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BRASILEIRO 2022

Bayern é exceção na bolha de dívidas do futebol europeu

Clube funciona como empresa que controla a maioria de suas ações; quase todos os outros clubes estão muito endividados

Futebol|Eugenio Goussinsky, do R7

Bayern tem se destacado nas finanças
Bayern tem se destacado nas finanças

Muito se fala no poderio financeiro do futebol europeu. O termo, no entanto, está bem longe de refletir uma realidade. A força econômica da maioria dos grandes clubes é decorrente apenas das volumosas receitas. Mas, em questão de dívidas, a situação é grave para a maioria. Tanto que, na verdade, a tentativa da criação da Superliga não foi só uma ambição arrogante. Foi uma maneira de tentar ter uma garantia financeira com o aporte da JP Morgan.

Ao se analisar a somatória de dívidas gigantescas de quase todos os grandes clubes europeus, pode-se perceber que o fuebol, para eles, não é um esporte rentável. A exceção é o Bayern de Munique, que, em 2002, se tornou um clube-empresa, mas que se mantém dono da maior porcentagem das ações.

O restante, o que é muito interessante, pertence aos próprios patrocinadores e parceiros, que, desta maneira, trabalham também pela saúde financeira do clube. Além disso, pelo próprio estatuto, o Bayern não pode contrair dívidas, tendo profissionais do ramo como dirigentes, que prestam contas e visam ao equilíbrio fiscal.

O clube, com isso, conseguiu lucro até na pandemia. Faturou cerca de R$ 38,5 milhões, mesmo tendo quedas nas receitas de transmissão e patrocinadores. Além de, como todos os outros, ter zerado o ganho em bilheteria, por causa do isolamento social.


Os outros clubes, basicamente os fundadores da fracassada Superliga, amargam dívidas bilionárias. Que, no futuro, podem simplesmente fazê-los ruir.

Daí a necessidade que muitos tiveram em passar o controle para fundos de investimentos, o que, em longo prazo, não deixa de ser um grande risco para a própria identidade do clube.


"Muitos clubes europeus de sucesso são propriedade de xeques (PSG, Manchester City), oligarcas russos (Chelsea), bilionários chineses (Inter de Milão) ou de bilionários tailandeses (Leicester City) que veem a propriedade de um clube como forma de melhorar sua reputação. Outros usam um clube como ferramenta de marketing para suas marcas (Dieter MAteschitz com o RB Leipzig). Então, eles não precisam ganhar dinheiro com o clube. Eles precisam ganhar títulos de campeão, e é por isso que despejam bilhões nos clubes (apesar das regras de Fair Play da UEFA, que deveriam impedir exatamente isso)", afirma o jornalista suíço Marc Kowalsky, especialista em finanças, da revista Bilanz, de negócios.

E como os clubes sobrevivem? Simplesmente pelo fato de terem altíssimas receitas, referentes à transmissão de jogos, patrocínios, outras receitas em marketing e produtos licenciados, atuando em campeonatos organizados. Neste ciclo de curto prazo, há como contratar grandes jogadores, inflando ainda mais as cifras. Mas de uma maneira artificial, porque as receitas, mesmo altas, não pagam as dívidas, principalmente as de longo prazo.


"Observe que os clubes europeus bem-sucedidos são propriedade de bilionários ou estão fortemente endividados (como FC Barcelona, ​​Real Madrid) ou ambos (como Chelsea, Tottenham e Inter de Mião)", observa Kowalsky.

Então, a ciranda financeira é explicada mesmo pelas altas receitas e a popularidade do esporte.

"Além de aumentar a receita por meio de direitos de TV (especialmente no Reino Unido) graças a canais pagos como Sky e mais o fato de que especialmente a Premier League britânica é muito boa em marketing, especialmente na Ásia. As vendas de estrelas como Ronaldo & Co. em Jersey podem financiar grande parte de uma quantia de transferência", diz Kowalsky.

Modelo de gestão

O Bayern de Munique, por sua vez, optou por um caminho diferente.

"Há apenas um grande clube europeu que tem continuamente obtido grande sucesso nos últimos 20 anos sem dívidas e obtendo lucros todos os anos: o Bayern München, vencedor da Liga dos Campeões do ano passado. Eles seguem um estilo de gestão muito criterioso", ressalta Kowalsky.

O Bayern tem como parceiros os próprios patrocinadores, no caso a Adidas, a Allianz e a Audi, que têm assento no Conselho. O modelo de gestão separa o clube do futebol e busca otimizar o trabalho dos funcionários, com ferramentas para controle em Recursos Humanos, prioridade de gastos e cortes de despesas, quando necessário. Cada jogador é contratado de forma planejada, sem que o clube gaste mais do que possa pagar.

Algo, por exemplo, que o Barcelona não faz. Com dívidas de 1,173 bilhão de euros (R$ 7,6 bilhões), o clube luta agora para debitar quase 200 milhões de euros (R$ 1,295 bilhão), segundo artigo da alemã Sport1, em pagamentos pendentes de transferência para outros clubes. Também os salários dos jogadores têm ficado pendentes, como o do próprio Messi.

Ao falar sobre a dívida do clube espanhol, para a Sky Sports, o dirigente do Bayern, Karl-Heinz Rummenigge, ex-craque da seleção alemã, se mostrou surpreso.

"Se o Bayern tivesse essa dívida, eu não conseguiria dormir tranquilo à noite. Mas acho que isso não vai mudar nada. Um clube como o Barcelona não vai sofrer pelo valor que tem para uma região como a Catalunha. Mas lamento profundamente que os clubes possam atingir dívidas desta dimensão. No Bayern, fomos e continuamos a ser modelos a seguir. Isto, tendo em conta o que acontece no Barcelona ou até na Itália, onde já nem pagam salários. Aqui, procuramos o sucesso desportivo, mas também a estabilidade econômica. Li sobre as dívidas do Barcelona quando estava almoçando e quase me engasguei", disse.

A situação para a maioria dos clubes piorou com a covid-19. Nesta sexta-feira (21), a Uefa divulgou um relatório mostrando que esses grandes clubes perderam mais de 8 bilhões de euros (R$ 51,8 bilhões) por causa da pandemia. Uma cifra que ajudará a afundar ainda mais as finanças de muitos gigantes. Mas, nem tanto, se for levada em conta a quantia total do prejuízo anterior.

Veja as dívidas de grandes clubes europeus*

12 - Arsenal FC: 125,4 milhões de euros (R$ 812 milhões)

11 -Milan: 151,8 milhões de euros (R$ 982,9 milhões)

10 - Manchester City: 200 milhões de euros (1,295 bilhão)

9 - Liverpool FC: 272 milhões de euros (R$ 1,761 bilhão)

8 - Juventus de Turim: 357,8 milhões de euros (R$ 2,316 bilhões)

7 - Atlético de Madrid: 494,2 milhões de euros (R$ 3,2 bilhões)

6 - Manchester United: 528,6 milhões de euros (R$ 3,422 bilhões)

5 - Inter de Milão: 630,1 milhões de euros (R$ 4,08 bilhões)

4 - Real Madrid: 901 milhões de euros (R$ 5,8 bilhões)

3 - Barcelona: 1,173 bilhão de euros (R$ 7,6 bilhões)

2 - Tottenham Hotspur: 1,28 bilhão de euros (R$ 8,29 bilhões)

1 - Chelsea: 1,51 bilhão de euros (R$ 9,78 bilhões)

* Fonte

Serviço de Informações Esportivas - Sport1

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