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BRASILEIRO 2022

Sem peneiras e sem base, pandemia provoca 'vácuo' no futebol

Futuras gerações podem ficar comprometidas por causa da falta de treinos e da ausência de métodos para selecionar talentos com a bola nos pés

Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7

Peneiras foram interrompidas neste momento
Peneiras foram interrompidas neste momento

Não é só o futebol profissional que está sentindo a parada por causa da pandemia. Muitos campeonatos até já voltaram e os jogadores vão retomando o ritmo pouco a pouco.

Leia mais - Futebol: a realidade longe do sonho

A maior parte das categorias de base, no entanto, continua parada. E, mais até do que o atleta já profissionalizado, o iniciante necessita muito da preparação. Não só para manter e aprimorar a forma física e técnica. Mas para formar sua base.

As peneiras de clubes como Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo estão paradas. Bem ou mal, eram uma maneira de encontrar meninos para desenvolverem seus talentos em prol do futebol.


Agora, com a paralisação, um menino de 11 anos, por exemplo, está perdendo a chance de ingressar no sub-12. E quando for para o sub-13, poderá ter perdido uma fase importante em sua formação. E assim por diante. Há o risco de ficar um vácuo na seleção de jogadores, marcado pelo período sem atividades em campo.

Isso pode, inclusive, afetar o nível técnico do futebol brasileiro (claro que o fenômeno é mundial) no futuro, conforme afirma Raphael Aquino, professor de futebol do Colégio Palmares e especialista em categorias de base.


"Essa defasagem pode aparecer sim nas próximas gerações, principalmente na falta de jogadores inteligentes e habilidosos. Se até antes da pandemia havia certa escassez de jogadores talentosos, podemos ficar ainda mais carentes nesse sentido, com ainda mais jogadores taticamente polivalentes ou mais eficientes, mas menos jogadores que desequilibram pelo talento, justamente por causa desse vácuo na formação", observa.

A evolução da ciência tem contribuído para, pelos menos nos profissionais, se compensar o tempo perdido, com tipos específicos de treinos. Para os mais jovens, que estão ainda em período de autoconhecimento, esses métodos ainda não se encaixam. A vivência, neste sentido, é o mais importante. E é justamente algo que eles estão perdendo na atual fase, conforme ressalta Aquino.


"Mesmo com recursos na preparação física, que poderiam compensar posteriormente, não tenho dúvida que a paralisação vai ser prejudicial, por se tratar de um esporte dinâmico, coletivo e que depende totalmente de ações voluntárias e involuntárias para tomadas de decisões. Teremos de encontrar um meio de compensar isso", explica.

Volta das escolinhas

A partir de setembro, as categorias sub-17 e sub-20 já têm retorno previsto. Muitas escolinhas já retornaram também, seguindo protocolos. É o caso da escolinha do Palmeiras, que retomou atividades com os meninos. Mas as categorias de base, abaixo do sub-17, ainda não.

Para Mário Augusto dos Santos, coordenador de uma das escolas do Palmeiras, na unidade Butantan, a volta das escolinhas foi necessária, mas seguindo protocolos.

"A forma de lidar com essa parada vai depender muito de cada clube. É preciso neste momento maior ter cuidado com a saúde. E os clubes precisam saber como ajudar cada um de seus atletas jovens, promessas do futuro, principalmente na área psicológica", ressalta.

A preocupação dele não é com os mais novos, que ainda podem se recuperar, segundo sua visão.

Para ele, o mais preocupante é a parada afetar o sonho dos jovens que estão perto de se profissionalizar, nascidos até 2003. Essa é uma ameaça real, já que, com a paralisação, a ascensão de categoria fica adiada. Quem tiver 19 ou 20 anos e estiver na iminência de subir corre o risco de perder a chance e nunca mais conseguir recuperá-la.

"Isso é muito perigoso para essa molecada, mentalmente. Imagina você construir uma trajetória, alimentando um sonho, inclusive da família, ter dedicado a juventude para isso e, de repente, a chance desaparece por causa de uma pandemia", destaca.

Ele conclama as federações e a própria CBF a ajudarem a criar alternativas.

"Os clubes precisam olhar com atenção para essa situação. E as entidades também, a CBF, quem sabe aumentando o período nas categorias de base, criando uma categoria sub-21, por exemplo, sem deixar de dar todo o apoio psicológico", destaca.

Em busca de alternativas

Também especialista em categorias de base, o ex-atleta Mário Kafka se tornou professor de futebol e orienta jovens a iniciarem na profissão. Segundo ele, o maior prejuízo será na parte física. Ele considera que, na parte técnica, a versatilidade do brasileiro irá ajudar a compensar a parada. Mas, se isso demorar ainda mais, a história pode mudar.

São justamente as peneiras, onde surgem vários jogadores promissores, as que mais trazem risco de contágio. Muitos meninos vêm das mais distantes regiões, dificultando o controle e o monitoramento. Neste momento, portanto, Kafka não vê outra alternativa.

"Por questão de segurança, o mais prudente é continuar adiando as peneiras, para evitar o risco de contágio".

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Sem as peneiras, como os jovens jogadores serão selecionados? Essa é uma pergunta para a qual ainda não há uma resposta ideal, segundo o professor Mário Augusto, do Palmeiras.

Ele costuma passar muitas manhãs lá no campão do Vertente, acompanhando os meninos correndo atrás de um sonho, observados pelo sr. Jorge, famoso olheiro do Palmeiras. Agora, o futuro é uma incógnita ainda maior.

"Não temos ainda essa noção. Estamos focados agora na saúde das crianças. Vamos aguardar para encontrar novos modelos de trabalho, estamos estudando. Tudo é muito novo, até para nós do futebol, que também refletimos o que ocorre na sociedade", completa.

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