Diário de bordo: fãs são barrados na fronteira e tristeza domina o ônibus
Na viagem entre o Rio e Lima, por terra, dois esqueceram o RG e ficaram para trás na Argentina. Clima só melhorou após wi-fi do posto, que aceitava reais
Futebol|Raian Cardoso, da Record TV
Que o Flamengo venceu a Libertadores 2019 você já sabe. Foram dois gols de Gabigol nos minutos finais da partida em Lima, que garantiram o 2 a 1 da equipe rubro-negra diante do River Plate, que defendia o título conquistado em 2018.
Depois da glória, a reportagem do R7 mostra os detalhes da aventura de 5 dias, de ônibus, entre o Rio de Janeiro e Lima, capital do Peru — tudo registrado sob a forma de um diário de bordo.
Ontem, você conheceu como o clima de euforia e ansiedade dominaram o ônibus no primeiro dia de percurso. Hoje, o repórter Raian Cardoso, da Record TV, mostra a tristeza que dominou ambiente após dois torcedores serem barrados na fronteira com a Argentina. Era o fim do sonho?
2º dia de estrada
A terça-feira começou bem cedo. Torcedores disseram que estavam acordados desde às 3h. Eu acordei às 5h. Eles não conseguiram dormir, nem eu. Além do desconforto tinha a ansiedade que cada um de nós levávamos dentro de nós. Ela dominava a todos.
Nossa primeira parada do 2º dia foi na cidade de Foz do Iguaçu, em um posto bem sujo, insalubre. Mesmo assim tomamos café. Enquanto comíamos, alguns fizeram a higiene pessoal e tomaram banho mesmo naquela correria. Eu não consegui tomar o meu. Para os torcedores, nada parece importar até o momento, nem mesmo um posto sujo ou a falta de um banho digno, somente assistir à final.
Seguimos viagem. Paramos na fronteira com a Argentina. O motorista recolhe documentos dos torcedores. Dois deram a CNH, enquanto todos os outros, o RG. Uma hora depois a triste notícia: os dois torcedores foram chamados e informados que, sem o RG, não poderiam passar pela fronteira. Não teve acordo: os dois ficaram.
O clima mudou dentro do ônibus. A alegria e euforia deram espaço à tristeza pelo insucesso dos outros dois barrados. Acredito que todos ali se colocaram no lugar deles, vendo o sonho de criança indo por água abaixo tão próximo de ser realizado. Geral, a comoção durou pouco.
Nesse momento, o ônibus se dividiu. Alguns acharam justo os torcedores terem ficado, pois tinham sido alertados. Outros se comoveram tanto que acharam que podiam dar uma "aliviada", afinal, era o Flamengo, era a final, era Libertadores.
Mas nada que uma parada em um posto, em Puerto Rico, já em território argentino, pudesse mudar. Tudo porque no posto tinha wi-fi e aceitava real (assista ao vídeo abaixo). Empolgados, os torcedores conseguiram falar com familiares e postaram fotos da viagem, afinal, ninguém é de ferro. Foram várias selfies, fotos em grupo... até me chamaram para algumas.
A viagem seguiu pela Argentina. Chegamos a Santa Rosa e lá o clima já estava melhor, os torcedores já tinham superado as duas baixas e o foco voltou completamente para o Flamengo.
No caminho, um verdadeiro baile funk carioca se formou no fundão. Uma caixinha de som embalava o ritmo e os torcedores cantavam juntos. Tocava MC Poze do Rodo, uma comunidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A música falava sobre os “Coringas do Flamengo”. O clima realmente melhorou.
O dia passou aos poucos. O cansaço parecia bater, mas a ansiedade de chegar em Lima era tamanha que grande parte, ainda em estado eufórico, se recusava a dormir. Para eles, a qualquer momento, o motorista iria parar o ônibus e anunciar que havíamos chegado em Lima. Salvo engano.
Nesse ínterim, percebi que os torcedores já tinham um jeitinho bem peculiar para chamar um ao outro. Em dois dias, quase 100% já tinham apelido. “Gordinho do RG”, “atrasado do Uber”, “Vitinho”, “roncador”, “professor”, “oclinhos”, “Paquetá”, “The Rock”, “Denzel Washington”... Foram alguns dos apelidos que ouvi, porém tinham mais.
A noite caiu, as luzes se apagaram e mesmo quem não via a hora de chegar teve que se render, afinal, estávamos chegando ao fim do segundo dia apenas. Tínhamos mais três pela frente.