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Flamengo de Zico era superior ao de 2019, mas sofria mais com os rivais

Equipe que encantou o país nos anos 80 tinha craques em quase todas as posições; o diferencial do time de Jorge Jesus é a tática e a velocidade

Futebol|Marcos Rogério Lopes, do R7

Em 2019, o forte é o coletivo; em 1981, o time girava em torno do gênio Zico
Em 2019, o forte é o coletivo; em 1981, o time girava em torno do gênio Zico Em 2019, o forte é o coletivo; em 1981, o time girava em torno do gênio Zico

O que o Flamengo do início da década de 80 tem de espetacular, o de 2019 tem de eficiente. A criatividade e a vibração da equipe de Zico foi substituída quase 40 anos depois por obediência tática e segurança raras no futebol brasileiro, como no último sábado (23), na conquista do bicampeonato da Copa Libertadores, de virada, contra o River Plate.

O Flamengo tricampeão brasileiro em 80, 82 e 83 se destaca na lista dos times plásticos, artísticos e vencedores. Estão lá também o Palmeiras de Djalminha, Rivaldo e Muller, de 1996, os menudos do São Paulo, do técnico Cilinho, e o Santos de Neymar e Ganso.

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O rubro-negro atual, europeu na velocidade e na posse de bola, aparece no rol dos elencos competitivos com alta qualidade técnica.

Mas uma competitividade diferente da do São Paulo de Muricy Ramalho ou do Corinthians de Tite. Esse Flamengo é de poucos um-a-zeros, tem futebol bonito e coloca os adversários na roda com frequência. 

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Fator Zico

Além de mais conquistas, a presença de um único jogador, Zico, serve como prova de que a equipe de 80 é superior tecnicamente.

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O time deste ano, até por não ter alguém que se compare ao eterno camisa 10 da Gávea, sabe que não pode delegar a ninguém a função de resolver tudo sozinho.

Zico, protagonista no supertime da década de 80
Zico, protagonista no supertime da década de 80 Zico, protagonista no supertime da década de 80

Se Zico elevou o nível do grupo, também o transformou, como fazem os craques, em dependente de seu talento. Não que Leandro, Júnior e Adílio não fossem brilhantes e decisivos, mas eram sombras do ídolo rubro-negro. Acontecia o mesmo no Santos de Pelé, na França de Zidane e acontece no Barcelona de Messi.

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Mas não ocorre no atual Flamengo. Até porque é difícil dizer quem é o melhor desse grupo, que não tem protagonistas.

O meia Arrascaeta seria o principal craque – mais habilidoso, caro e imprevisível em campo –, porém, estava ausente em algumas vitórias importantes neste ano.

Ribeiro ou Gerson? Bruno Henrique ou Gabigol? Em outras palavras, um elenco que não se apoia em ninguém para continuar sobrando.

Antes, o nível dos adversários era melhor

Os concorrentes eram fortes e os campeonatos, mais disputados? Talvez, mas isso não ofusca o fato de que, na régua atual, o Flamengo deste segundo semestre chegou na medida mais alta possível, batendo recordes de pontuação e de invencibilidade.

Sim, é preciso dar mais tempo a Jesus e cia. Mas essa afirmação vale tanto para dizer que podemos superdimensionar seu valor ao avaliá-lo por seis meses perfeitos quanto para menosprezar sua capacidade, afinal a "seleção" que ele ajudou a montar, se não for destroçada nos próximos meses, sabe-se lá onde pode chegar.

Se o Flamengo de hoje enfrenta times como Grêmio, Internacional, Fluminense e Vasco com uma superioridade inédita, dando a entender que a vitória é inevitável, o de 80 e poucos alternava bons e maus resultados diante de Corinthians, Santos, Grêmio e Atlético-MG.

O Corinthians, aliás, goleou o time carioca por 4 a 1 na terceira fase do Brasileirão de 1983, em 30 abril daquele ano. Treze dias antes, no entanto, havia levado 5 a 1 no mesmo confronto.

Idolatrado, o espetacular escrete da década de 80 apagou da lembrança de rubro-negros e amantes de esporte derrotas como o 4 a 0 para o paranaense já extinto Colorado, na segunda fase do Campeonato Brasileiro de 1981. Ou o 3 a 0, no mesmo torneio, para o Paysandu.

Naquele ano, em 4 de fevereiro, ocorreu também um 8 a 0 em cima do Fortaleza, com cinco gols do atacante Nunes.

Nunes ou Gabigol? A comparação jogador a jogador seria injusta com a equipe atual. Contra ídolos da história do clube, praticamente todos os atletas de 2019 seriam derrotados. Falta-lhes a sequência de conquistas daquele time e o lustre da nostalgia.

Inovações

Montado inicialmente pelo técnico Cláudio Coutinho, que trouxe ao país táticas inovadoras e garimpou talentos pelo Brasil, o Flamengo de 80 a 83 era uma máquina do goleiro ao ponta esquerda e representava uma inovação na maneira rápida de atacar.

Fã do futebol holandês, Coutinho fez do Flamengo vitrine de conceitos hoje manjados como ocupar o espaço vazio, jogar sem a bola e polivalência dos atletas. Com qualidade de sobra e um futebol moderno para a época, vieram títulos atrás de títulos. O técnico morreu em novembro de 1981 e viu só o início da soberania vermelha e preta.

O Flamengo atual é mais rápido ainda, porque o futebol mudou muito nessas décadas, porque o atual treinador, Jorge Jesus, cobra velocidade na marcação, nas tomadas de bola e nos contra-ataques e porque o time tem jogadores inimagináveis nos anos 80, como Gerson, que defende e ataca com qualidade semelhante.

Assim como Coutinho, Jesus tirou o máximo de atletas já muito talentosos.

Em 80, com Leandro e Júnior, a mais qualificada dupla de laterais da história de um clube brasileiro. Hoje, a trinca de craques Gerson, Everton Ribeiro e Arrascaeta é candidata a melhor meio de campo da história do Flamengo.

Números

Se na genialidade e na quantidade de títulos, o Fla de 80 não tem concorrência, os números são favoráveis ao mais recente rubro-negro. Em 34 rodadas do campeonato nacional, o time tem 79,4% de aproveitamento.

Se considerarmos só a campanha de Jesus, com 25 jogos, o índice é de 85%, com excepcionais 20 vitórias, 4 empates e uma única derrota.

Para usar a mesma base de comparação dos anos 80, quando a vitória valia dois, e não três pontos, como agora, o percentual do Flamengo de 2019 iria a 82% e o de Jesus, a 88%.

Nos Flamengos de 80, 82 e 83, o aproveitamento foi 77%, 78% e 70%, respectivamente.

O ano de 1981, relembrado pela conquista da Taça Libertadores, foi um ano em que o clube conquistou apenas 65% do pontos possíveis do Brasileiro (ou 59%, na contagem atual). No torneio continental, o percentual foi de 75% (ou, hoje, 69%), com 8 vitórias, 5 empates e 1 derrota.

É justo dizer que é cedo para entronar Jorge Jesus e seus atletas, mas também é injusto achar que esse time de agora, por ser recente, não revela indícios e mostra potencial para se tornar o maior Flamengo de todos os tempos.

Melhor da América! Veja a campanha do Flamengo na Copa Libertadores

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