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BRASILEIRO 2022

Neymar se prejudica ao ser escravo de suas próprias paixões

Ele tem protagonizado novela cujos capítulos mais recentes foram em fevereiro, desde festa de aniversário até expulsão no último domingo

Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7

Neymar tem colecionado polêmicas no PSG
Neymar tem colecionado polêmicas no PSG

Ir a um jogo do PSG, em Paris, é um programa especial. Desci com meus filhos e minha esposa na estação Porte de Saint-Cloud. Na amplitude da Route de la Reine, história, modernidade e futebol se misturavam. As luzes de Paris podiam ser percebidas na atmosfera e no céu que começava a escurecer.

Em meio ao barulho da autopista, canteiros ajardinados e uma confeitaria na praça, a arquitetura mesclava o art nouveau e o art decó. À direita, o estádio Parc des Princes emergia como um monumento moderno, claro, recheado de vermelho, branco e azul, as cores básicas do clube.

Quase grudada ao estádio, uma ampla loja do clube, com ofertas de camisas, produtos licenciados, chuteiras, mostrando um lado do marketing avançado incrustrado naquela centenária construção.

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Faltavam algumas horas para o jogo contra o Dijon. Andamos pela movimentada Route de la Reine e, entre as lojas e cafés, escolhemos um restaurante a alguns quarteirões, onde já sentavam um ou outro torcedor silencioso. No aconchegante local, atapetado e ao estilo de bistrô, dava para ver pelo vidro o movimento contínuo da cidade.

A chegada ao estádio prosseguiu em ritmo de contemplação.


Passamos pela arborizada Rue de Commandant Guilbaud (piloto celebrado por atravessar a África em 1926/27), com prédios residenciais e percebemos que o estádio é um respeitoso vizinho que não tira o ar residencial do bairro.

Entramos pela Rue Claude Farrère, que foi um famoso escritor de novelas e, já por aí, podemos ver que, como o futebol carrega a cultura de um país, na França ele está atrelado à literatura. O Parc des Princes tem sido um cenário perfeito e Neymar, um protagonista dos melhores para tal enredo.


Em diagonal ao gramado, acompanhamos com entusiasmo toda a movimentação pré-jogo. É um espetáculo à parte ver o aquecimento, a chamada empolgada do locutor, citando cada nome, para aplauso da torcida, bem ao estilo NBA. Mas havia ainda uma beleza maior no contraste entre o gramado verde, as luzes e a noite.

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Aquele jogo foi um dos primeiros capítulos desta novela que se tornou a passagem de Neymar pelo PSG. Ele fez quatro gols na vitória por 8 a 0, mas foi vaiado por não ter deixado Cavani bater um pênalti. Estávamos lá e sentimos, estupefatos, como a França é rígida e contraditória com seus ídolos e como eles exigem do astro outros valores.

Capítulos recentes

Dois anos se passaram.

E os capítulos mais recentes foram em fevereiro deste ano, desde a comemoração de aniversário de Neymar, até a reclamação por não ter jogado antes da partida contra o Dortmund, pelas oitavas da Champions. 

Dizia-se apto a voltar antes, considerando-se recuperado de contusão, contrariando a cautela dos médicos. E culminou no último fim de semana, após a divulgação de imagens de uma outra festa, com a expulsão dele do jogo contra o Bordeaux, o que acarretará, no mínimo, em suspensão de um jogo.

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Justamente no dia anterior, ele decidiu não ir ao Carnaval no Brasil para ficar concentrado e ganhar ritmo para o jogo de volta contra o Dortmund, no dia 11.

Mas, mais uma vez, como num romance francês, não controlou suas paixões e foi descontar em Adli uma falta que havia sofrido de Sabaly, recebendo o segundo amarelo nos acréscimos do jogo.

A maioria dos episódios ocorreu naquele mesmo local. O Parc des Princes. Onde o campo iluminado se tornou o palco desta novela. Bem ao estilo de Claude Farrère.

Ou de Balzac, ou de Proust , que também descrevia a Paris bucólica de carruagens e residências estilosas. E tocava com sensibilidade na vaidade humana, na presunção e nas intrigas mesquinhas.

Na era do marketing, Neymar foi chamado para agigantar o PSG.

Em grande parte, conseguiu. Mas todo o enredo que cerca sua passagem, o fato de os jogadores hoje serem celebridades, a vaidade, a frivolidade, as festas, bem poderiam ser tema de uma bela obra literária no futuro, com uma temática semelhante à do proustiano "Em busca do tempo perdido."

Hoje, no entanto, prevalecem as tensões momentâneas sobre as reflexões atemporais ou eventuais arrependimentos. E, resumindo-se à literatura já existente, a novela poderia se chamar "As ilusões perdidas", sobre a tentativa humana de controlar o incontrolável da vida. 

Mas, se o PSG for campeão da Champions, a história mudará de figura.

As divergências serão superadas pela comemoração. E a frase do título do livro de Hemingway, que hoje tanto traria discórdia entre dirigentes, torcedores e jogadores, passará a ser compartilhada com gosto pelas três partes. Paris, afinal, será uma festa.

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