Locutor atingido por cuspes e lixeira no Allianz Parque
fala sobre trauma
Após título do Corinthians diante do Palmeiras, jornalista sofreu agressões de palmeirenses; "eram direcionadas à imprensa. Fui só um coadjuvante", diz ele
A finalíssima do Paulistão, no último domingo (9), no Allianz Parque, foi uma decepção não apenas para os torcedores palmeirenses presentes na arena como também para alguns profissionais de imprensa.
O locutor Ramoni Artico, da web rádio Poliesportiva, que trabalhava no local junto de sua equipe, foi atingido por cusparadas e por uma lixeira arremessada em sua cabine.
Como gravar as transmissões é prática comum entre veículos de rádio, Artico teve o momento registrado e pôde identificar os agressores.
Ele, que pretende tomar providências contra o clube e os torcedores envolvidos, falou ao R7 sobre o ocorrido e trauma que passou no dia do título do Corinthians.
"Foi surpreendente. Você não imagina que vai trabalhar num local como aquele e que não haverá segurança o suficiente. Mas voltarei a trabalhar com a cabeça erguida. Na quarta, contra o Boca, inclusive, já estarei lá. E no mesmo lugar onde fui atingido", contou Ramoni.
Sobre a agressão sofrida no jogo Palmeiras x Corinthians, eis o vídeo que mostra o momento do fato.
Ressalto alguns detalhes importantes:
- Tinha mais de 300 jornalistas trabalhando na tribuna de imprensa Osmar Santos.
- Somente seis seguranças faziam a "proteção" do local. Três de cada lado da tribuna. Todos eles terceirizados.
- Esses profissionais foram orientados (interpretação particular) para apartar possíveis choques ocasionados pela torcida com a imprensa, e não remediar qualquer problema do gênero, já no seu nascedouro - observem que antes de jogar o cesto de lixo, alguns cidadãos já demonstravam sua exaltação de outras formas, como agressões verbais, cuspes e ameaças nocivas de invasão do espaço destinado a imprensa.
- Não existia a presença de policiais militares fazendo, sequer, uma ronda na localidade destinada para os jornalistas.
- O ato da agressão não foi realizado com foco nos profissionais da Rádio Poliesportiva, e sim, generalizado para a imprensa como um todo, tendo como prova cabal os gritos de "Imprensa Gambá" - fazendo uma possível alusão da ligação de todos do meio ao Corinthians - realizado por um número considerável de torcedores que saiam ao lado de nosso espaço de transmissão, logo após a consumação do titulo Corintiano na cobrança de pênaltis. Se tivesse qualquer outra equipe de rádio em nosso lugar, sofreria a mesma atitude selvagem que sofremos. Por nosso espaço de transmissão ser o mais próximo a arquibancada, nós fomos os vitimados.
- Em relatos colhidos no próprio estádio, outros profissionais sofreram agressões e ameaças, principalmente os repórteres de campo.
- Sociedade Esportiva Palmeiras, Federação Paulista de Futebol, e Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo, até o presente momento, não se pronunciaram sobre o ocorrido.
A atitude da Rádio Poliesportiva:
- O corpo diretivo da Rádio encaminhou um comunicado para a Sociedade Esportiva Palmeiras, Federação Paulista de Futebol e Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo exigindo explicações sobre o ocorrido e ações efetivas visando a melhoria da segurança para os profissionais de imprensa já no jogo do dia 11 de Abril, entre Palmeiras versus Boca Juniors. Assim que obtivermos retorno, comunicaremos o que foi passado.
A minha atitude sobre o caso:
- Até o presente momento, conversei com alguns advogados e pessoas ligadas ao meio jurídico e estudo abrir um processo contra os responsáveis por esse ato, tanto o torcedor, quanto as entidades responsáveis pela organização e segurança do evento. Durante essa semana, devo procurar outros profissionais da área para sedimentar essa ação.
