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‘Me achavam ruim, mas hoje eu seria seleção’, diz ex-Corinthians

Geraldão, artilheiro nos anos 70 e 80, relembra com carinho da parceria com Sócrates e critica atuais jogadores do time alvinegro

Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7

Geraldão comemora gol do Corinthians, seguido por Sócrates; ao fundo Vaguinho e Romeu
Geraldão comemora gol do Corinthians, seguido por Sócrates; ao fundo Vaguinho e Romeu Geraldão comemora gol do Corinthians, seguido por Sócrates; ao fundo Vaguinho e Romeu

O suor sempre foi um companheiro de Geraldo da Silva. Como boia-fria, ele passava os dias da semana, sob o sol, plantando e colhendo algodão, arroz e feijão em sítios e fazendas ao redor de sua cidade natal, Álvares Machado, interior de São Paulo.

O futebol, em meio às dificuldades até para se alimentar, era algo presente em sua vida. O silêncio sobre a boleia do caminhão, era cortado pelos solavancos e por conversas sobre as partidas da noite anterior. E, somente, aos domingos, Geraldo, nascido em 25 de julho de 1949, se realizava em outro tipo de luta. Pela bola.

O trabalho duro, portanto, era uma espécie de treinamento. Funcionou como uma categoria de base que forjou seus músculos, seus pensamentos, seu conceito de vida, até ele se tornar, tão humilde como se lavrasse os campos das fazendas, idolo do Corinthians nos anos 70. Conhecido pelo nome que revelava a grandeza de seu esforço: Geraldão.

"Batalhei muito para ser jogador, nem sei dizer como consegui. Às vezes não acredito. Meu pai me ajudou, me deu força. Ia junto comigo nos testes, dava o que não tinha. Eu só conseguia jogar aos domingos, nas fazendas em que trabalhava. Durante a semana, tinha o batente. E os jogos eram realizados em cada campo que você nem imagina. Alguns tinham até subidas", lembra o ex-atacante.

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Clube de coração

Até chegar ao Corinthians, em 1975, sua trajetória foi longa como uma viagem de caminhão pelas estradas paulistas. Rodou o interior, com gols, determinação e um objetivo: jogar em seu clube de coração, aquele que, pelo rádio, o inspirava enquanto cravava a enxada na terra, com o mesmo ímpeto com que colocava a bola na rede.

"Desde criança eu falava para os meus amigos: um dia vou jogar no Corinthians! Era o time pelo qual sempre torci".

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E num desses domingos de bola, Geraldo, irmão mais velho de oito filhos, acabou indo jogar em um campinho da cidade. Despertou a admiração de um grupo de nisseis (chamado por ele de "os japoneses") que moravam no interior e o levaram a fazer testes. Primeiro jogou no São Bento. Depois, na Epitaciana, até chegar ao Botafogo de Ribeirão Preto, em 1970, e já mostrar serviço.

"Cheguei ao Botafogo em 1970 e o clube estava para cair de Divisão. Com meus gols, ajudei a equipe a se manter na Primeira e me adaptei logo ao clube", relembra orgulhoso.

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Em Ribeirão, ele fez parceria com Sócrates, chegando a ser artilheiro do Campeonato Paulista em 1974. Refizeram a parceria em 1979, quando, após um empréstimo para o Juventus, ele retornou ao Corinthians e Sócrates havia sido contratado.

Hoje%2C eu possivelmente seria jogador com nível de seleção. Não falo isso por presunção%2C longe de mim. Falo porque sei o quanto trabalhei e como me aprimorei

(Geraldão, ex-atacante do Corinthians)

Sobre o atual estágio do time, Geraldão, aos 71 anos, tem uma opinião que revela seu pensamento a respeito de como está o futebol.

"Quando eu era jogador, ficava louco de vontade de entrar em campo, não via a hora. Para os caras de hoje tanto faz. Muitos recebem milhões e isso faz com que não liguem tanto. Na minha época eu não queria ir para o banco. Ficava horas treinando, mesmo após o fim dos treinamentos. Aprimorava cabeceio, chute, colocação em cruzamento, tudo. Os jogadores de hoje não têm interesse, para eles não muda nada", afirma.

Corinthians hoje

Geraldão acredita que até o Corinthians, conhecido como o "Clube da raça", está sendo influenciado por esse novo estilo dos jogadores.

