Copa da Rainha quer ser grande torneio das mulheres na várzea
Em sua 1ª edição, competição já tem pretensões de dar mais estrutura às atletas que o esporte profissional oferece às jogadores, conta organizador
Futebol|Cesar Sacheto e Guilherme Padin, do R7
Se no futebol profissional há um desnível entre as modalidades masculina e feminina, na várzea a realidade não é diferente. Embora jogos e competições amadoras não-oficiais sejam disputados há muito tempo, o futebol feminino dá seus primeiros passos rumo à organização em meio ao amadorismo.
É neste ambiente — e com ousadas metas — que surgiu a Copa da Rainha.
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Com a percepção de que “há muitas coisas [na várzea] para os homens, mas poucas para as mulheres” Fabio Santos, idealizador do torneio, que teve sua primeira edição neste ano, decidiu ir em frente com o projeto e foi em busca de patrocinadores e apoio.
“Fizemos um estudo para analisar o que seria melhor em termos de estrutura e de premiação, e fomos atrás. Conhecemos a Thaisinha, da seleção brasileira, e ela abraçou a ideia, sendo a patrocinadora máxima”, conta Santos. Ele acredita que o futebol feminino ainda sofre muito preconceito.
A meia-atacante Thaís Nunes, conhecida como Thaisinha, atua na seleção brasileira e no Red Angels, da Coreia do Sul.
Ao R7, ela, que está no Canadá para a disputa de amistosos pelo time do Brasil, relata o porquê de sua decisão em apoiar as mulheres na várzea.
“Deicidi apoiar a Copa da Rainha porque sempre foi meu sonho ajudar o futebol feminino de alguma forma fora das quatro linhas. Sou atleta e participante da modalidade. Sei o quanto precisamos de apoio e de mais campeonatos pra muitas meninas que não têm oportunidade.”
Ao contrário das competições masculinas, com prêmios na casa das dezenas de milhares, as copas femininas, em sua grande maioria, não têm premiações em dinheiro. Ainda que começando por valores mais baixos, Fabio também quer se diferenciar no quesito.
A equipe campeã ganhará R$ 2.000 e a vice, R$ 800, além de ambas receberem uniformes completos, medalhas e troféus. O torneio ainda oferecerá prêmios para a artilheira, melhor goleira e craque da competição — sendo este último chamado de Troféu Maria Esther Bueno.
No total, serão R$ 12,3 mil em premiações — maior valor entre copas de São Paulo.
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As pretensões não param por aí: o organizador acredita que, “em curto tempo, vamos dar mais suporte [para as atletas] que o [futebol] profissional. A Copa da Rainha está fazendo parceria com faculdades para ter bolsa para as melhores jogadoras. E fechamos outras parcerias para dar toda estrutura pra atleta na parte social do esporte”.
Artilheira da competição, com cinco gols, a atacante Nathalia Vertero, da equipe ACAFF, celebra as investidas no futebol feminino na várzea.
“Acho muito legal este investimento que está começando no futebol feminino e muito importante para que outras pessoas possam depender apenas disso. Eu mesma queria muito receber mais, pois acho que ja passei um pouquinho da idade”, diz ela, aos risos.
“Ainda não é igual ao masculino, que tem jogador que compra casa jogando pela várzea”, lembra Fabio, que completa: “Mas é um trabalho está começando.”
Realidade ainda é distante
A nível de comparação, enquanto a Copa da Rainha dará, em prêmios, pouco mais de R$ 12,3 mil, os principais torneios oferecem valores de R$ 20 mil a R$ 85 mil. Se as jogadoras ainda não recebem para entrar em campo, os atletas ganham de R$ 100 a R$ 400 por partida.
Os públicos mais numerosos nas competições femininas atingem as casas das centenas. Por outro lado, a Super Copa Pioneer, conhecida como a Champions League da várzea, por exemplo, teve 9.000 espectadores na final.
Há outras competições relevantes entre as mulheres, como a Copa da Paz feminina, a Copa Libertadores, Copa Diadema, Copa Santo André e Copa Grajaú. Porém, se somadas, as copas femininas chegam somente à casa das dezenas. Entre os torneios masculinos, não há uma contagem oficial, mas quem acompanha de perto garante que há centenas de campeonatos na Grande São Paulo.
“A diferença entre feminino e masculino é grande demais mesmo. Não tem nem comparação. Em relação ao salário, visibilidade, prioridades e tudo mais”, afirma a artilheira Nathalia, de 26 anos.
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Para superar essa difícil barreira, Fabio crê que, “com o tempo, será mais fácil de achar parceiros. Tendo atletas e campeonatos mais organizados, será um processo natural. As empresas enxergam torneios femininos com melhores olhos e, aos poucos, o campeonato e a modalidade vão evoluir”.
Destaque da seleção brasileira de futebol feminino, Thaisinha não informa o quanto investiu na Copa da Rainha, mas garante que “valeu cada centavo”.
Saiba onde e quando será a final da 1ª Copa da Rainha
Data: Dia 23 de setembro (domingo)
Horário: 17h (horário de Brasília)
Local: Arena Palmeirinha
Endereço: Rua Melchior Giola, 101 - Paraisópolis, São Paulo - SP
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