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Resposta Histórica do Vasco completa 99 anos: entenda por que o documento é marco contra a desigualdade

Em 7 de abril de 1924, o Cruz-Maltino se recusou a excluir 12 jogadores da classe operária, negros e analfabetos 

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Há 99 anos o Vasco marcou um de seus gols mais bonitos, ao lutar contra o racismo e o preconceito social. O fato ficou conhecido como a "Resposta Histórica", que é considerado um dos títulos mais importantes dos 124 anos do clube, que se recusou a excluir 12 jogadores do time para se filiar na Associação Metropolitana de Esportes Athleticos (AMEA), em 7 de abril de 1924.

A criação da nova entidade tem como motivação o próprio Vasco, que em 1923 conquistou o seu primeiro título estadual, justamente no ano de estreia na principal divisão do futebol carioca. O Cruz-Maltino contava em seu elenco com jogadores negros, operários e analfabetos, diferentemente dos clubes fundadores da AMEA: América, Bangu, Botafogo, Flamengo e Fluminense.

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O Vasco foi convidado a se filiar, mas para isso teria que excluir 12 jogadores, sendo que sete eram do time titular: Arthur, Bolão, Cecy, Leitão, Negrito, Nicolino e Russinho, que defenderia o Brasil na Copa de Mundo de 1930. O argumento utilizado pelos clubes da AMEA foi de que os atletas "estariam em desacordo com os padrões morais necessários para a prática do futebol". O clube respondeu através de um ofício assinado pelo presidente José Augusto Prestes. O resto é história.

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- A Resposta Histórica é um "não" contra o racismo, o preconceito social e o antilusitanismo. Eles buscaram perseguir esses jogadores para enfraquecer o Vasco, impedindo que o Vasco ou qualquer outro clube, faça o que o Vasco fez. Ou seja, colocar negro, branco pobre e analfabeto para ser campeão - explicou o historiador do clube, Walmer Peres.

Vasco Resposta Histórica
Vasco Resposta Histórica Vasco Resposta Histórica

Na imagem da esquerda para a direita: Arthur, Bolão, Cecy, Leitão. Na parte de baixo, Negrito, Nicolino e Russinho (Acervo/Vasco)

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O Vasco permaneceu na Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) e foi campeão carioca de 1924. No ano seguinte o Cruz-Maltino recebeu um novo convite para se filiar à AMEA, sem ter que excluir jogadores. Walmer Peres explicou que os motivos que fizeram a entidade voltar atrás em relação ao ano anterior.

- Em 1925 o Vasco recebeu um novo convite para se filiar à AMEA. Não por arrependimento, mas sim porque o Vasco era o time que mais levava torcedores para as arquibancadas. O Vasco dava lucro. Era lucrativo jogar contra o Vasco, ter o Vasco do lado. Então o convite é feito por causa de uma discrepância grande entre a receita de 1923, com o Vasco, e a de 1924, sem o Vasco.

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A Resposta Histórica abriu caminho para o Vasco se consolidar como um dos grandes do futebol carioca e motivou a construção de São Januário, que foi construído em 21 de abril de 1927. Para Walmer os dois fatos estão interligados na luta contra a desigualdade.

- Naquele contexto, antes mesmo da Resposta Histórica, o Vasco vai buscar se organizar visando a construção de um estádio para ser reconhecido como um grande no futebol. São Januário, assim como a Resposta Histórica, materializa a luta do Vasco contra o racismo, o preconceito social e o antilusitanismo - completou.

resposta histórica
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A Resposta Histórica está exposta no Espaço Experiência, em São Januário (Divulgação/Vasco)

LEIA A RESPOSTA HISTÓRICA COM A GRAFIA DA ÉPOCA

"Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.

Officio No 261

Exmo. Snr. Dr. Arnaldo Guinle,

M. D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Athleticos.

As resoluções divulgadas hoje pela Imprensa, tomadas em reunião de hontem pelos altos poderes da Associação a que V. Exa. tão dignamente preside, collocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada, nem pelas defficiencias do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa séde, nem pela condição modesta de grande numero dos nossos associados.

Os previlegios concedidos aos cinco clubs fundadores da A.M.E.A., e a forma porque será exercido o direito de discussão a voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.

Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu por unanimidade a Directoria do C.R. Vasco da Gama não a dever acceitar, por não se conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consocios, investigação levada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.

Estamos certos que V. Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um acto pouco digno da nossa parte, sacrificar ao desejo de fazer parte da A.M.E.A., alguns dos que luctaram para que tivessemos entre outras victorias, a do Campeonato de Foot-Ball da Cidade do Rio de Janeiro de 1923.

São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias.

Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Exa. que desistimos de fazer parte da A.M.E.A.

Queira V. Exa. acceitar os protestos da maior consideração estima de quem tem a honra de subscrever de V. Exa. Atto Vnr., Obrigado.

(a) José Augusto Prestes

Presidente"

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