Pelé 80: Rei do Futebol e Santos já 'pararam' duas guerras na África
Em 1969, o acanhado estádio ficou lotado, sem alambrado, com pessoas se aglomerando à beira do gramado, só para ver o jogador e seus companheiros
Especiais|Eugenio Goussinsky, do R7

O termo "parar uma guerra" nada mais é do que uma forma simbólica de se referir a um episódio que marcou a carreira de Pelé, que completa 80 anos no próximo dia 23, em seus tempos de Santos.
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E tem sentido se for considerado que, realmente, combates foram interrompidos, ou pelo menos a ameaça deles, no momento em que a delegação santista se deslocava pela cidade de Benim, na Nigéria, em função de um amistoso do Santos contra a seleção da Nigéria, em 26 de janeiro de 1969. Dias depois, uma partida do Santos em Kinshasa, Congo, gerou uma trégua em conflito local. Aos mais críticos, por outro lado, o Santos foi usado como instrumento de propaganda da guerra.
Mas, fato é que no conflito nigeriano, o acanhado estádio local estava apinhado de gente, sem alambrado, aglomerando-se à beira do gramado, só para ver Pelé e seus companheiros jogarem. A guerra em si não foi encerrada e só terminou um ano depois.
Pelé fez jus à fama de Rei do Futebol e, atração maior da partida, marcou os dois gols santistas. A equipe, comandada pelo técnico Antoninho, entrou com Gylmar; Turcão, Ramos Delgado, Marçal e Rildo; Joel Camargo (Negreiros) e Lima; Manoel Maria, Toninho (Douglas), Pelé (Amauri) e Edu (Abel). Já a Nigéria jogou com Rigogo (Peter); Igne, Mazelli, Andrews e Opens; Olumodeji e Olayombo; Osede, Alli, Lawal e Inge (Mohamed). Os gols nigerianos foram de Osede e Alli.
Certamente, também, o amistoso foi marcado justamente naquela região, por causa do interesse político, já que o natural seria que a partida fosse realizada na maior cidade nigeriana Lagos, a 320 km. E os combates, vale lembrar, estavam totalmente sob controle do então governo do país, que havia consolidado o segundo golpe de estado, desde 1966.
A administração de então era controlada pelos muçulmanos da etnia hauçá e fula, predominantes no norte. No sul, predominavam os iorubá e, no sudeste, os igbo.
O país tornou-se independente do Reino Unido em 1960, e, muito em função da luta por acesso aos recursos naturais, a chamada Guerra de Biafra se instaurou, entre 6 de julho de 1967 e 13 de janeiro de 1970, praticamente um ano depois do jogo do Santos.
Os hauçás haviam recuperado o poder perdido após o líder Johnson Aguiy-Ironsi tomar a presidência, apoiado por generais igbos, e destituir o primeiro-minstro Abubakar Tafawa Baleva, apoiado pelos hauçá.
O contra-ataque, seguido de diversos motins, que deixaram mais de 30 mil igbos mortos e cumlminaram com a declaração de independência da Biafra, região de maioria igbo, em 1967. Os hauçá, no entanto, rechaçaram a independência e controlaram a região, em uma guerra que deixou entre 500 mil e 3 milhões de mortos.
Mas, mais do que a questão étnica e religiosa, o interesse em controlar o delta do Níger, rico em petróleo foi a principal causa da guerra. O delta fica no sul do país, e desemboca no Atlântico, no Golfo da Guiné.
A Nigéria, atualmente, ainda não teve cicatrizadas todas as feridas desta guerra que, em determinado momento, isolou Biafra e deixou milhões de mortos. A população convive em várias regiões mas, nas esferas políticas, há divisões de cargos, com o governo muitas vezes sendo acusado de favorecer o Norte.
No início dos anos 2000, o grupo terrorista Boko Haram, simpatizante do Daesh, passou a lutar contra o exército e se tornou a maior ameaça institucional ao país. Neste momento, houve uma trégua e o grupo parece sob controle. Nas ruas dos vilarejos, meninos descalços ainda jogam bola na terra, vestidos com camisas gastas de equipes europeias.
O futebol continua sendo um portal de sonhos. Como foi quando o Santos, repleto de negros, também descendentes de africanos, aportou por lá. Sem conflitos étnicos, todos como brasileiros. Eles jogaram com o tradicional uniforme branco, a cor da paz.
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