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BRASILEIRO 2022

Se diretor pagou propina, foi em nome da Globo, diz jornalista

Luiz Carlos Azenha, autor de O Lado Sujo do Futebol, vê denúncia previsível

Futebol|Talyta Vespa, do R7

Marcelo Campos Pinto, ex-diretor da Globo, estaria envolvido em esquema sujo
Marcelo Campos Pinto, ex-diretor da Globo, estaria envolvido em esquema sujo

O depoimento do diretor executivo da empresa de marketing esportivo Torneos y Competencias, Alejandro Burzaco, deu novos rumos à investigação dos casos de corrupção na CBF. Na noite de terça-feira (14), Burzaco afirmou que fez um acordo de propinas referentes à transmissão da Copa Libertadores e da Copa Sul-Americana com o ex-executivo da Rede Globo, Marcelo Campos Pinto, José Maria Marin e o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. O encontro para negociar o valor de propina teria acontecido em um restaurante em Buenos Aires.

O executivo, que foi demitido da emissora em 2015, ainda faz parte dos bastidores do futebol, como relevou ao R7 Luiz Carlos Azenha, repórter especial da Record TV e escritor do livro O Lado Sujo do Futebol, de 2014, escrito com Leandro Cipoloni, Amaury Ribeiro Jr. e Tony Chastinet. Azenha foi um dos autores da série de reportagens exibida pela Record TV, entre 2011 e 2012, que provocou a queda de Ricardo Teixeira da CBF.

“Não me surpreendi com a denúncia, pelo contrário. Eu já esperava que a Rede Globo tivesse relação com a corrupção na CBF. Se a Fifa e os cartolas foram corrompidos, o mais óbvio é que as grandes emissoras estivessem por trás disso. Há uma relação promíscua entre emissoras de TV, como a Globo, e cartolas e isso não é novidade. O que faltava era revelar esses detalhes”, afirmou Azenha.

Autor do livro O Lado Sujo do Futebol, Azenha não se surpreendeu com denúncias
Autor do livro O Lado Sujo do Futebol, Azenha não se surpreendeu com denúncias

Segundo o jornalista, as probabilidades de que Marcelo Campos Pinto tenha efetuado os pagamentos por conta própria são quase nulas: “Ele era grande na Globo, dirigia a parte esportiva da emissora. Se fez o pagamento, é claro que faria em nome da Globo, jamais colocaria o nome dele frente ao esquema”, explicou. “E as minhas teorias podem ser facilmente comprovadas. Basta uma investigação como a Polícia Federal fez no COB (Comitê Olímpico Brasileiro), que prendeu Carlos Arthur Nuzman. É preciso ir ao restaurante, investigar se esse jantar realmente aconteceu, checar as contas e encontrar provas”, disse.


No livro O Lado Sujo do Futebol, o jornalista, ao lado dos outros autores, já trazia questionamentos sobre o poder da CBF a ponto de interferir nos rumos da justiça brasileira. Três anos depois, a sensação de impunidade ainda é grande: “A CBF já bloqueou investigações e usou uma série de estratégias para aumentar seu poder político. Na prática, tudo isso significa que a entidade nunca foi investigada dentro do Brasil — todas as investigações envolvendo dirigentes começaram no exterior. A CPI do Futebol foi a única iniciativa, mas infelizmente não chegou a lugar algum”, concluiu Azenha.

Livro revela bastidores do futebol
Livro revela bastidores do futebol

Para o jornalista, o que falta no Brasil atualmente é uma investigação “séria”, o que já está acontecendo em outros países, e que não falta estrutura para que isso se concretizasse. “Essa investigação não pode mais esperar. Ricardo Teixeira faz parte de um grupo pequeno que manda no futebol brasileiro. E esse mesmo grupo está no poder há 40 anos. Eles não têm mais como escapar, o mundo inteiro está de olho. Teixeira é procurado na Espanha, nos Estados Unidos e em outros países. O Brasil só não se mexe porque, para a CBF, esse tipo de investigação não é interessante”, afirmou o jornalista.


A questão que envolve a CBF, para Azenha, é um círculo viciado: o dinheiro que molha a mão dos cartolas abastece a instituição, e esse ciclo não será quebrado por iniciativa da própria CBF. Isso porque o esquema ilegal é muito maior do que a população imagina. “A CBF é uma empresa superpoderosa que tem capacidade política para mover uma investigação. Contudo, ela tem muito dinheiro vindo dos atuais investigados. Há uma quadrilha por trás da entidade: Ricardo Teixeira, J. Hawilla, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero. São todos procurados, mas a quadrilha é formal, bem estruturada. Só que está balançando: J. Hawilla pagou uma multa de mais de R$ 100 milhões aos Estados Unidos, Teixeira está recluso no Rio de Janeiro e Del Nero não pode sair do Brasil. A coisa apertou”, contou.

