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Torcedores se enfrentam no boxe para diminuir violência no futebol

Evento, de caráter social, ocorreu entre organizadas na Colômbia, que, entre 2008 e 2020, teve 149 mortos em brigas

Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7

Lutadores são torcedores de organizadas
Lutadores são torcedores de organizadas Lutadores são torcedores de organizadas

"Fui, como todos de meu grupo, um torcedor violento, com consumo de drogas e brigas. Brigávamos com armas, vi muitos amigos morrerem e isso sempre foi algo que me machucava. Um dia, pensei que não poderia continuar dessa maneira, e busquei alternativas. Estamos trabalhando para diminuir a violência no futebol, para acabar com ela".

O depoimento de um dos líderes da torcida organizada Comandos Azules de Millonarios, da Colômbia, José Glasses, revela que a violência nas torcidas organizadas é um problema na América do Sul, com muitas causas em comum, como a falta de perspectivas dos jovens e a própria violência da sociedade, e algumas características específicas de cada país.

Na busca de soluções, duas torcidas rivais colombianas passaram a se organizar para um outro tipo de luta: no ringue. Praticar boxe foi a forma encontrada pelos líderes, para fazerem seus integrantes canalizarem a agressividade de forma regulamentada, com ética e espírito esportivo.

Torcedores se preparam para evento no último sábado (17)
Torcedores se preparam para evento no último sábado (17) Torcedores se preparam para evento no último sábado (17)

Por vários anos, as torcidas realizavam treinos e combates mas, desde o último sábado (17), a iniciativa ganhou visibilidade, com o apoio do poder público local. O evento, denominado BoxVida, ocorreu em Bogotá. Jovens barra bravas (o nome em espanhol de torcedores violentos) das torcidas La Guardia Albirroja Sur de Santa Fé e os Comandos Azules de Millonarios, realizaram combates nos quais os participantes lutaram uns contra os outros.

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"Para mim isso tem uma importância grande, que é encontrar uma alternativa de extravasar e não entrar em brigas. Vamos trabalhar as duas torcidas, não nos relacionamos como amigos, mas para organizar, e acabar com a violência e resgatar a cultura futebolística. Há mais ou menos oito anos anos tínhamos uma escola em diferentes pontos da cidade onde os jovens treinavam. Marcávamos lutas como forma de gerar cultura futebolística, e essas ações resultaram no último evento deste sábado", observa Glasses.

Houve também combate no feminino
Houve também combate no feminino Houve também combate no feminino

A iniciativa foi organizada pelo Idipron (Instituto Distrital para la Protección de la Niñez y la Juventud), da cidade de Bogotá, e tem a função de transformação social pela paz, convivência e projetos de vida de crianças e jovens. Foi articulada com projetos que caminhavam em separado, como o “Caminhando Descontraído” (processo nos bairros) e Goles en Paz 2.0 (programa oficial da Secretaria de Governo).

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"Trata-se de uma política pública, uma maneira de buscar um processo de convivência por meio do Esporte, dentro de um projeto mais amplo, com mesas de diálogo e açõs para combate à violência. Esta é uma atividade esportiva com enfoque comunitário, não interessa tanto o alto rendimento, mas sim utilizar o esporte para transformação social e possibilidade de desenvolvimento. Trabalhamos com pessoas vulneráveis por meio do esporte", observa Alejandro Villanueva Bustos, da Idipron.

"Em vez de facas e revólveres, os torcedores usam luvas para lutar com seus rivais, dentro de regras, disciplina e respeito ao adversário", ressalta Bustos.

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Questão social

Na Colômbia, as brigas carregam uma questão social muitas vezes ligada, além da falta de perspectivas dos jovens, ao narcotráfico. Armas brancas e armas de fogo fazem parte da rotina das organizadas locais. Mesmo na pandemia, as brigas prosseguiram. Entre 2008 e 2020 foram 149 mortos em confrontos das principais equipes dos grandes centros do país: Bogotá, Medellín e Cali.

Após os acordo de paz entre governo e as guerrilhas do narcotráfico, em 2016, líderes das organizadas se mobilizaram mais para diminuir a violência entre seus associados.

"Os acordos de paz ajudaram a criar propostas de desenvolvimento do esporte social e comunitário, em setores rurais e nos bairros mais populares com cinturões de miséria. O que fizemos é tentar alcançar os setores mais vulneráveis, de onde os narcotraficantes e grupos criminosos vinham captando torcedores barra bravas de distintas equipes para fazer parte dos grupos, aumentando a violência", conta Bustos.

As lutas de boxe ocorreram em três rounds de três minutos cada, em cinco confrontos de homens e um de mulheres. Mas, mesmo com esse número restrito de participantes, o evento atraiu a iniciativa de centenas de torcedores que, além de organizarem as lutas, as assistiram sem entrar em choque, contribuindo para um clima de paz.

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