"Tá muito devagar. O Jô é um bom centroavante, mas joga sozinho. Eu sabia me virar, mas cresci muito por causa das parcerias em campo. No Corinthians, tinha o Vaguinho que cruzava pela direita, o Romeu, pela esquerda. O Sócrates se aproximava pelo meio. Na lateral, o Zé era muito bom, descia muito. E o Wladimir, pela esquerda também sabia passar".

Na época em que atuava, Geraldão era visto como o típico jogador de pouca técnica e muita determinação. Era rodeado de craques, como Sócrates, Palhinha, e tantos outros, o que, certamente, ofuscava a sua qualidade.

Mas ela existia e, ao se observar os seus gols hoje, nota-se um talento que era pouco visto na ocasião. Ele, além do faro de gol, tinha a rapidez dos grandes atacantes, finalizava com consciência, pegando sempre bem na bola, e sabia dar dribles decisivos antes do toque final.

"Eu era visto como ruim de bola, mas não me via desta maneira. Quando acabava um jogo e o técnico vinha me dizer que faltou isto ou aquilo, eu passava a semana treinando para melhorar nestes pontos. Sabia me colocar e entrava preparado. Hoje, eu possivelmente seria jogador com nível de seleção. Não falo isso por presunção, longe de mim. Falo porque sei o quanto trabalhei e como me aprimorei. Além disso, o futebol hoje é visto de outra maneira", analisa.

Sempre artilheiro

Geraldão era o centroavante corintiano na conquista do título paulista de 1977. Terminou a competição, que tirou o Corinthians de uma fila de quase 23 anos, justamente com 23 gols. Foi o vice-artilheiro, atrás de Serginho, do São Paulo, que marcou 32.

"O Corinthians sempre foi o meu time. Cheguei naquele momento de pressão, a torcida apaixonada, querendo o título. Todo aquele ambiente quente, cidade grande. Mas era o que queria. Cheguei tranquilo, mostrando vontade. Seguia as determinações do técnico, procurava fazer de tudo. E fui subindo aos poucos", conta.

Geraldão era centroavante no título de 77. (Em pé): Zé Maria, Tobias, Moisés, Russo, Ademir e Vladimir; (agachados), Vaguinho, Basílio, Geraldão, Luciano e Romeu
Geraldão era centroavante no título de 77. (Em pé): Zé Maria, Tobias, Moisés, Russo, Ademir e Vladimir; (agachados), Vaguinho, Basílio, Geraldão, Luciano e Romeu Geraldão era centroavante no título de 77. (Em pé): Zé Maria, Tobias, Moisés, Russo, Ademir e Vladimir; (agachados), Vaguinho, Basílio, Geraldão, Luciano e Romeu

Em 1978 ficou um tempo emprestado para o Juventus, até retornar para o Corinthians, novamente ser campeão paulista, em 1979, e permanecer até 1981. A partir daí, voltou ao Juventus (1981) e jogou por Internacional (1982 a 1984); Colorado (1984 a 1985); Mixto (1985); Francana (1985); Corinthians de Presidente Prudente (1986-1987); Itararé (1987); União Valinhos (1988) e Garça (1989), onde encerrou a carreira, aos 40 anos.

Em 1982, quando o Corinthians foi campeão paulista, Geraldão entrava para a história do Internacional (RS), sendo campeão gaúcho na decisão contra o Grêmio, vencendo por 3 a 1 no Beira-Rio e 2 a 0 no Olímpico. Ele foi o autor de todos os cinco gols de sua equipe, terminando como artilheiro do Estadual, com 20 gols.

Depois que parou de jogar, ele atuou como técnico na base do Corinthians, por cinco anos, e depois trabalhou, até cerca de cinco anos atrás, como professor de futebol em projeto da Prefeitura paulistana para crianças carentes. O programa, no entanto, foi desativado.

O futebol, para ele, foi uma salvação. Tirou todos os irmãos, os pais e a mãe da pobreza, levando-os para morar em São Paulo. E até hoje eles se reúnem na casa da mãe, dona Denísia. Só nestes tempos de pandemia, as reuniões tiveram de ser interrompidas.

"Passo de vez em quando para ver como ela está, mantenho distância. Isso até essa pandemia passar. Espero que logo eu possa novamente ter essas reuniões familiares", diz Geraldão, pai de Fábio (42 anos), Thiago (38) e Thaís (35).

Sem informações oficiais, ele tem certeza de que marcou mais de 500 gols. "Considero até que eu tenha chegado a mil, passei por muitos clubes, foram muitos gols", diz Geraldão. Um típico jogador que venceu porque tinha fome de gols.

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