O jornalista comparou uma possível solução à operação da Lava Jato que culminou na prisão do ex-presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), Carlos Arthur Nuzman. “Acredito que a solução, hoje, seria fazer uma investigação da Polícia Federal como a que resultou na prisão de Nuzman. Ele era presidente do COB e montou um esquema para se manter no poder por 30 anos. É assim que funciona a hegemonia de Del Nero. Ele é apenas o topo de uma pirâmide corrompida que envolve, ainda, os presidentes das confederações. É uma corja formada por dirigentes e federações estaduais, e no topo está Del Nero. Essa cartolagem precisa ser investigada e punida”, afirmou Azenha.


Monopólio da Rede Globo

O monopólio que a Rede Globo exerce sobre o futebol tem grande efeito no esquema de corrupção que envolve a CBF, segundo o jornalista. Apesar de já ter havido tentativa de democratizar o esquema de transmissão, a Globo continuou com todos os direitos.

“Para mudar essa realidade, é preciso negociar os direitos de transmissão de forma transparente, com um leilão que permita que diversas emissoras participem. É possível democratizar o acesso, vender alguns jogos para uma emissora, outros, para outra, de acordo com a proposta de cada uma. O monopólio da Globo foi financiado por dinheiro de corrupção. Na última aparição pública de Marcelo Campos Pinto, ele apareceu emocionado elogiando, em nome da Globo, o trabalho de José Maria Marin e Marco Polo Del Nero”, concluiu.

Em relação a possíveis soluções para o problema da corrupção no Brasil, Azenha definiu algumas prioridades: “A primeira coisa a ser feita para acabar com a corrupção é um desmanche da cartolagem, começando por uma limitação de mandatos. Impedir que cartolas se mantenham no poder é importantíssimo. Depois, é preciso dar autonomia aos clubes. São eles que precisam ser organizadores da Liga Brasileira de Futebol, como é em todo o mundo. O montante que a Globo paga para o Corinthians, por exemplo, é absurdamente maior do que o dinheiro pago ao Bahia para a transmissão dos jogos. Clubes grandes saem com vantagem imensa, enquanto os menores se arrastam”, explicou.

A não-democratização das transmissões prejudicam, inclusive, os clubes, de acordo com o jornalista. “Isso faz com que o campeonato não seja competitivo, sempre com os mesmos times no topo. E isso é ruim inclusive para os clubes, já que para eles interessa ter um campeonato acirrado. Sem dinheiro para contratar jogadores de qualidade, os times menores não têm condições de competir em um campeonato”, disse o jornalista.

“Em um mundo ideal, cada jogo ficaria com uma emissora específica, de forma que todos os clubes apareceriam bastante na TV, democratizando o ganho de cada um. Com essa medida, não teria concentração de poder. E, hoje, no Brasil, é o que existe: quem manda no futebol é o eixo Cartolas-Globo. É um conchavo entre meia-dúzia”, concluiu.

Outro lado

Em nota divulgada à imprensa, a CBF negou envolvimento em esquemas de corrupção:

"Com referência à citação feita à sua pessoa pelo delator premiado Alejandro Buzarco na Corte de Justiça do Brooklin, New York, EUA, o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, vem a público esclarecer que nega, com indignação, que tivesse conhecimento de qualquer esquema de corrupção supostamente existente no âmbito das entidades do futebol a que se referiu. As investigações levadas a efeito naquele país não apontaram qualquer indício de recebimento de vantagens econômicas ou de qualquer outra natureza por parte do atual presidente da CBF. Igualmente, o que ali ficou apurado foi que os contratos sob suspeita não foram por ele assinados nem correspondem ao período de sua gestão na presidência da CBF. Esclarece, ainda, que jamais foi membro do Comitê Executivo da Conmebol, mostrando-se também falsa essa informação. Por fim, reafirma que nunca participou, direta ou indiretamente, de qualquer irregularidade ao longo de todas atividades de representação que exerce ou tenha exercido."

A Globo disse em nota enviada aoR7que “não é parte nos processos que correm na Justiça americana”.

Confira a nota completa:

"Sobre depoimento ocorrido em Nova York, no julgamento do caso Fifa pela Justiça dos Estados Unidos, o Grupo Globo afirma veementemente que não pratica nem tolera qualquer pagamento de propina. Esclarece que após mais de dois anos de investigação não é parte nos processos que correm na Justiça americana. Em suas amplas investigações internas, apurou que jamais realizou pagamentos que não os previstos nos contratos. Por outro lado, o Grupo Globo se colocará plenamente à disposição das autoridades americanas para que tudo seja esclarecido. Para a Globo, isso é uma questão de honra. Não seria diferente, mas é fundamental garantir aos leitores, ouvintes e espectadores do Grupo Globo que o noticiário a respeito será divulgado com a transparência que o jornalismo exige."

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