A Paquetá do Paquetá: o que se fala na ilha sobre caso de apostas
LANCE! ouviu amigos do jogador, conhecidos e entendeu como é a vida na região
Lance|Do R7

Uma ilha na Baía de Guanabara com cerca de quatro mil residentes fixos tornou-se um dos lugares mais conhecidos devido ao futebol. A Ilha de Paquetá, lugar onde foi criado o craque Lucas Paquetá, do West Ham (ING) e da Seleção Brasileira, virou centro das atenções em meio ao processo que pode afastar o jogador das atividades por envolvimento em manipulação de apostas esportivas.
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Enquanto tramita na Inglaterra a ação movida pela Federação Inglesa de Futebol (FA) por suspeitas de manipulação em jogos entre novembro de 2022 e agosto de 2023, a reportagem do LANCE! foi até a ilha para entender qual a visão dos moradores sobre o caso. Lucas foi criado por lá e chegou ao Flamengo quando tinha 8 anos.
Da estação das barcas, passando pelas praças, Praia da Moreninha, restaurantes e até o tradicional Municipal Futebol Clube, o sentimento local é nítido: todos amam Lucas Paquetá não só pelo talento e por levar o nome da ilha, como também pela ótima criação e bom comportamento. Nem todos, no entanto, "colocam a mão no fogo" sobre o caso.
Um homem que se identificou como Fred, amigo de Marcelo, pai do jogador revelado pelo Flamengo e que viu a criação de perto, exaltou sua infância e os primeiros passos. Sobre o processo, por sua vez, optou pelo questionamento e foi um contraponto em relação ao consenso dos moradores.
— Aqui a gente gosta muito dele porque ele era muito bom desde novo, um garoto incrível, gente boa, bem educado. Levou nosso nome, o nome da Ilha. Teve esse negócio aí da Justiça, que é até difícil falar. Muita gente duvida, mas o ser humano é complicado. Ainda mais quando envolve dinheiro, essas coisas… Quanto mais tem, mais pode querer. Isso que é complicado. Mas aqui nós gostamos muito do Lucas mesmo — disse.
Ex-companheiro de Lucas Paquetá: "um mal-entendido"
A reportagem do LANCE! visitou a Ilha de Paquetá em três dias para entender também o comportamento dos habitantes quando o assunto é levantado. Há quem evite comentar sobre, os que entendem como "complicado" e a maioria, que exalta o jogador e duvida do caso. Marcos, funcionário do principal restaurante da ilha, vê que tudo não passa de um mal-entendido. Ele foi companheiro de Lucas no Municipal Futebol Clube.
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— Um mal-entendido. Eu tenho quase certeza. Partir dele isso não partiu. Conhecemos a família dele, todo mundo certinho demais. Mas isso foi uma coincidência só, foram 60 apostadores, não sabemos se todo mundo morava aqui. E assim, ele sempre foi de tomar cartão, um cartão aqui, outro ali, porque era de combate em campo. Certeza mesmo que isso não passou de um mal-entendido. Não é porque é meu amigo, se fosse verdade eu falaria também — afirmou Marcos.
— Vai ser muito difícil de alguém falar algo contrário sobre ele. É muito certo que não teve transação da parte dele. Não partiu não. A gente conhece bem o Lucas, é um menino bom demais. Mas é o que dá para falar.
Os 'parças' de Lucas Paquetá
A cerca de 17 quilômetros do Centro do Rio e em uma viagem de aproximadamente uma hora de barco, há poucas opções de entretenimento na Ilha de Paquetá. O bairro carioca recebe turistas diariamente, mas com maior concentração nos fins de semana. Às sextas, sábados e domingos, o fluxo é intenso.
Ao chegar, é fácil você identificar quem é da região e conhece Lucas Paquetá, ainda mais pela concentração na frente da estação das barcas. A maioria dos homens da idade do jogador, que foram criados com ele na ilha, é dona de comércio local ou trabalham com os eco táxis, triciclos ou carrinhos elétricos alugados por moradores e turistas para transporte ou passeio (carros são proibidos de circular na ilha). Os vínculos vão desde a escola, peladas na Praia da Moreninha e escolinha de futebol no Municipal.
Além de Marcos, citado acima na reportagem, que é funcionário do restaurante Zeca's, a equipe do LANCE! também conheceu a loja de venda de açaí do Kiko, outro que viu Paquetá crescer muito após a explosão do meio-campista, ainda nos tempos de jogador do Flamengo. Ele é um dos casos de morador do bairro de Paquetá que busca o sustento onde nasceu e foi criado.
Rodas de conversa até o fechamento do comércio, por volta das 20h, karaokê aos fins de semana no Bibi Lanches — local que é ponto de encontro do Flaquetá, consulado rubro-negro na Ilha de Paquetá — e eventos aos sábados resumem uma vida de muita tranquilidade por ali. O futebol é muito falado, claro, também devido a Lucas. A reportagem ouviu de Zeca, dono do restaurante Zeca's, que o processo a que o jogador brasileiro responde é um tabu desde o início das investigações.
Os apaixonados por futebol aguardam ansiosamente pelo resultado do julgamento, que foi encerrado na primeira semana de maio e deve ser divulgado na primeira quinzena de junho. Paquetá responde por conduta irregular e é acusado de ter forçado cartões amarelos em jogos contra Leicester, Aston Villa, Leeds United e Bournemouth.