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BRASILEIRO 2022

Ganso, Lucas Lima, Pato e Luan: por que talentos são desperdiçados?

Esses quatro jogadores já encantaram futebol brasileiro em outros anos e hoje vivem baixa na carreira. Especialistas ouvidos pelo R7 tentam desvendar motivos

Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7

Ganso tem sido aplicado no Fluminense
Ganso tem sido aplicado no Fluminense

Paulo Henrique Ganso, hoje com 31 anos, encantou o Brasil nas campanhas do Santos nos anos de 2011 e 2012. Formou, possivelmente, a melhor dupla da carreira de Neymar. Também meio-campista, Luan, 27, chegou ao Corinthians, no início de 2020, como a principal contratação do clube mais popular de São Paulo na temporada. Chegou do Grêmio, por onde ficou por cinco anos e foi considerado o "Rei da América".

Alexandre Pato, também 31 anos, se tornou famoso ao iniciar no profissional de forma fulminante. Estreou pelo Internacional, com 17 anos, já fazendo gol contra o Palmeiras e se sagrando campeão Mundial. Lucas Lima, 30, é mais um destes talentos revelados no interior de São Paulo. Com uma canhota rápida, se destacou no Santos pela visão de jogo.

E o que esses quatro craques, sim, craques, têm em comum? Após deixarem deslumbradas multidões que se aglomeravam, em frente às TVs em bares ou nas arquibancadas, esperando algo deles, não mais repetiram as atuações depois que mudaram de ares. Desde que chegou ao Palmeiras, em 2018, Lucas Lima não foi o mesmo jogador. O mesmo vale para Luan, cujo futebol até agora tem decepcionado a torcida corintiana.

Alexandre Pato, também muito cobrado, até sem clube está no momento, após deixar o São Paulo. Ganso, por sua vez, tem se mostrado um jogador aplicado. Mas a reserva do Fluminense e passagens apagadas por times europeus não fazem jus ao enorme talento demonstrado por ele outrora.


Vários aspectos se misturam no momento de se buscar as causas da queda de rendimento. Eles podem ser divididos em alguns tópicos. Possivelmente, os casos destes quatro jogadores e de outros em situação semelhante, cujos talentos parecem estar sendo desperdiçados, se encaixam em pelo menos um destes itens.

Questões táticas


O ex-goleiro Gilmar Rinaldi, que compôs o grupo tetracampeão mundial em 1994, considera que estes jogadores despontaram também pelo fato de terem encontrado a posição certa nos seus times de origem. E contarem com companheiros plenamente entrosados.

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"Acho que normalmente este tipo de jogador talentoso rende muito em função do cara que tem ao lado. Ganso, por exemplo, fez uma parceria incrível com Neymar. O futebol brasileiro é feito destas combinações: Pelé e Coutinho, Careca e Müller, Bebeto e Romário, e por aí adiante. Eles atingiram o auge sem nem precisarem falar um com ou outro. Os técnicos também precisam entender as características destes jogadores e procurarem uma posição certa, onde eles possam demonstrar o potencial", diz.


Visão de mundo

Já o ex-diretor de futebol do São Paulo, Marco Aurélio Cunha, considera que o início fulminante destes talentos acabou gerando uma expectativa acima da realidade e, de certa maneira, contribuído para que eles não tivessem a necessária concentração no restante da carreira.

"Desde a base se cria a expectativa em torno deste jogador, dirigentes adoram fazer isso, dizer que vai surgir alguém sensacional, quase um novo Pelé e depois ele não atinge o que se fala. Vira uma projeção."

Segundo Cunha, isso ocorre muito mais em função da maneira com que esses jogadores acabam encarando a carreira do que pela falta de talento.

"Eles acabam adquirindo um estilo de vida que não se reverte. Acham que o talento é suficiente para tudo, isso é comum no brasileiro. E ficam menos atentos, menos aguerridos, acostumados com as badalações que os cercaram, por serem melhores tecnicamente. Acabam achando que serão os melhores e não se tornam. É comum times bons no papel não darem certo. O talento tem de ser aliado à vontade de vencer. Nada vem de graça", observa.

