava difícil (que seria algo até um 5.10 na escala americana), B2 que significava “muito difícil” (quer seria um grau acima de 5.10 na escala americana) e B3 que significava “limite”. As linhas de boulder graduadas como B3 (“limite”) eram aquelas que tinham apenas uma, ou até mesmo nenhuma, repetição.

A história deste grau, assim como as justificativas, está no livro de John Gill “The Art of Bouldering”, publicado em 1969. Caso um boulder “limite” fosse repetido, automaticamente o seu grau era decotado. Por ser uma graduação muito volátil, que fazia com que uma linha de boulder saísse de B3 para B1 em poucos anos, e de difícil assimilação, acabou não sendo adotada largamente.

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Mas no livro de John Gill, houve ainda uma proposta de implementação de outra graduação: “E-System”. Este sistema era baseado no número de ascensões que a linha já tinha sido realizada. Portanto, pelo novo sistema proposto por Gill, um boulder sem ascensão seria um E0, com apenas uma ascensão E1, e assim por diante. O valor máximo deste sistema seria um E10. Ou seja, com este sistema, seria possível um boulder V1 e V5 nos dias de hoje, terem a mesma dificuldade pelo sistema E.

Por ser um pouco complicada, a graduação que começou a ser adotada em todo o mundo, incluindo nos EUA, foi a francesa. O grande criador da escala francesa de boulder foi Michel Libert’s L’Abbatoir, que nos anos 1960 implementou como parâmetro de avaliação o 7A. Um detalhe pouco visto por praticantes de boulder e escalada esportiva é que a escala proposta por L’Abbatoir é “diferente” da francesa.

Quando se escreve para boulder, a letra da graduação é colocada em maiúsculo, para se distinguir da escalada esportiva.

V de verme

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John “Vermin” Sherman o inventor da escala V | Foto: https://roadslesstraveled.us

Como dito acima, a graduação de dificuldade implementada por John “Vermin” Sherman. A nomenclatura estreou no guia de escaladas de Hueco Tanks (“Hueco Tanks Climbing and Bouldering Guide“) foi publicado em 1991. Mas a idéia toda do grau “V”, tem muito a agradecer ao editor George Meyers da Chockstone Press, que quando recebeu os manuscritos de Sherman em 1989.

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Os manuscritos de Vermin entregues a Meyers, continham aproximadamente 900 linhas de boulder sem sequer uma graduação assinalada. O editor se recusou a publicar os croquis caso eles não tivessem ao menos uma graduação indicada. Na interpretação de George não havia sentido publicar um guia de escaladas, sem que cada linha publicada não tivesse uma graduação para que o leitor soubesse a dificuldade.

Desta maneira Vermin voltou a Hueco Tanks e graduou tudo a partir de consultas a escaladores que mais frequentavam o local, utilizando uma escala que batizou de “V” (uma homenagem a si mesmo, que tinha o apelido de Vermin). A escala adotada pelo escalador, também era uma maneira de fazer piada com os “xerifões” da escalada americana. Obviamente que Gill, considerado o papa da prática de boulder, não gostou nada da brincadeira da “nova” graduação e torceu o nariz para a nova graduação.

Mas nem tudo era claro no início. A graduação colocada, por muitos escaladores, era apenas uma forma de copiar a graduação “E” de Gill. Vermin então achava que era muito confusa e muito volátil como a B. A partir disso, saiu fazendo uma pesquisa a cada escalador que frequentava o local e fez uma espécie de benchmark, considerando uma linha V5 como parâmetro e foi acrescentando e retirando números nesta graduação base de acordo com cada conjunto de relatos.

Assim que publicado o guia, o sucesso da graduação foi quase instantâneo. Assim, a partir de 1991, os EUA tinham adotado uma nova graduação de escalada em boulder. Na América inteira, Sul, Central e do Norte, a graduação “V” para boulder é o padrão adotado.

Na Europa a graduação L’Abbatoir, também conhecida como Fountainbleau, é a utilizada.

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