Jogar outra Copa e falta da família trouxeram Cristiane ao Brasil
Mesmo com proposta da Europa, atacante escolheu vestir camisa do São Paulo e ajudar o time a subir para principal divisão de futebol do país
Futebol|Carla Canteras, do R7
O futebol feminino vive a expectativa começar a se desenvolver efetivamente no Brasil, depois que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) obrigou os times da Série A do Brasileiro a terem times de mulheres também.
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O esporte cresce com grandes ídolos. O São Paulo pensou nisso e repatriou Cristiane, a terceira maior artilheira da seleção brasileira. Ela só perde para Pelé e Marta.
Mesmo com proposta do Barcelona e de outros grandes clubes europeus, a saudade da família e o sonho de disputar sua quinta Copa do Mundo trouxeram a atacante de volta ao Brasil.
"Um campeonato europeu é muito forte e exige muito da atleta. Precisava estar bem para o Mundial. E tem o lado pessoal, que pesou mais ainda. A minha mãe precisa de um cuidado maior. Eu sentia muita falta da minha família", desabafou Cristiane.
No São Paulo, a atacante vai disputar a Série A2 do Brasileiro ao lado de um time formado majoritariamente por atletas de 17 a 22 anos. "Já vivi outros desafios na minha carreira e este é mais um. Acho muito bacana você passar para as mais jovens o quanto as coisas são importantes", afirmou a jogadora
Em entrevista exclusiva, Cristiane falou do futuro do futebol feminino no Brasil e da Copa do Mundo. Confira a entrevista completa:
R7 - Por que você recusou propostas de grandes clubes europeus, como o Barcelona, e escolheu o Brasil?
Cristiane - Fiquei o ano passado quase todo lesionada e dei uma cansada. Pensei que não era justo comigo, em ano de Copa do Mundo, ficar na Europa no estado que estou. Um campeonato europeu é muito forte e exige muito da atleta. Precisava estar bem para o Mundial. E tem o lado pessoal, que pesou mais ainda. A minha mãe precisa de um cuidado maior. Eu sentia muita falta da minha família. Eu falei: "Quer saber? Eu vou ficar no Brasil." Acho que é um momento bom, já que a visibilidade está acontecendo.
R7 - Por que você acha que agora o futebol feminino vai decolar no Brasil?
Cristiane - Infelizmente a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) precisou obrigar que os clubes tivessem times femininos. Mas, já que aconteceu, temos de aproveitar. Sinto que os dirigentes estão com boa vontade para trabalhar com a modalidade. Precisamos de clubes com camisa para atrair o público. Vamos conseguir ver os resultados daqui a dois anos.
R7 - Qual é o principal ponto para o desenvolvimento do futebol feminino?
Cristiane - As jogadoras precisam ter formação de base e garantias de que terão emprego o ano todo. Assim, conseguimos trazer as meninas que jogam fora de volta ao Brasil.
R7 - Por que você escolheu o São Paulo?
Cristiane - Tive conversas com Santos e Corinthians, mas o São Paulo tomou a frente e já veio com tudo de uma vez já para levar. Acredito no projeto.
R7 - Como é disputar a Série B, depois de tanta história no futebol?
Cristiane - Já vivi outros desafios na minha carreira e este é mais um. Pensei: vamos lá. Vamos fazer uma coisa nova.
R7 - A maioria das jogadoras do São Paulo têm entre 17 e 22 anos. Você tem consciência de que, ao lado da Marta, é a ídolo da maioria delas? Como é ser espelho para as mais jovens?
Eu já estive do lado de lá, no lado delas. Acho muito bacana você passar para elas o quanto as coisas são importantes. O quanto eles precisam ser profissionais. Eu dou várias dicas para as meninas.
R7 - Como é no campo, no dia-a-dia?
Cristiane - Por elas serem muito novas, elas são mais inocentes para jogar, marcar, dividir bola. Eu meio que falo o tempo todo: "Olha faz isso." Porque eu vou falar até você fazer. Porque são coisas que, na hora em que começar o campeonato, vão acontecer. Tem de deixar a inocência de lado e ser mais ligada. É muito gostoso pra mim. Eu poder passar isso para as meninas, a experiência que eu tenho. E mostrar que elas também precisam ter voz.
R7 - Você falou que 2018 você ficou lesionada quase o ano todo. Por que foi assim na China?
Cristiane - Passei um ano muito difícil lá. Foi um ano bem complicado. Não tive uma experiência muito boa na China por falta de estrutura que a equipe (Changchun Yatai) não dava para nenhuma atleta.
R7 - Depois da Olimpíada do Rio de Janeiro 2016, quando você perdeu um pênalti nas semifinais contra a Suécia, você passou por um momento difícil quando era jogadora do PSG. Como conseguiu dar a volta por cima?
Cristiane - Eu tive um ano pós-Olimpíada complicado. Pensei até em parar de jogar. Sair do clube. Mas o treinador simplesmente me abraçou e foi um paizão, na época. Algumas atletas também foram parceiras e eles simplesmente me ergueram de novo. Mostraram o quanto eu era importante. Me fizeram querer e voltar a gostar daquilo que sei fazer. Consequentemente, em 2017 tive resultados individuais maravilhosos.
R7 - Você, Marta e Formiga estão perto de parar de jogar futebol. Nesse momento, o que acha que vai acontecer com o futebol feminino do Brasil?
Cristiane - É um pouco preocupante, porque não temos tantas meninas com este perfil, com essa coisa de brigar e bater de frente. Notamos que muitas meninas têm receio de tomar a frente, mas vamos precisar.
R7 - A maturidade não vai fazê-las mudar o comportamento?
Cristiane - Tomara! Tomara! Pode ser que sim, já que eu também tive isso quando era mais nova. Pensava coisas como: "Não vou me meter ali, porque não é comigo". Ou: "Não vou fazer isso porque não é comigo". Torço para que, com mais experiência, elas entendam que é necessário dar continuidade ao que nós começamos. Precisamos brigar sempre por aquilo que acreditamos, que merecemos e que a modalidade merece.
R7 - De 7 de junho a 7 de julho acontece a Copa do Mundo da França. O que podemos esperar do Brasil?
Cristiane - Acho que é um momento um pouco delicado, por conta dos maus resultados que tivemos. Temos uma prova com outros dois jogos contra a Espanha e a Escócia (5 e 8 de abril, na Espanha). Mas acredito que a comissão técnica tentar fazer uma coisa diferente. Para que, quando começar a Copa do mundo, a gente deixe de lado todas as frustrações que aconteceram antes e a gente comece muito bem no Mundial.
R7 - Como está o grupo? O time está unido?
Cristiane - Sim. Todo mundo tem noção de quanto isso é importante. As meninas sabem e entendem o a importância de jogar uma Copa do Mundo, uma competição que acontece de quarto em quatro anos. Se não tiver um foco e uma ligação muito forte, tudo vai ser mais difícil.
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Atacante Cristiane é apaixonada pela família e leva a vida sorrindo