“Todos querem, dois chegam e só um vence. Não é fácil ser campeão”. É com essa frase que Flávio Trevisan, preparador físico de passagens vitoriosas por Coritiba, Atlético Mineiro, Internacional, Grêmio, Palmeiras, Corinthians, Santa Cruz e Vasco, expõe as dificuldades em formar um time vencedor. O profissional está prestes a concluir o curso de capacitação para aplicar no meio do futebol aquele que chama de o sistema que “o mundo inteiro vai usar”, utilizado pela seleção alemã desde 2005 e que começa a dar os primeiros passos no Brasil com Flamengo e Atlético Paranaense.
Entre os adeptos deste sistema, chamado de Exos, estão as seleções da Alemanha, da Polônia e dos Estados Unidos, a Federação Olímpica Chinesa, além dos clubes Los Angeles Galaxy, Everton, Aston Villa e Galatasaray. No Brasil, o Atlético-PR passou a utilizá-lo em 2015 e o Flamengo, em 2016.
O sistema se apoia em quatro pilares: mentalidade, nutrição, movimento e recuperação. O primeiro passo é a conscientização do que o atleta precisa fazer e porquê. Em seguida, a parte da alimentação visa trabalhar o que o jogador ingere, assim como sua suplementação. O movimento trata dos treinos, pois são eles que preparam os músculos para as competições. Por último, vem o momento da regeneração. Uma parte do processo se repete após o treinamento.
Antes mesmo do início do treino, existe uma pré-preparação, que consiste em sete exercícios. Essa etapa se inicia cerca de 40 minutos mais cedo que a ida dos jogadores ao campo ou ao ginásio. Massagem, alongamento e ativações muscular e neural são alguns dos aspectos trabalhados nesta fase prévia.
“Quando termina o treino, há todo um processo de recuperação. O jogador volta a fazer a massagem, a suplementação, faz a banheira com gelo ou, dependendo do momento, banheira de água quente, para recuperar seu músculo 100%. Depois almoça e vai para casa descansar. No outro dia, ele está inteiro”, explica Flávio Trevisan.
O trabalho dos preparadores como Trevisan acontece antes e depois dos treinamentos técnicos e táticos - responsabilidade do treinador da equipe.
O objetivo da Exos é aumentar a performance do atleta e minimizar o risco de lesões. Foi com a aplicação desse sistema que a seleção alemã chegou ao Brasil para a disputa do Mundial no Brasil, em 2014, e faturou o título. Jürgen Klinsmann foi o responsável por levar a inovação aos treinos da equipe durante a preparação para a Copa de 2006. O treinador gostou tanto do resultado que decidiu contratar o mesmo processo para o time nacional norte americano que treinou por cinco anos.
Um dos momentos mais marcantes da trajetória de Flávio Trevisan foi o aprendizado que adquiriu em treinos de Pep Guardiola, hoje no Manchester City. Quando trabalhava no Bayern de Munique, o treinador levou a equipe para uma intertemporada no Qatar, onde o preparador físico trabalhou durante quatro temporadas. Lá, o brasileiro teve a rara oportunidade de acompanhar de perto todo o trabalho realizado pelo Gigante da Baviera.
“Era um preparador físico brasileiro, o Marcelo Martins, que aplicava o sistema lá no Bayern. Ele ficou 5 anos no clube. Nesse tempo, o Guardiola assumiu o Bayern. Evidentemente, ele tem sua própria metodologia de trabalho. Mas os trabalhos musculares, de força, exercícios funcionais e de movimentos que são feitos dentro do ginásio eram da Exos, e são até hoje”, explicou Trevisan.
Seu último trabalho foi no Vasco, com o técnico Milton Mendes. Juntos, chegaram à final da Taça Rio 2017. Trevisan enxerga que o tempo no clube carioca não foi suficiente para desenvolver a metodologia de trabalho necessária. Ele também aponta as vantagens de se contratar um profissional com experiência no meio para mesclar o conhecimento técnico com a consciência do vestiário.
“Eu sou do futebol, estou há 35 anos como preparador e joguei durante 10 anos. O pessoal da Exos conhece o movimento, mas não tem o conhecimento do vestiário do futebol. É uma vantagem que temos em relação a eles. Meu projeto é trabalhar com esse sistema e entrar em um clube para fazer esse tipo de trabalho”, contou o preparador.
Agora, Trevisan espera concluir seu curso para estar oficialmente apto a aplicar o “sistema do futuro” no futebol brasileiro e deixar equipes mais próximas dos títulos esperados.
“O mundo inteiro vai fazer esse sistema. Acabou aquele negócio de o atleta chegar no horário do treino e subir para o campo, fazer seu aquecimento, treinamento e ir embora. Isso não é um sistema de trabalho que dá o resultado esperado pelo clube”, concluiu.
*Pedro Rubens Santos, estagiário do R7