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BRASILEIRO 2022

Corinthians e Flamengo decidem em São Paulo a última vaga na final da Copa do Brasil

Rubro-negro venceu a partida de ida no Rio de Janeiro e tem a vantagem do empate no duelo em Itaquera

Copa do Brasil|Do R7

A dupla, de potencial comercial ímpar, porém, vive momentos distintos Reprodução/ANDRÉ FABIANO/ESTADÃO CONTEÚDO - 03.10.2024

O duelo entre Corinthians e Flamengo neste domingo (20) pelo jogo de volta das semifinais da Copa do Brasil, coloca frente a frente os dois clubes de maior torcida no País. A dupla, de potencial comercial ímpar, porém, vive momentos distintos.

Enquanto os cariocas nadam de braçada após tomarem o ‘remédio amargo’ da reestruturação financeira, com um faturamento superior a R$ 1 bilhão, os paulistas enfrentam um “círculo vicioso sem fim” de aumento de dívidas, mesmo com receitas próximas à do clube do Rio.

Levando em consideração o aumento no número de times competitivos na primeira divisão, há quem acredite que uma reestruturação corintiana seja muito mais difícil do que a realizada pelo Flamengo, iniciada há 11 anos pelo ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello.

O ex-dirigente foi escolhido pelos flamenguistas como o dirigente mais importante do clube nas últimas décadas, segundo pesquisa publicada pela Atlas Intel em parceria com o Estadão.


“Isso é motivo de muito orgulho para mim”, celebra. “Apesar de saber o potencial do Flamengo, a gente precisava fazer algo a curto prazo para não dar mais vexame. A gente precisava dar bom exemplo para nossos 40 milhões de torcedores. A gente tinha um passivo ético e moral para resgatar maior do que o financeiro. E conseguimos.”

Os caminhos que levaram o Flamengo a ter Bandeira como presidente se desenharam quase que por acaso.


Depois de três décadas trabalhando no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o torcedor apaixonado, como o próprio se define, foi escolhido pela chapa que apoiava na eleição de 2012 após o principal concorrente, Wallim Vasconcellos, ter a candidatura impugnada.

Apesar dos três anos em que fez parte do Conselho de Administração, ele não tinha a pretensão de ocupar a cadeira principal. Ter Zico como cabo-eleitoral ajudou na vitória acachapante nas urnas, e a promessa de austeridade foi colocada em prática a partir do ano seguinte.


Bandeira conta que ele e os membros de sua gestão encontraram um cenário pior do que o imaginado. Para saber o real valor do passivo, foi contratada uma auditoria da EY, que indicou uma dívida de aproximadamente R$ 800 milhões.

Na época, a receita anual do clube dificilmente ultrapassava a casa dos R$ 200 milhões. A solução foi cortar gastos excessivos de imediato.

Entre os casos mais emblemáticos, o clube findou parcerias com atletas olímpicos de nome, como o nadador Cesar Cielo, os irmãos Diego e Daniele Hypólito, e Jade Barbosa, além de não exercer a opção de compra do atacante Vagner Love junto ao CSKA, da Rússia, por não ter condições de pagar o salário de R$ 1 milhão do atleta.

“No dia seguinte à saída do Vagner Love, um torcedor me abordou no supermercado. Era um cara grande, forte, e que falou para mim com uma voz grave: ‘Presidente, você vendeu o Vagner Love’. Eu achava que ainda era anônimo porque estava no início de mandato. Na hora pensei: ‘Pronto, morri’. Mas daí ele falou logo em seguida: ‘Pois fez muito bem. Se não tem como pagar, está certo’”, conta Bandeira, aos risos.

“A gente precisou interditar nossa piscina olímpica. Ela tinha um vazamento, causado por uma rachadura, e desperdiçava muita água. A gente brincava que o nosso segundo jogador mais caro era a conta da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro), porque era R$ 600 mil por mês. Algo inadmissível.”

Receita do sucesso

Segundo Bandeira, um dos motivos para o aumento da dívida flamenguista era o fato de gestões anteriores não pagarem rescisões contratuais, mandando o funcionário para o fim da fila do ato trabalhista, mecanismo da Justiça do Trabalho que obrigava o clube a destinar 10% da receita para pagar credores. Assim, os valores corriam juros e terminavam muito maiores anos depois. À época, o Flamengo não dispunha de mecanismos atuais, como a criação de uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) ou a possibilidade de fazer uma recuperação judicial.

A solução foi encerrar a prática de “empurrar a barriga” as multas rescisórias, e negociar dívidas trabalhistas “no braço”, uma por uma, até zerar as cobranças.

