Negar racismo contra Balotelli é tão nojento quanto o próprio racismo
Torcida, técnico, parte da imprensa e até prefeito de Verona simplesmente decidiram ignorar cantos proferidos contra o atacante do Brescia
Futebol|André Avelar, do R7
A torcida do Hellas Verona, o treinador, parte da imprensa local e até o prefeito da cidade tiveram atitudes tão ou até piores do que os gritos racistas proferidos contra Mario Balotelli, do Brescia, no último domingo (3), no estádio Marc´Antonio Bentegodi. Todos esses simplesmente ignoraram as atitudes racistas, como se nada tivesse acontecido para o futebol italiano seguir o seu curso naturalmente.
Balotelli, hoje um dos únicos jogadores que fazem questão de demonstrar sua insatisfação e lutar contra o preconceito, protegia a bola perto da linha de fundo quando a torcida adversária começou a gritar. Ao perceber gritos exagerados vindo das arquibancadas, o atacante simplesmente deu um chutão na bola e partiu em retirada do campo. Os jogadores donos da casa inclusive pediram para a torcida parar com aquilo e Balotelli foi convencido a ficar em campo.
Como se não bastasse, os alto-falantes do estádio reconheceram os atos racista e, como manda o protocolo da Fifa, pediram o fim das ofensas. O jogo recomeçou e, dessa vez, os cantos mudaram, mas continuaram ofensivos. Após a partida, o técnico Ivan Juric, que é croata e também já sofreu preconceito, disse que se tratavam apenas de vaias.
“Sou croata e aqui ouvi muitos refrões ofensivos: ‘Cigano de m...’. Porque a tendência na Itália é muito essa. Por que Balotelli reagiu assim? Pergunte a ele. Quando há coros racistas, eles me dão nojo e os condeno. Mas repito que hoje não havia nada, nem sequer um. Isso é uma mentira”, disse o treinador à Sky Sport.
Nas bancas, os jornais também se dividem entre apoio ao jogador e condenação pelo desejo de sair do campo e, em tese, ‘não respeitar’ a partida. Mas o prefeito de Verona, Federico Sboarina, que estava no estádio, foi além e disse que sua cidade está sendo exposta.
“Parece que uma sentença já foi escrita em pedra. Estava no estádio e todos ficaram atônitos quando Balotelli chutou bola para fora. Por isso, não existiu racismo. Não havia canto racista no estádio. Uma torcida e uma cidade estão sendo expostos à vergonha”, disse Sboarina à agência Ansa.
Com tantas cicatrizes do racismo ao longo da carreira, Balotelli até ameaçou desistir, mas garantiu que continuará lutando pela igualdade racial. Mais do que isso, jamais deixar o preconceito ser normal no futebol italiano.
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