Gustavo Scarpa se despede do Palmeiras como protagonista
Meio-campo, que vive seu auge no clube, está de malas prontas para disputar a Premier League pelo Nottingham Forest
Futebol|Do R7
Na iminência de viver a experiência europeia que tanto sonhou, Gustavo Scarpa dará adeus ao Palmeiras em seu ápice técnico e com mais uma taça. Na ausência de Raphael Veiga, o meio-campista assumiu o protagonismo e foi o principal nome ofensivo do time na campanha que resultou no 11º título nacional. Com uma canhota afiada em cobranças de falta, lançamentos e cruzamentos, ele foi decisivo em muitos jogos com gols e, principalmente, assistências.
Os números comprovam que Scarpa foi imprescindível ao Palmeiras em 2022 e que será difícil achar um substituto à altura no mercado para a temporada que se avizinha. Antes mesmo de a temporada terminar, ele se tornou o jogador mais efetivo do elenco no ano, com participação em 32 gols. São 13 bolas na rede e 19 assistências em 2022.
Trata-se do atleta do elenco com mais assistências na temporada e o terceiro que mais vezes balançou as redes. No Brasileirão, nenhum jogador dos 20 times deu mais passes para gol do que o camisa 14. Ele serviu seus companheiros 15 vezes.
O meio-campista rumará para a Europa realizado e com quase todos os troféus possíveis conquistados. São oito taças em sua galeria: Brasileirão (2018 e 2022), Campeonato Paulista (2020 e 2022), Copa do Brasil (2020), Copa Libertadores (2020 e 2021) e Recopa Sul-Americana (2022).
"Ao longo de cinco temporadas, vivi grandes e inesquecíveis momentos vestindo essa camisa. E são coisas que vão ficar marcadas e que vou levar comigo pelo resto da vida. Títulos, partidas memoráveis, gols, assistências e, principalmente, as amizades e o carinho dos meus companheiros e dos torcedores palmeirenses", disse o meio-campista.
O desempenho neste ano e em 2021 comprova que valeu o investimento e o esforço do Palmeiras em tirar Scarpa do Fluminense em 2018 e brigar por ele, auxiliando no imbróglio judicial com o clube carioca que fez o atleta perder várias partidas em sua primeira temporada no time alviverde.
Com 230 jogos e 134 vitórias pelo Palmeiras, ele se despede do Palmeiras no top 10 de atletas que mais jogaram e venceram pelo time neste século.
Despedida no auge
Depois de temporadas tímidas em 2018 e 2019, Scarpa ressurgiu com a chegada de Abel Ferreira, em 2020. Passou a ser um novo atleta e atuar em posições com as quais não estava acostumado, embora tivesse deixado claro que era como armador que gostava de jogar.
Ele já vinha jogando em alto nível em 2021, mas só se transformou num dos pilares do Palmeiras na metade desta temporada, em junho, a partir da primeira contusão de Raphael Veiga. O problema muscular do camisa 23 abriu espaço para o leitor voraz e fã de skate e de cubo mágico brilhar. Quando Veiga voltou, os dois passaram a jogar juntos, mas por pouco tempo, já que a dupla foi desfeita com a lesão no tornozelo do artilheiro da equipe.
Suas apresentações de brilho suscitaram pedidos da torcida por ele na seleção brasileira. "Eu gosto muito do Scarpa. Há algum tempo, perguntei sobre os bastidores do Scarpa. Ele foi convocado quando estava no Fluminense (em 2017). Tem uma capacidade criativa, joga com mobilidade. É muito bom jogador. Tem visão periférica", avaliou Tite.
Ele fez apresentações de protagonismo jogando no meio-campo, mas já atuou como ala pela esquerda e até como lateral, função que desempenhou de forma improvisada em jogos decisivos, na final da Libertadores contra o Flamengo e na decisão do Mundial diante do Chelsea. Sua maior virtude é a qualidade ao bater na bola, seja com ela rolando, seja nos escanteios e faltas.
Foi como armador que viveu seus principais momentos com a camisa alviverde, marcando gols e, especialmente, dando assistências. Ele foi o maior garçom da Série A em 2021, posto que deve ocupar também nesta edição.
Sonho europeu
Scarpa comunicou seu desejo de jogar na Europa a Abel Ferreira e à diretoria havia mais de um ano. No Palmeiras, era sabido que o atleta queria ter a oportunidade de atuar em um clube do velho continente. Com 28 anos, ele havia admitido que "o tempo estava acabando" nessa sua projeção. Ele quis tanto ter essa experiência europeia que aceitou receber um salário inferior no Nottingham Forest em relação à proposta do Palmeiras.
Um atleta que foge do padrão dos boleiros, Scarpa vai ter na Europa uma oportunidade de evoluir profissionalmente e também considera que encontrará melhor qualidade de vida. A experiência europeia lhe dará acesso a uma cultura diferente e ampliará a sua bagagem cultural, o que é algo importante no pensamento de um jogador que tem a leitura como hábito e não se limita ao futebol.
"Quem me entrevista desde que subi para o profissional do Fluminense sabe do meu sonho de jogar na Europa. E o maior sonho sempre foi jogar na Inglaterra. Os anos foram passando, e comecei a achar improvável jogar lá, talvez em uma liga menor na Europa. Quando surgiu a oportunidade de sair para um time na Inglaterra, mesmo com 28 anos, para mim foi algo surreal. Achei que era a minha última oportunidade", justificou, em entrevista recente.
Ele admitiu que a decisão foi difícil por conta do ápice que atingiu no campeão brasileiro, disputando e conquistando seguidos títulos importantes nas últimas temporadas. "É difícil abrir mão de um momento como esse."
Os títulos, ele comemora de uma maneira insólita: comendo a bolacha Trakinas com leite condensado, como fez novamente. Scarpa, na verdade, não se encaixa no ambiente dos boleiros. É estranho a esse universo. Ele não gosta de pagode nem de sertanejo, ritmos musicais que predominam entre seus colegas. Seu gênero musical preferido é o rock. Duas das bandas que ele mais escuta em seu fone de ouvido são Foo Fighters e Led Zeppelin. Quando não está jogando, prefere não consumir futebol. Busca refúgio em esportes radicais, o skate e o wakeboard, nos livros e no cubo mágico.
O Palmeiras até tentou um novo contrato com Scarpa depois de o atleta assinar o pré-contrato com o Nottingham Forest, mas o jogador quis respeitar o acordo com o clube inglês.
O Palmeiras verá Scarpa sair sem lucrar com o jogador. Essa foi uma decisão do clube, que preferiu perdê-lo de graça ao fim de seu contrato em vez de vendê-lo nesta janela de transferências. O clube entende que a decisão é acertada, pois já teve lucro esportivo com o atleta.
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