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Campeão mundial ‘made in’ favela, Mineirinho conta sua história

Em depoimento exclusivo, surfista fala de infância difícil e de vitória na vida

Especiais|Guilheme Padin, do R7

"Tenho feito de tudo para ter um ano maravilhoso e ganhar mais um título"
"Tenho feito de tudo para ter um ano maravilhoso e ganhar mais um título"

"Nasci em uma sexta-feira 13, em 1987, na favela de Santo Antônio, no Guarujá. Não há muito o que almejar para quem é da favela, não existem muitas expectativas. Foi assim comigo e é desse jeito que muitas crianças vivem hoje também.

Mesmo assim, tive uma infância legal. Joguei bola e empinei pipa nas ruas, me diverti como pude. Fiz de tudo, sempre no limite. Nunca aprontei demais. Fui um moleque exemplar.

É difícil dizer se eu conquistaria tudo o que conquistei se não tivesse vindo de lá. Como homem, foi muito bom pra mim. Sou grato por ter vindo da favela, mas não era fácil.

Apesar de morar no Guarujá, eu não estava perto da praia. Minha casa ficava a 45 minutos a pé do mar. Então, dificilmente eu ia pra lá quando era pequeno.


A influência de Angelo, o “Mineiro”

A vida da nossa família era complicada. Depois da depressão da minha mãe, meu pai contou com a ajuda do meu irmão mais velho, o Angelo, para sustentar a casa.


O problema de toda a comunidade é a violência e a bandidagem. O medo da minha família era que eu fosse por esse caminho.

Mas eu me espelhava muito no meu irmão. Ele era trabalhador e honesto. Até meu apelido vem dele: sempre chamaram o Angelo de "Mineiro". Ele era quieto e tímido. Então, virei o Mineirinho.


Ele trabalhava no Exército e, durante os fins de semana, ia com os amigos surfar na praia. Era um exemplo pra mim.

"Fiz de tudo e me diverti muito, sempre no limite"
"Fiz de tudo e me diverti muito, sempre no limite"

Tanto que não só me deu o apelido como deu também minha primeira prancha, quando soube que eu queria surfar como ele.

Teve que economizar bastante. Comprou uma usada por 30 reais. Mas valeu muito. Foi meu primeiro passo para chegar ao topo.

Outra figura importante foi o Pirata, meu primeiro treinador no surfe. Ele cuidava de mim quando estava na praia. Deu todo apoio para eu me transformar no atleta que eu sou.

Minha mãe teve depressão pós-parto profunda. Foi um período difícil para ela. Um dia, ela acabou colocando fogo na casa e saiu. Fiquei lá. Quem me salvou foi um vizinho.

Do Guarujá ao título mundial 

No início é mais doloroso. Sempre é mais difícil. Quando comecei, o Pirata fez até o impossível para que eu pudesse trilhar o caminho para conquistar espaço no esporte.

Ganhei campeonatos regionais até começar a disputar profissionalmente, em 2002.

Sempre trabalhei duro para chegar onde cheguei.

Em 2015, quando o Ricardinho (surfista brasileiro e amigo de Adriano) morreu, decidi fazer uma homenagem. Fiz uma tatuagem no braço igual à que ele tinha. Eram as palavras "força", "equilíbrio" e "amor".

Fiz por ele e também por mim. Eu precisava muito dessas três forças para conquistar meu sonho (ser campeão mundial). Consegui transformar essas três forças em metas e ganhei o título daquele ano.

Conquistar o mundo mudou não só a minha vida como a da minha família também. Foi incrível.

"Demorava 45 minutos para ver o mar. Hoje sou campeão mundial por causa dele"
"Demorava 45 minutos para ver o mar. Hoje sou campeão mundial por causa dele"

Depois do título o apelido "Capitão Nascimento" pegou entre meus amigos brasileiros do Pipe Masters (Circuito Mundial de surfe). Ele veio por eu ser o mais velho (Mineirinho tem 30 anos) do Brazilian Storm¸ como somos (surfistas brasileiros) chamados.

É muito bacana sentir esse respeito por parte deles. O Pipe [Masters] de 2015 me coroou como capitão da tropa.

Brasil dominando o Pipe Masters

É muito bom ver o Brasil ser o país com mais representantes (11 dos 34 surfistas) no Circuito Mundial. Foi a evolução do surfe num país que almejou chegar ao topo e conseguiu. É uma grande alegria e inspiração. Teremos muito trabalho neste ano.

Estou focado para voltar ao topo. Tem sido ótimo. Tenho feito de tudo para ter um ano maravilhoso e ir em busca de mais um título.

Quero ajudar as crianças, os futuros surfistas. Tenho que carregar essa imagem, a mais profissional possível, para dar exemplo para a molecada."

Adriano esteve recentemente em preparação no Havaí-EUA e, agora, treina no Brasil. Neste sábado (12), participará de evento com aulas abertas e gratuitas na Praia do Camburi, em São Sebastião-SP, das 10h às 18h (de Brasília).

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