Fla reencontra um Liverpool mais ofensivo do que nos anos 80
Equipe inglesa atual é bem mais técnica do que a que o Flamengo enfrentou em 1981, na final do Mundial Interclubes daquele ano
Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7
O Flamengovenceu o River Plate na final da Copa Libertadores e já tem um encontro com sua história. Literalmente. Se passar pelo vencedor do jogo entre o campeão da Ásia e o Espérance, no próximo dia 17, em Doha, Qatar, terá novamente pela frente, no dia 22, o Liverpool, campeão da última Champions.
Será a reedição da final do Mundial de 1981, em Tóquio. E, 38 anos depois, o Fla entrará em campo ciente de que repetir aquele placar de 3 a 0, que na ocasião deu o título ao Rubro-Negro, é improvável.
O Liverpool de hoje é uma equipe mais técnica do que a que o Flamengo enfrentou em 1981.
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Naquela partida, o técnico Bob Paisley improvisou jogadores em várias posições. E povoou o meio-campo, com Ray Kennedy, Terry McDermott, Sammy Lee (que anulou Breitner na semifinal da então Copa dos Campeões Europeus) e Graeme Souness.
Craig Johnston atuou improvisado no ataque. E Kenny Dalglish era o único atacante de ofício.
Além de Dalglish, o ponto forte da equipe era a saída de bola com o zagueiro Alan Hansen, mantida hoje com Van Dijk.
O Fla de hoje, apesar de talentoso, não tem a mesma criatividade do daquela época.
A movimentação do Fla atual, que até lembra a do Liverpool de hoje, se difere da do anterior. Na época, apenas Lico tinha uma função essencialmente tática.
O resto do time era bem definido, sem tantas trocas de posições. Andrade passava para Adílio, que passava para Zico, que acionava Nunes e...gol.
Os tempos mudaram. Na década de 80, o Liverpool entrou se sentindo favorito, por não conhecer o Flamengo. Tomou um susto e uma goleada. Desta vez, ambos se conhecerão.
Além disso, o Fla na década de 80 era o time técnico. O Liverpool, o tático. Agora, ambos se assemelham, tanto tática quanto tecnicamente.
A novidade é que, depois de 2012, quando o Corinthians venceu o Chelsea, o Flamengo é a primeira equipe brasileira capaz de encarar um gigante europeu.
A estrutura do Liverpool
Quando se fala que uma grande equipe começa por um grande goleiro, a chegada de Alisson ao Liverpool ilustra essa situação. Ele espelha a ascensão da equipe, paralelamente à sua própria ascensão.
A semelhança é a seguinte. Quando chegou da Roma, após a Copa do Mundo de 2018, mesmo que por valores muito altos, Alisson ainda precisava provar que era um goleiro de nível mundial.
Foi se aperfeiçoando no Liverpool, desenvolvendo um estilo sóbrio, tranquilo, estável e ágil, típico de goleiros europeus como Neuer. E despontou, na útlima temporada, como o melhor goleiro do mundo.
O Liverpool de Klopp também tem evolução semelhante. Quando o treinador chegou, em 2015, foi montando equipes até que elas retratassem a sua ideia como treinador.
A mesma que o fez ter sucesso no Borussia Dortmund, com um esquema baseado em um 4-3-3 de muita mobilidade.
Na equipe alemã, o atacante Kagawa fazia a função de ponta de lança, com a companhia de Gotze e Reus. Lewandowski atuava como atacante fixo.
No Liverpool, ele adaptou essa ideia às condições da equipe. Desde 2015, foi montando um esquema que obteve resultado com a conquista da Champions de 2018/19.
Demorou para ele ter efetivamente um time-base, como agora, formado por Alisson; Alexander-Arnold, Lovren, Van Dijk e Robertson; Henderson, Fabinho e Wijnaldum; Salah, Firmino e Mané.
Em cinco anos o time titular teve períodos com jogadores como Moreno, Milner, Emre Can, Lallana, Shaquiri e Oxlade-Chamberlain. A maioria permanece, mas como opção.
No momento, o Liverpool atingiu sua maturidade tática, com a mesma marcação sob pressão, a zaga avançada, os laterais Alexander Arnold e o escocês Andrew Robertson apoiando muito e atacantes se revezando com meio-campistas, fazendo com que não se saiba efetivamente quem é quem.
Por exemplo, Firmino tanto faz a função de centroavante quanto recua para armar e abrir espaços para Salah e Mané.
Mas o que mobiliza todas essas movimentações é o caráter vertical da equipe.
Desde a zaga, com a excelente saída de bola de Van Dijk, o time procura a transição rápida, sem muitos passes, baseada mais em lançamentos. Imprime, com isso, muita velocidade.
Neste sentido, pode ser considerada até uma das referências do Flamengo de Jorge Jesus, que também tem uma movimentação ofensiva, apoio dos laterais e um jogo de muita velocidade, com praticamente quatro jogadores atuando também como atacantes: Everton Ribeiro, Arrascaeta, Bruno Henrique e Gabigol.