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BRASILEIRO 2022
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Clubes de futebol devem assumir protagonismo no combate à violência doméstica

Segundo recente pesquisa, registros de ameaças e agressões em casa aumentam mais de 20% em dias de jogos

Futebol|Guilherme Padin e Pietro Otsuka, do R7


Para o bem e para o mal, o futebol é, entre outras coisas, um "catalisador" de emoções
Para o bem e para o mal, o futebol é, entre outras coisas, um "catalisador" de emoções

O futebol é capaz de extrair o que há de melhor dentro do ser humano. O grito de gol, a felicidade de ser campeão, a explosão de ver seu time na liderança de um campeonato... O inverso, porém, é tão verdadeiro quanto. Boletins de ocorrência de ameaça e agressão contra meninas e mulheres têm um aumento expressivo em dias de jogos, em cinco capitais brasileiras (São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador), segundo recente pesquisa divulgada.

Não se trata, no entanto, de uma relação de causa e consequência: o aumento nos registros de violências e ameaças contra mulheres e meninas não se dá diretamente por conta das partidas de futebol, mas este “pode funcionar como uma espécie de catalisador de frustrações, em especial quando o time tem resultados negativos”, ressalta o FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) e do Instituto Avon.

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Se não são propriamente os causadores do problema, os clubes e outras entidades podem assumir um papel fundamental de agente social no combate à violência doméstica. Algo que, de acordo com o estudo, algumas instituições têm assimilado recentemente.

Um dos casos citados pelos pesquisadores é a Coalizão pelo Fim das Violências contra Mulheres e Meninas, criada pelo instituto, em parceria com a Fundação Dom Cabral e a ONU Mulheres, das quais São Paulo e Sport-PE são os primeiros signatários no meio do futebol.

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O movimento tem o objetivo de promover ambientes de trabalho mais seguros, acolhedores e respeitosos para mulheres, e garantir o apoio àquelas que se encontram em situação de violência.

À reportagem, o clube paulista reforça que, através do impacto de sua marca a 17 milhões de torcedores, segundo o último levantamento feito pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2021, entende que pode propagar mensagens para combater a violência doméstica no país.

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A paixão pelo futebol, por vezes, dá lugar a violência, especialmente quando o time tem resultados negativos
A paixão pelo futebol, por vezes, dá lugar a violência, especialmente quando o time tem resultados negativos

Por meio do Dasp (Departamento de Assistência Social do São Paulo), escreve o clube, em nota, o clube promove rodas de debate e palestras com todos seus colaboradores em suas três unidades – Morumbi, Cotia e Barra Funda –, a fim de conscientizar e prevenir casos de violência doméstica, entre outros assuntos.

Beatriz Accioly, coordenadora de Projetos, Pesquisa e Impacto do Instituto Avon, reforça que os clubes de futebol são organizações com potencial e capacidade enormes para disseminar informações e propor a reflexão entre homens sobre o assunto.

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“Seja por meio de campanhas e canais de comunicação, por exemplo, bem como para a união de recursos para que sejam colocadas em prática medidas efetivas com o objetivo de ajudar a causa, como políticas internas e de suporte a funcionárias em situação de violência e apoio a projetos que visam a solução desse problema”, sugere a pesquisadora.

Os demais times brasileiros, tal como as entidades, porém, ainda estão um passo atrás, mesmo já reconhecendo o problema, segundo Accioly. A grande maioria se coloca a favor do combate à violência contra mulheres, mas ainda assim de forma pontual, e não de maneira contínua.

“É fundamental que a atuação no enfrentamento à violência contra a mulher não se resuma a iniciativas pontuais e esporádicas promovidas apenas pelos clubes. Atletas, federações, imprensa especializada e outras entidades de grande influência no futebol e no esporte devem se manifestar, se mobilizar e criar protocolos e mecanismos de apoio, acolhimento e enfrentamento às violências contra mulheres”, pontua.

No que diz respeito às federações e até a imprensa especializada, a pesquisadora reafirma a necessidade de se propor campanhas e ações práticas, “que visem garantir o bem-estar de mulheres que trabalham com futebol, como árbitras, auxiliares de arbitragem e jornalistas do meio do esporte".

“Dessa forma, é possível promover a mudança como exemplos a serem seguidos, contribuindo para a conscientização dentro de um universo ainda muito masculino”, complementa Beatriz Accioly.

A pesquisa

De acordo com a pesquisa do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) e Instituto Avon, em dias que um dos times das cidades analisadas joga (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Salvador), os registros de ameaça aumentam em 23,7%. Já o número de registros de lesão corporal crescem 20,8%.

Considerando os dias que as partidas de futebol acontecem na própria cidade, isto é, quando os times jogam em casa, o aumento nos boletins de ocorrência de lesão corporal é de 25,9%. Neste contexto, vale salientar que a grande maioria dos autores de tais violências são companheiros ou ex-companheiros das vítimas.

“Como uma atividade bastante presente no universo masculino, tais comportamentos agressivos podem ter como alvo as mulheres que estão próximas, refletindo a própria desigualdade de gênero presente em nossa sociedade. Apesar de já haver um progresso em relação ao aumento da presença feminina no futebol, ainda há uma grande resistência em recebê-la da mesma forma que os homens nos espaços que envolvem o esporte”, explica Beatriz Accioly.

Vale ressaltar que tal fenômeno não é de exclusividade do Brasil e sua relação passional com o futebol. Em outros países que vivenciam o esporte bretão de maneira intensa, tal como a própria Inglaterra, estudos demonstram uma correlação também entre partidas e episódios de violência contra mulheres.

Por lá, entre 2013 e 2012, observou-se que em dias de jogos da seleção, situações de violência doméstica aumentam em 26%, chegando a 38% de aumento quando a Inglaterra perde, cita a pesquisa. Ou seja, a relação entre futebol e a violência contra mulheres não é um problema apenas da modalidade e muito menos do Brasil.

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