'Capitão' e 'soldado', laterais de 70 tiveram caminhos opostos após o tri
Carlos Alberto Torres virou astro do futebol internacional e ficou eternizado pelo apelido de 'Capita'. Everaldo virou estrela dourada no escudo do Grêmio
Futebol|Paulo Guilherme, do R7
Apenas cinco jogadores brasileiros levantaram a taça de campeão do mundo como capitão da seleção brasileira. Dos cinco - Bellini, Mauro, Carlos Alberto, Dunga e Cafu - apenas um ganhou para sempre o apelido de Capitão. Ou melhor, Capita. Carlos Alberto Torres mostrou com sua liderança em meio a tantos craques a importância de falar grosso quando preciso, chegar junto quando necessário, e atacar quando for possível.
Mas para poder chegar como o elemento surpresa e fazer o golaço final da conquista do tri de 1970 no México, o capitão Carlos Alberto contou com a ajuda de um 'soldado': o outro lateral do time, Everaldo, atuando pelo lado esquerdo, cumpriu fielmente as ordens de fechar a defesa e permitir os avanços do Capita. Os dois tinham 25 anos naquela Copa.
Everaldo é um lateral destro, podia jogar tanto na direita (como fez em alguns jogos do Brasil um ano antes da Copa), como na esquerda. Marcava duro, mas não era violento. Não tinha a velocidade e a habilidade do outro lateral-esquerdo, Marco Antônio. Mas este era ofensivo demais. Com ele e Carlos Alberto no time, a zaga ficaria muito exposta.
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Então Everaldo virou o titular com o técnico Zagallo para ser praticamente um terceiro zagueiro. Quando o Brasil já vencia por uma boa diferença no placar, Everaldo saía para Marco Antônio aumentar o poder ofensivo do time, como nas partidas contra Romênia e Peru.
O avanço dos laterais para o ataque não era muito comum em 1970, mas também não era novidade. O lateral-esquerdo Nilton Santos já havia surpreendido o mundo ao marcar um gol na vitória do Brasil sobre a Áustria na Copa de 1958. Mas a ordem era só subir 'na boa'.
Carlos Alberto revelou em entrevista a um projeto do Museu do Futebol que a famosa jogada do quarto gol do Brasil na final contra a Itália tinha sido prevista por Zagallo. "Zagallo mostrou fotos que o Parreira fez do time da Itália e falou assim: 'Oh, quando eles saem para o ataque, o posicionamento deles é esse aqui, marcação homem a homem. Se os nossos homens de ataque se movimentarem quando eles estão atacando, pode abrir um espaço para subida do Carlos Alberto. O Jairzinho puxar o Facchetti para o lado esquerdo, o Tostão vai para lá, o Rivelino...' E foi provado, que aconteceu. Então era um lance que nós sabíamos que poderia ocorrer".
O capitão disse que quando a bola foi lançada lá na esquerda para o Jairzinho, ele começou a subir para o ataque. "Opa, vou saindo devagar. Se a bola cair no Pelé, sei que ela vem para mim.”, disse. "E foi o que aconteceu."
Depois da Copa, Carlos Alberto e Everaldo tiveram trajetórias opostas. O capitão deixou o Santos em 1974 e foi brilhar no futebol carioca. Jogou no Botafogo, Fluminense (time pelo qual foi bicampeão carioca) e Flamengo, e foi com Pelé jogar no Cosmos de Nova York. Por causa de uma contusão, Carlos Alberto não foi para a Copa de 1974. Se tornou treinador, comentarista esportivo e vereador do Rio. Carlos Alberto Torres morreu em 25 de outubro de 2016, aos 72 anos.
Everaldo, depois do tri, foi homenageado pelo Grêmio com uma estrela dourada no escudo e na bandeira do clube. Ele foi o primeiro jogador do Grêmio a ser campeão mundial.
Ganhou duas vezes o prêmio Belford Duarte, que era dado para o jogador de defesa leais, que não levavam cartão amarelo nem vermelho. Em 1972, no entanto, Everaldo ficou magoado por não ser mais chamado para jogar na seleção. O Brasil fez um amistoso contra a seleção gaúcha e ele era o único tricampeão de fora da equipe nacional - e jogou pelos gaúchos. Três meses depois, o pacato Everaldo perdeu a cabeça e deu um soco no árbitro José Faville Neto durante uma partida e acabou suspenso por um ano.
Everaldo morreu de forma trágica em um acidente de carro em outubro de 1974, aos 30 anos, quando voltava com a família de uma viagem para Cachoeira do Sul. Também morreram no acidente a mulher Cleci, a irmã Romilda e uma filha, Deise. A outra filha, Denise, sobreviveu ao acidente e hoje vive em Porto Alegre.
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