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BRASILEIRO 2022

Messi expõe identidade argentina, mas vive outra realidade

Como algo que amadurece, se cansa de ser infantil, as cobranças de ambos os lados - do povo com ele e dele consigo mesmo - saíram de cena

Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7

Lionel Messi lamentou eliminação da Argentina para Brasil no Mineirão
Lionel Messi lamentou eliminação da Argentina para Brasil no Mineirão

— Messi cresceu na Europa, a partir da adolescência, em Barcelona e muitas vezes desiludiu torcedores. Todos ouviam e viam falar maravilhas dele com a camisa do Barça e com a da seleção ficava a impressão de não verem as mesmas maravilhas. Então o acusavam a ser mais catalão, diziam que não sente a camiseta. Ao contrário, ele sempre sentiu a camiseta e há pouco tempo revelou que seu sonho é terminar a carreira em uma equipe Argentina. É muito argentino, depois de tantos anos segue falando com sotaque rioplatense, rosalino, não sabe nada de catalão.

Essas palavras foram ditas a este jornalista por um dos biógrafos do jogador, Luca Caioli, pouco depois de Messi perder o pênalti na disputa pelo título da Copa América de 2016, contra o Chile, após empate por 0 a 0 no tempo normal.

Naquele momento, Messi passou por uma revolução em relação à sua postura.

Mas, como toda revolução silenciosa, após o choro, a manifestação concreta da mudança só ocorreu três anos depois. Mais precisamente após o jogo contra o Brasil, em que a Argentina foi eliminada nas semifinais da Copa América.


Algo veio à tona na relação entre Messi e a seleção argentina. Como algo que amadurece, se cansa de ser infantil, as cobranças de ambos os lados - do povo com ele e dele consigo mesmo - saíram de cena.

Nada de última chance, de derrota derradeira, de jogar só no Barcelona...Do lado de Messi, ele se soltou. Nem tanto em campo, porque sofreu marcação cerrada e teve dificuldades de impor seu futebol.


Mas a imposição veio de um autoaprendizado. Como se ele tivesse feito a imersão em um curso de teatro, o lado inibido dele foi sendo driblado, deixando de ser aquele marcador implacável de outrora.

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Messi se permitiu mostrar-se argentino. Não se constrangeu. Entendeu e quis deixar claro que, nesta relação entre um homem e seu país, além de ser patriota é necessário parecer patriota. Esta dança, ao contrário de um tango dramático, pode ser vista até como uma rumba alegre, em que a derrota não é um punhal fatal.


Messi não irá dizer adeus. Messi falou como Maradona. Reclamou da arbitragem, cantou o hino, assumiu em redes sociais toda a sua paixão pela seleção, sem medo de ser cobrado.

Talvez tenha contribuído para isso o fato de seus filhos terem interesse em vê-lo com a camisa da seleção, em entender melhor a relação do pai com seu país natal, que aprendeu a amar e que, de certa forma, simboliza a sua avó, Célia, a primeira a tê-lo estimulado e que não pôde ver sua glória. Morreu quando o menino tinha 11 anos.

Foi bonito ver Messi aceitar o figurino de líder da seleção, dentro e fora de campo. Suas palavras têm peso. Mas, apesar de toda essa questão de identidade, fica claro, por outro lado, o quão distante Messi ainda está da realidade do continente sul-americano. Do dia a dia no anteriormente conhecido como Terceiro Mundo.

Se vivesse a rotina dos clubes brasileiros na Libertadores, ele não falaria que o Brasil é um país favorecido pela Conmebol. Messi, neste sentido, pode ser argentino, amar seu país, mas, até agora, pelo clube, joga a Champions League. De tudo, fica a indignação positiva do craque, ainda que ingênua. 

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