Entrada mais ambiciosa da franquia, Persona 5 quer roubar seu coração
Análise em desenvolvimento: game impressiona pelo estilo e aposta em fórmula consagrada
Jogos|Tiago Alcantara, do R7

Uma pessoa precisa de ajuda. Você fez a coisa certa e agora o mundo te trata como um verdadeiro pária. Você se muda para uma cidade gigantesca como Tóquio e, longe de começar de novo, continua preso pelas mesmas correntes. É um mundo injusto, mas há uma chance de que você consiga virar a mesa. Basicamente, é assim que você passa sem perceber pelas primeiras horas de Persona 5, o RPG da Atlus lançado na última semana para PlayStation 3 e PlayStation 4.
Considerado por alguns o último grande game do PS3 e um dos essenciais que brindam o console atual da Sony em 2017, a nova entrada de Persona é aguardada há anos pelos fãs do ocidente. No Japão, o game foi lançado em setembro de 2016 e já bateu a marca de 1,5 milhão de cópias vendidas. A franquia é marcada por uma combinação de referências do mundo pop, cenas em estilo de animação japonesa e uma temática escolar/adolescente.
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E não entenda isso como uma crítica, passar um ano na vida de um estudante japonês nunca pareceu tão legal. Apesar de não soar incrível contando para os seus amigos...
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A franquia é derivada de Shin Megami Tensei, jogo de JRPG bastante famoso no oriente e que vem ganhando mais espaço entre os admiradores do estilo nesse canto do mundo. Ao contrário de SMT, a série Persona tem uma abordagem um pouco mais acessível e leve – até por isso a ambientação mais juvenil.
No entanto, não se engane. Persona 5 traz diversos questionamentos sobre as máscaras que usamos na sociedade e uma atmosfera até opressiva em alguns momentos, com questionamentos sobre o bullying, assédio e as sombras que habitam o coração dos homens.
Salvando o mundo entre uma lição de casa e outra
O game se divide entre o cotidiano do protagonista e seus amigos na escola, trabalho no cenário movimentado de Tóquio e suas tardes e noites como Joker, o codinome do líder dos ladrões fantasmas que se infiltram em um mundo paralelo e combatem diferentes sombras, que podem ser incorporadas pelo protagonista – único capaz de trocar de personas.
Mas, o que é uma persona?
O conceito vem do trabalho do psiquiatra e psicoterapeuta suíço Carl Jung, que as descreve com uma máscara que usamos para causar uma impressão nos outros e, ao mesmo tempo, para dissimular nossa verdadeira natureza. O sentido usado pela definição do game leva em conta a interpretação do suíço, considerado fundador da psicologia analítica.
As personas são revelações da personalidade dos personagens e mostram ao mundo quem eles realmente são por debaixo da máscara. De uma forma até mesmo bastante impressionante. No jogo, sua Persona é utilizada para derrotar monstros chamados de sombras – outro conceito tomado emprestado de Jung – que representam nosso ego mais sombrio.

De volta para o dia a dia, Persona 5 conta com a maior quantidade de conteúdo presente na série e apesar de não ser um “mundo aberto”, oferece um verdadeiro mundo de possibilidades para que o jogador administre a vida dupla do protagonista/Joker. É possível, apenas no seu quarto, treinar o físico, ler livros, criar ferramentas futuras infiltrações, ver TV, relaxar, encontrar amigos, organizar ou até mesmo trabalhar. Sim, tudo isso sem sair do seu quarto!
Se o game é repleto de opções para fazer no "mundo real", dentro do mundo das sombras as dungeons são bastante desafiadoras. Algumas mecânicas do game foram alteradas para permitir a interação maior com os cenários, além de facilitarem o combate. Assim como em SMT, é possível negociar com as sombras para fazer com que elas se juntem a você.
Os combates contra chefes também são mais épicos e tem peculiaridades interessantes. Em um deles, o dono da sombra é "tarado" por um dos membros do seu grupo, o que faz com que ele direcione ataques e preste mais atenção a esse elemento do seu time, por exemplo.
O Persona com assinatura visual mais impactante da série
Além de tudo, trazer essa mistura de elementos para Tóquio – a cidade mais admirada pelos seguidores da cultura japonesa no ocidente – é a isca perfeita que a Atlus precisava para fisgar todas as horas livres da sua vida. Ou seria “roubar seu coração”?

