Ricardo Oliveira: 'Foi através da várzea que cheguei ao profissional'
Vencedor na Europa e no Brasil, experiente centroavante relembra incertezas durante juventude e destaca valor do futebol amador para esporte no país
Futebol|Cesar Sacheto e Guilherme Padin, do R7
Se hoje é um dos grandes matadores do futebol nacional na atualidade, além de ser o vice-artilheiro do Brasileirão 2018, com nove gols, há duas décadas Ricardo Oliveira vivia uma incerteza em sua carreira: insistir no sonho de se tornar jogador profissional ou deixá-lo para trabalhar em outras áreas.
“A várzea foi muito importante para mim. Foi através dela que eu consegui chegar ao [futebol] profissional”, conta o craque em entrevista ao R7.
Veja também: Celeiro, várzea é lembrada com carinho por craques da bola
O centroavante do Atlético-MG explica que, aos 19 anos, atuava no futebol amador.
Naquela época, ele não tinha perspectivas de migrar para o âmbito profissional do esporte.
A várzea é de uma importância gigantesca para o futebol brasileiro
Até então, parte considerável da bagagem esportiva do garoto vinha das passagens por duas equipes de várzea: o 7 de setembro, da Vila Maria (zona leste paulistana), e Estrela Vermelha, da Vila Nivi (zona norte).
Início da carreira e ascensão na Europa
O atacante, que futuramente veio a jogar em tradicionais clubes europeus, já tinha passado pelas categorias de base do Corinthians e de outros clubes de menor expressão, mas pensava que a grande chance em um elenco profissional pudesse não chegar.
Veja também: Campo de Marte preserva ‘oásis’ do futebol de várzea em São Paulo
“Eu estava jogando no Estrela Vermelha quando o Carlão (funcionário da Portuguesa) me viu jogando e me falou para fazer um teste na Lusa”, conta Ricardo. “Ele (Carlão) arrumou tudo para mim. Eu cheguei, joguei bem e pude começar uma carreira de sucesso”, diz o matador, que, em 1999, finalmente chegou sua chance nos profissionais da Portuguesa.
Dali em diante, o jovem nascido em São Paulo ficou dois anos na Lusa, foi para o Santos e, rapidamente, se transferiu para seu primeiro time europeu: o Valencia.
Aos 19%2C você continua tentando ou para e vai trabalhar. Eu estava nessa dúvida. Foi difícil
Em sua primeira temporada na Europa, jogou 21 partidas da liga, marcou oito gols e ajudou a equipe a conquistar o sexto e último Campeonato Espanhol.
De lá foi para o Real Bétis e, em 2005, viveu mais um importante momento em sua carreira. Na Copa do Rei daquele ano, o atacante fez apenas um jogo — a final. Na final, vencida por 2 a 1 pelo time de Andaluzia diante do Osasuna, ele abriu o placar e levou o time ao segundo título do clube na competição.
Ainda que mais discretas, Ricardo Oliveira ainda teria participações em outros expressivos títulos: o Brasileirão de 2006 pelo São Paulo, quando fez cinco gols em oito partidas, e a Liga dos Campeões 2006-07 pelo Milan, a qual atuou em seis jogos, mas passou em branco.
Veja também: Lazer, comércio e ações sociais: como a várzea ajuda bairros de SP
Nos anos seguintes, acumulou passagens por Al-Jazira e Al-Wasl, dos Emirados Árabes, além de São Paulo, Santos e Atlético-MG, onde joga atualmente.
As dificuldades para chegar ao futebol profissional e atingir o sucesso por clubes de tradição está sempre nas lembranças do atacante, que relata com detalhes os momentos de dúvida vividos ainda jovem.
“É um momento que você pensa que tem que tomar uma decisão importante. Ou você continua com 19 anos ou então para e vai trabalhar. Eu estava nessa ainda, nessa dúvida do que fazer”, diz o veterano atacante. “Foi um período difícil. Eu já estava há dois anos tentando conseguir alguma coisa no futebol”, relembra ele.
Pela seleção brasileira, Ricardo Oliveira poucos jogos (15) e gols (4), mas conquistou dois títulos: a Copa América de 2004 e a Copa das Confederações de 2005.
Importância da várzea para o futebol brasileiro
O vice-artilheiro do Brasileirão de 2018 acredita que, além da importância para sua própria carreira, a várzea tem um grande valor para o futebol brasileira e para a cultura do país.
Veja também: Cesar Sampaio: ‘várzea aprimora a parte técnica do atleta profissional’
“[A várzea] é de uma importância gigantesca para o futebol brasileiro, até pela nossa cultura: final de semana do brasileiro é de futebol. A várzea é fundamental nesse sentido também”, analisa o atacante.
“A gente vê cada time de várzea bem organizado, inclusive até pagando para os atletas jogarem e participarem das competições que existem. As equipes têm se organizado bastante, levado muitos torcedores nos campos onde vão jogar. Também revelam bastante (jogadores). Daí que saíram vários craques pro futebol mundial.”
É decisão! Saiba como é um dia de final no futebol de várzea em SP