“A gente tinha dívidas enormes com o Petkovic, Joel Santana, Romário, Ronaldinho Gaúcho… Com a ajuda do nosso jurídico e financeiro, começamos a chamar eles, e outros credores de valores menores. A gente negociava um pagamento em 24 meses, ou falamos: “Podemos pagar assim. Conforme eles iam aceitando, começamos a ganhar credibilidade”, recorda.

Atualmente vinculado ao PSB, Bandeira exerce o cargo de deputado federal pelo Rio de Janeiro. Ele conta que aprendeu a andar pelos corredores da Câmara na época em que era presidente do Flamengo, quando passou a ir para Brasília para negociar um projeto de lei que permitisse ao clube ter um alívio das dívidas tributárias, que sufocavam o clube.

Em 2015, é criado o Profut, lei de responsabilidade fiscal do futebol que permitiu associações desportivas a parcelarem pendências fiscais a juros baixos.

Em 2018, último ano do mandato do reeleito Bandeira de Mello, o Flamengo quitou todas as dívidas trabalhistas, tornando-se credor do ato trabalhista.

Com as pendências tributárias amortizadas pelo Profut, com previsão de liquidação em 15 anos a partir da adesão à lei, o clube viu uma oportunidade de aplicar no futebol parte da receita, incrementadas ao longo daquele período.

Em 2019, quando Rodolfo Landim assumiu a presidência, fez uma janela de contratações arrojada, investindo alto em De Arrascaeta (R$ 63,7 milhões), Gerson (R$ 49,7 milhões) e Bruno Henrique (R$ 23 milhões), então atletas de Cruzeiro, Roma e Santos, respectivamente.

Naquele ano, o clube assinou também com Gabigol, Rodrigo Caio, Filipe Luís, Rafinha, além do técnico Jorge Jesus, se consagrando campeão da Libertadores e do Brasileirão.

“Sabe por que o Flamengo sobrou em 2019? Porque naquele ano o futuro chegou para o Flamengo. Enquanto os outros times formavam elencos fortes, nós arrumamos a casa e colhemos os frutos de maneira automática. Para eles, a conta chegou”, comenta.

Em julho deste ano, o Corinthians anunciou Fred Luz como novo CEO. Ele chegou ao clube paulista credenciado pelo trabalho que desenvolveu no Flamengo durante a gestão Bandeira de Mello, sendo peça importante no resgate rubro-negro.

No Parque São Jorge, porém, o profissional encontra um cenário de ebulição política. O presidente Augusto Melo perdeu força nos bastidores após a perda do contrato com a VaideBet e viu a oposição ganhar contornos ferrenhos, com a acusação de que a gestão aumentou os gastos - em setembro, a dívida foi atualizada para R$ 2,3 bilhões - para criar um cenário de inviabilidade e, assim, pedir recuperação judicial. Tudo isso seria pretexto para a criação de uma SAF, informação que Augusto nega.

Ao ser anunciado, Fred Luz afirmou que via potencial para o Corinthians ser uma potência do futebol nacional, mas avisou também que era necessário “sofrer” no início.

Ao comentar sobre o executivo alvinegro, Bandeira de Mello não poupou elogios ao profissional, cuja orientação estratégica foi essencial para o clube cumprir o plano operacional da melhor maneira possível, segundo o ex-presidente flamenguista.

“Eu tenho a melhor das impressões do Fred. Hoje, ele está enfrentando uma bola dividida considerável no Corinthians. Mas é aquela coisa, ninguém faz milagre. Tenho certeza que ele sabe exatamente o que precisa fazer, mas para ele ter sucesso no Corinthians, é preciso que a torcida, os sócios e a imprensa compreendam a necessidade de fazer sacrifícios. Não tem solução mágica. Vai demorar.”

Ficha técnica

Corinthians - Hugo Souza; Fagner (Matheuzinho), André Ramalho, Cacá e Matheus Bidu; Carillo, José Martínez, Breno Bidon e Rodrigo Garro; Ángel Romero (Memphis Depay) e Yuri Alberto. Treinador: Ramón Díaz.

Flamengo - Rossi; Wesley, Léo Ortiz, Léo Pereira e Alex Sandro; Pulgar, De La Cruz, Gerson e Arrascaeta; Bruno Henrique e Gabigol. Treinador: Filipe Luís.

Árbitro - Anderson Daronco (Fifa/RS)

Horário - 16h.

Local - Neo Química Arena, em São Paulo (SP).

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