"E lá vamos nós, do jeito que sonhamos". Assim que soube de sua convocação ao lado de Vinicius Junior para os amistosos da seleção brasileira, contra Panamá e República Checa, no fim deste mês, Lucas Paquetá fez um post em suas redes sociais para celebrar o momento especial ao lado do amigo. O feito também marcava a rápida consolidação das duas "crias da Gávea" no futebol europeu, que deixaram para trás aquela história de período e adaptação em outro país e a pressão de suas transferências milionárias para brilhar em duas das principais equipes do mundo: Milan e Real Madrid. Uma lesão no tornozelo sofrida por Vinicius Junior, no entanto, adiou um pouco a volta da parceria.
Afastado dos gramados e ainda sem previsão de volta, a joia do Real Madrid já faz até planos para ser o melhor do mundo dentro de sete anos, período que não terá mais pela frente a dupla Cristiano Ronaldo (34 anos) e Messi (31 anos). A projeção até parece ambiciosa, mas não impossível se o jovem mantiver a evolução meteórica que teve na carreira até o momento, com 18 anos.
"Com 25, 26 anos (creio que seja possível). Já estou jogando com os melhores com 18 anos. Creio que com 25, 26 estarei fazendo as coisas muito bem e creio que, jogando aqui com jogadores que me ajudam sempre dentro de campo, posso ganhar, sim, a Bola de Ouro", afirmou em entrevista à rádio Cadena Ser.
Os passos de Vinicius Junior no futebol são um caso a parte. Com apenas 16 anos foi contratado pelo Real Madrid pelo valor de 45 milhões de euros (cerca de R$ 164 milhões na cotação da época) e teve que ficar no futebol brasileiro para alcançar a maioridade. O desembarque na Espanha veio apenas em julho de 2018, cercado de muita incerteza.
Existia dúvida se a revelação faria parte do elenco principal ou seria emprestada para ganhar experiência. A decisão final do time madrilenho foi deixá-lo na equipe B e dar oportunidades em treinos para acompanhar de perto seu desenvolvimento.
"Desde que chegou, ele vem sendo ajudado por seus companheiros. Ele tem talento, trabalha e gosta de aprender. E tento sempre dar conselhos a ele, que é um garoto muito receptivo", disse o técnico Santiago Solari.
O argentino, aliás, tem papel fundamental no sucesso de Vinicius Junior. Ao contrário de Julen Lopetegui, que deixava o brasileiro de fora dos jogos, assim que assumiu como treinador principal, Solari deu chances logo de cara para o brasileiro, que era seu comandado na equipe B.
Com mais tempo em campo, vieram as boas atuações, a titularidade e até mesmo o protagonismo. Antes da lesão, Vinicius Junior estava deixando, por exemplo, o galês Gareth Bale e o badalado espanhol Asensio no banco de reservas.
Há mais de 20 anos, Sávio passou por um processo parecido ao das duas jovens promessas do futebol brasileiro. Após surgir como uma dos maiores destaques de sua geração, trocou o Flamengo pelo Real Madrid. Ao Estado, o hoje comentarista apontou a adaptação fora de campo como um dos segredos para Vinicius trilhar uma longa carreira na Europa.
"Acho que ele tem que se adaptar cada vez mais ao 'estilo Real Madrid' e à cultura da Espanha. Quanto mais ele aprende fora de campo vai refletir dentro de campo. Esse foi um processo meu também. Eu sempre tentava absorver o máximo porque tinha certeza que iria me ajudar. Assim que eu cheguei, prontamente, entrei em um intensivo de [aulas de] espanhol", afirma o três vezes campeão da Liga dos Campeões nos cinco anos que defendeu o Real e com passagens também por Real Zaragoza, Real Sociedad, Levante, Bordeaux e Anorthosis Famagusta.