Após quatro anos, Fernando Diniz reencontra o Vasco na Série A com lembranças amargas
Técnico foi contratado pelo clube carioca para recuperar time, que está na zona de rebaixamento
Futebol|Carol Malheiro*, do R7

Fernando Diniz foi contratado pelo Vasco em 2021 com a missão de ajudar a equipe a subir para a Série A do Brasileirão. Apesar de um começo promissor, o técnico falhou, o time terminou no décimo lugar da segunda divisão e teve de adiar o sonho de voltar à elite para o ano seguinte, já sem o Dinizismo. Quatro anos depois, o treinador retorna para evitar o rebaixamento da equipe carioca, que ocupa, atualmente, a 17ª colocação do Campeonato Brasileiro, beirando a degola.
Chegando próximo à metade da competição, o Vasco tem sete pontos em oito jogos. A equipe venceu apenas times que também estão na zona de rebaixamento: o Sport, lanterna do torneio, e o Santos, penúltimo colocado.
Do elenco de 2021, o único remanescente é o jovem lateral-esquerdo Riquelme, de 22 anos. O jogador, que não é relacionado para uma partida desde janeiro e está fora dos planos da diretoria, foi muito elogiado por Diniz durante a primeira passagem do treinador. Ele atingiu o recorde de mais partidas disputadas em uma temporada ao atuar em 24 jogos.
“Nos aproximamos logo no primeiro dia da minha chegada. Tivemos uma conexão imediata. Ele é um jovem talentoso e que tem um futuro brilhante pela frente”, falou Diniz sobre Riquelme.
Mas esse não é o único reencontro que o treinador terá. Diniz e Tchê Tchê se conheceram há doze anos no Audax durante a primeira das quatro passagens do técnico pelo clube. Ambos foram destaques da equipe sensação do Paulistão de 2016, que conseguiu, de forma improvável, o vice-campeonato. Porém, a história dos dois tornaria a se entrelaçar, desta vez, marcada por um episódio negativo.
Quando os dois estavam no São Paulo, durante uma partida contra o Bragantino, Fernando Diniz xingou o volante aos gritos após o jogador ter perguntado por que ele não poderia retrucar o treinador ao longo do jogo, já que os demais atletas do elenco já faziam isso.
Sob os gritos de “Seu ingrato do cara...!”, “Seu perninha do cara…!“ e “Mascaradinho, vai se f...!”, o Tricolor perdeu a partida por 4 a 2, em Bragança Paulista, e iniciou uma derrocada histórica. A equipe que liderava o Brasileirão de 2020 em janeiro, um mês depois, terminou o campeonato na quarta colocação.

O técnico foi demitido e encontrou uma jornada de sucesso no Fluminense, com o título inédito da Libertadores, chegando até a seleção brasileira. Tchê Tchê se transferiu, e fez parte do elenco vencedor do primeiro título de Liberta de um rival do Flu, o Botafogo. E, agora, quatro anos depois, eles voltam a trabalhar juntos.
Diniz não poupou elogios ao volante, e afirmou que a situação entre os dois foi superada durante sua apresentação no clube, nesta quinta-feira (15). “É um dos jogadores que mais atuou comigo na carreira. De alguns momentos, eu tenho uma iluminação de que faço as coisas de coração. O que eu faço com os jogadores é o que eu faço com os meus filhos. Se errar, tenho que pedir desculpa e seguir minha vida. Eu sou rigoroso, mas também sou amoroso e consigo ajudar.”
“Todos eles tiveram um momento como o do Tchê Tchê. Faz parte do processo, não é um processo linear. Foi uma coisa que aconteceu que está totalmente superada, ele conseguiu jogar muito bem, acho que foi uma das melhores partidas dele aqui. E espero que ele seja muito feliz no Vasco”, falou o treinador, citando o desempenho do atleta na derrota para o Lanús na Sula, que marcou a estreia dele no comando da equipe.
Expectativas para a segunda passagem de Diniz
Além de tirar o Vasco da zona de rebaixamento, Fernando Diniz terá o trabalho de salvar a campanha da equipe na Sul-Americana. Na estreia pelo novo clube, o técnico assistiu à derrota por 1 a 0 para o Lanús, que complicou a vida do clube carioca, que fará o jogo mais decisivo da temporada até aqui contra o Melgar, na última rodada da fase de grupos, precisando da vitória para se classificar.
Neste ano, o craque da equipe tem sido o argentino Pablo Vegetti, artilheiro com ótimas habilidades aéreas, que pode garantir o resultado do time tanto em uma jogada de bola parada quanto em uma finalização de dentro da área. Em entrevista coletiva, o técnico foi perguntado sobre o desempenho de outros jogadores, em especial, de Philippe Coutinho, meia formado pela equipe que chegou ao Vasco com status de estrela no ano passado.

“Para mim, é uma alegria e uma honra trabalhar com jogador do quilate dele. Da geração do Neymar é um dos caras mais talentosos que produzimos no Brasil. É um jogador de uma simplicidade e de uma humildade difícil de enxergar. Já o conheci na Europa, aqui em poucos dias percebe que é um jogador desprovido de vaidade, não faz uso de nada. Parece que está começando hoje, ele acrescenta muito para o Vasco”, afirmou o treinador.
Diniz disse que ainda não pediu nenhuma contratação à diretoria do Cruz-Maltino e que se for fazer pedidos será dentro das condições financeiras atuais do clube. O desejo do técnico é aproveitar o elenco que tem para ter o melhor rendimento possível.
“Não adianta falar que vamos contratar um monte de jogador, seria incoerente quando eu digo que tem um bom elenco. Tem um bom elenco. Tem jogador aqui que pode render mais. Pontualmente, temos que acertar nas contratações. Não gosto de contratar muita gente. A chance de acertar em contratação não é fácil, ainda mais com o orçamento que o Vasco tem. Tem que ter bastante cuidado, ser muito criterioso para aumentar as nossas chances de acertar na hora de contratar”, concluiu Diniz.
*Sob supervisão de Camila Juliotti