Aproveitando vários dos pontos turísticos mais movimentados da cidade, Persona 5 oferece uma visão, ainda que virtual, bastante interessante da movimentada e cosmopolita capital japonesa. A atmosfera de uma das metrópoles mais populosas do mundo só serve para ressaltar o quanto você é pequeno em relação aos problemas.
Como conta o diretor Katsura Hashino em entrevista divulgada antes do lançamento, Persona 5 aproveita todas as possibilidades do desenvolvimento para o PlayStation 4. Ou seja, a entrada tem uma meta ambiciosa: ser o maior e melhor Persona de todos os tempos. Com poucas horas de jogo, ainda não é possível ter ideia de quão grande ele é, mas nessa prévia, posso dizer que o game é cheio de conteúdo, cenas de evento, batalha interessantes e instiga o jogador a “viver intensamente”.
Pré-avaliação
Com “só” 15 horas de jogo, não dá para cravar uma avaliação de um jogo que deve levar pelo menos 100 horas para fechar – sem falar do já tradicional New Game +. Isso quer dizer que Persona 5 ainda tem muitas surpresas para me revelar. No entanto, já posso dizer com certeza que o diretor Katsura Hashino e o time da Atlus têm dois grandes méritos nessa nova entrada.
O primeiro deles é justamente o impacto visual do game. Ao contrário do que os novatos na série possam pensar, Persona 5 se destaca de todas as entradas da franquia não por seu visual que mistura referências de arte urbana, quadrinhos e animê. O que realmente o faz ser diferente é que essa abordagem visual extrapola a interface de usuário e faz do ambiente do jogo mais um personagem. Ela está em seus diálogos, menus, cenários e até na passagem dos dias. Está na expressão e estilo de arte utilizado a cada diferente expressão do protagonista.
O segundo mérito é talvez o mais óbvio e perceptível aos jogadores: uma trilha sonora assombrosa. O compositor Shoji Meguro é conhecido dos fãs de Persona – assina as trilhas sonoras desde Persona 3 e, antes disso, de vários Shin Megami Tensei. A mistura de jazz, música clássica e até uma pitada de pop japonês é responsável por estabelecer um clima que deixa qualquer um empolgado com o controle de PS4 nas mãos.
Por outro lado, o jogo chega ao PlayStation 3 e 4 depois do sucesso de Persona 4 Golden ter, praticamente, servido como “o” motivo para vários jogadores comprarem um PS Vita. Sabe, o Vita? Aquele portátil incrível, mas pouco popular da Sony... Sim, P4G faz valer a pena você comprar um Vita, assim como o novo Zelda vale um Switch. Logo, é injusto e inevitável comparar o novo título com o maior sucesso da história da franquia.

Nesse sentido, talvez seja subjetivo demais cravar um “melhor Persona”, mas o que eu posso dizer é que as mecânicas de negociação de persona durante os combates, batalhas com diversas etapas diferentes contra chefes e a quantidade absurda de coisas que você pode fazer no seu tempo livre mostram o quão ambicioso é Persona 5. No entanto, fica claro que a Atlus não mexeu tanto assim no que já era bom.
Na verdade, Persona 5 é mais como uma exaltação ao estilo. Divertido, repleto de referências interessantes à psicologia e até crítico de uma sociedade consumista e que tem um lado sombrio jogado para debaixo do tapete, o game é um RPG que merece a atenção de todo o mercado. Receio que tenha dificuldade em superar a barreira de desconhecimento de quem não é fã do estilo.
Fique ligado, a equipe do R7 Jogos está curtindo muito o game e complementa essa análise assim que chegar ao final da campanha. É um longo caminho, mas isso nunca parou um ladrão de coração, não é mesmo?