- Quarta-Feira, 11 de Abril, estou convocado para transmitir Palmeiras x Boca Juniors, em jogo válido pela terceira rodada da fase de grupos da Taça Libertadores da América. Não só narrarei esse jogo, como executarei minha função no mesmo lugar que fui alvejado pela cesta de lixo na final do Paulistão 2018. Lembrando que esse jogo também será filmado.
Não tenho medo de ninguém! Sou Jornalista diplomado e, honrando a profissão que amo, seguirei firme e em frente, trazendo a máxima emoção com qualidade, interação e respeito pelos meus ouvintes e espectadores. Para quem já cobriu reintegração de posse, greve, e quase morreu de câncer aos 22 anos de idade, não será uma cesta de lixo que parará minha carreira.
Agradeço ao carinho de todos. Fico a disposição para esclarecimentos e outras posições sobre o caso.
Sigamos em frente, felizes e cantarolantes, enchendo a mente de sabedoria, a alma de esperança e o coração de felicidade!
Ramoni dos Santos Artico
Indaiatuba, 09 de Abril de 2018.
"Estávamos fechando a transmissão. Aconteceu pouco mais de dez minutos depois de o Corinthians ganhar o título. Era uma conversa entre eu, o comentarista e o repórter.
De repente, começaram a ser disparados cuspes, bandeirolas e xingamentos contra nós. Vimos uma mulher fazer gestos numa ira absurda e até senhores também nos ofendendo.
Inclusive, cerca de 70% das pessoas que passavam por perto gritavam “imprensa gambá!, imprensa gambá!, imprensa gambá!”, de maneira a dizer que todos os jornalistas ali tivessem alguma ligação com o Corinthians.
Tudo isso até que chegou o momento derradeiro, quando um homem, um pouco mais exaltado, subiu em cima da mureta e começou a berrar contra a imprensa de modo geral. A princípio, ele xingava e cuspia. Depois, ele sumiu por uns trinta segundos, foi ao corredor e nos arremessou a lixeira."
"Agressões eram à imprensa"
"É importante lembrar que todas essas atitudes não foram ao Ramoni ou à Poliesportiva. Foi tudo contra a imprensa, de modo geral. Como estávamos posicionados mais próximos à saída, fomos nós que sofremos.
Mas essas manifestações selvagens e inconsequentes tinham como objetivo aterrorizar a imprensa.
O ódio que foi passado naquele instante, quando tudo aconteceu, era contra a imprensa. A imprensa foi a atacada. Eu fui um mero coadjuvante."
Providências
"Estou conversando com advogados e estudo a possibilidade de abrir uma ação judicial contra as empresas, pessoas e órgãos envolvidos em toda essa situação. Não creio que isso possa prejudicar minha carreira.
Muitos jornalistas sofreram com situações assim e não se posicionaram, mas não sou desse tipo de jornalista. Vou ao local de trabalho e respeito a todas as pessoas e regras pré-estabelecidas, então exijo respeito também.
Acredito que o Palmeiras vai assumir o erro, apesar de ter lançado nenhuma nota até agora. Por meio de uma assessora do clube, descobri que existe a possibilidade do Palmeiras me ajudar com algumas imagens do estádio para identificar os agressores. No nosso [vídeo], dá para ver apenas metade do homem que nos lançou a lixeira.
Outros colegas de imprensa também sofreram agressões verbais e físicas, conforme relatos ouvidos no próprio estádio. Os seguranças terceirizados agiram para apartar qualquer tipo de ação mais violenta por parte da torcida, e não reprimir os atos quando eles se ameaçavam ocorrer! pic.twitter.com/PMmo9B9AfX
Não estou agindo de má fé. Estou agindo com provas de tudo que ocorreu. Quando você vai trabalhar num local, você imagina que há um corpo de segurança capaz de dar proteção suficiente para que você exerça o seu trabalho. Infelizmente isso não aconteceu ontem.
Mas eu voltarei a fazer jogos lá. Farei a transmissão como se nada tivesse acontecido. Não quero fazer sensacionalismo em cima do que aconteceu."
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