Outro tetracampeão, o ex-atacante Paulo Sérgio, também considera que o jogador precisa saber superar essa etapa inicial da carreira para manter o rendimento. Se ele falha nessa passagem, fica difícil reverter.

"Para sair desse período inicial é que é difícil, não é algo automático. Jogador não é máquina. Por isso o nível de treinamento e concentração é importante", afirma.

Questões psicológicas

Rinaldi destaca ainda um outro fator: o psicológico. Para ele, esses jogadores em geral acabam sendo mais sensíveis à pressão e à opinião alheia. E, desestimulados, não rendem mais o que poderiam. Cabe, segundo ele, aos dirigentes darem uma contribuição que, em geral, é rara em um futebol baseado no "cada um por si".

"Esses jogadores podem voltar a render o que rendiam. São craques, sem dúvida. Mas eles acabam sentindo a pressão, sem terem o suporte dos dirigentes. Hoje em dia, as diretorias não se interessam em bancar o jogador. A imprensa bate, a torcida se influencia e ninguém rebate. Não dão suporte e acabam matando o talento no próprio ninho".

Há jogadores, conforme ele conta, que já nascem com a capacidade de suportar as cobranças exageradas. Quando isso acontece, costumam ter uma carreira marcada por atuações de alto nível.

"Eu trouxe o Danilo, meia, para o São Paulo (Gilmar era empresário). Lembro de uma história, no início da passagem dele por lá. Era um jogo de meio de semana, estádio vazio e dava para ouvir o que os poucos torcedores gritavam. E não foram coisas nada boas para o Danilo, que foi substituído. No banco, os jogadores vieram lhe prestar solidariedade e apoio. 'Apoio para quê, não entendi?' perguntou o Danilo. Ele era um jogador que não ouvia essa pressão, isso o ajudou", conta o ex-goleiro.

Disciplina em campo

Paulo Sérgio, por exemplo, mostra um certo incômodo no momento em que é questionado pela reportagem, que lhe perguntou se, por não ser tão brilhante tecnicamente como outros, ele buscou se superar com treinamentos e disciplina tática.

"O que é ser brilhante? Fazer uma bela jogada por partida? Não resolve, é importante manter a constância, o dinamismo. Eu também já fiz jogadas diferentes, mas o que me levou a ter êxito foi ser dinâmico. Lógico que passei por dias difíceis, mas consegui ficar em poucos clubes, por muito tempo: nove anos no Corinthians, depois um no Novorizontino; quatro anos no Bayer Leverkusen, dois na Roma e outros três no Bayern de Munique. Mantive consistência", analisa.

Ele conta com orgulho que essa consistência até hoje lhe abre portas. Paulo Sérgio é embaixador do Bayern de Munique e da Bundesliga no Brasil.

"Deixei um legado. No álbum de figurinhas do Bayern fui escolhido como uma das quatro lendas. Sempre me dediquei. No início da carreira, jovem, as coisas são mais difíceis. Treinadores me ajudaram. Minha ida para a Alemanha foi fundamental, aprendi uma nova língua, conheci uma nova cultura, em um momento em que cada equipe só podia ter três estrangeiros. Eu era um dos quatro brasileiros que jogavam na Bundesliga. Fui um dos precursores a abrir o mercado europeu para os brasileiros".

Para completar, Paulo Sérgio lembra uma história bem ilustrativa de como o jogador brasileiro precisa encarar o desafio de jogar na Europa.

"Logo que cheguei à Alemanha, em um treino, dei uma pedalada. O técnico chegou para mim e falou: 'isso não é circo'. E me falou para ser objetivo. Foi o que fiz e me tornei vice-artilheiro do Alemão. Brilhantismo é ser dinâmico", define.

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