Ataribox é uma bela e versátil opção para jogar seu dinheiro fora

É muito fácil vender com base na nostalgia. Há não muito tempo, a Nintendo descobriu isso com o NES Mini, um console pequeno e barato com aparência de Super Nintendo, um emulador e algumas ROMs. Agora, a Nintendo lança o SNES Mini, que é a mesma coisa, só que com um emulador de SNES ao invés de um emulador de NES. O SNES Mini já é vendido aqui no Brasil por aproximadamente R$ 1000, o que de fato parece muito quando você considera que dá para fazer algo parecido usando um Raspberry Pi de R$ 150. Agora, a Atari quer entrar com tudo nesse mercado, mas o que há de diferente dessa vez?

Em primeiro lugar, é importante comparar os preços: o NES Mini custava 60 dólares (188 reais), o SNES Mini custa 80 dólares (250 reais). Já o Ataribox vai ser lançado por 250 dólares (esse é o preço da versão mais barata, não a de madeira). Numa conversão direta com o dólar a R$ 3,13, sai por 784 reais. Parece pouco, mas aí você lembra que tem taxas em cima desse valor. Se os 80 dólares do SNES Mini se tornaram 1000 reais aqui, não dá para esperar que o Ataribox custe menos, até porque a Atari é ainda menos poderosa do que a Nintendo em terras tupiniquins. Mas será que esse custo maior resulta em um valor mais interessante para o consumidor?

Na verdade, um dos grandes problemas do Ataribox é ser associado a esses dois consoles retro da Nintendo, quando na verdade, é algo bem longe disso: o Ataribox é um PC customizado com um case temático. Não é uma caixa fechada que só pode emular alguns jogos, nem um novo console. O Ataribox é apenas um PC customizado rodando Linux.

A Atari pode ser mais antiga, mas não é como se os jogos do Atari 2600 fossem muito mais interessantes de emulador do que Super Mario World, Super Metroid ou Rudora no Hihou. Eles não lançariam um hardware tão bonito só pra jogar Decathlon. O novo console vai contar com um processador AMD e uma placa de vídeo Radeon — é como um PC pequeno, mas com software adicional para rodar os diferentes jogos da Atari que serão oferecidos com a caixinha.

O criador do Ataribox e gerente do projeto, Feargal Mac, teve a ideia quando viu crianças conectando laptops a televisores para jogar Minecraft, mas admite que também se interessou por esse mercado graças ao sucesso do NES Mini. Para financiar essa ideia, ele decidiu usar o Indiegogo, uma plataforma de crowdsourcing parecida com o Kickstarter. A diferença é que no Indiegogo, mesmo sem alcançar a meta, a Atari fica com a grana.

O que isso roda, afinal?

Além dos jogos da Atari, de um jeito confuso porque eles não explicaram muito bem como isso vai funcionar, é bem provável que você consiga jogar muitas coisas da Steam, por exemplo. O suporte a Linux na plataforma da Valve amadureceu muito com os anos, e com um controle e um pouco de paciência, você vai poder entrar num mar de indies, que inclui jogos como The Binding of Isaac: Rebirth, Nuclear Throne, La-Mulana, Spelunky, Darkest Dungeon, Enter the Gungeon, Not a Hero e Risk of Rain. Espera-se que o melhor jogo do ano, Cuphead, seja lançado para Linux e macOS no fim do ano também.

Além disso, o tamanho e a facilidade para conectá-lo à TV, sem contar sua elegância, fazem do Ataribox um belo artigo fashion para quem quer ter uma coisa bonita e sutil na sala. E você pode usá-lo para emular outros consoles mais antigos. Lembre-se que pirataria é ilegal, mas emulação não. Se você tem os cartuchos e os CDs, nada te impede de extrair as ROMs ou ISOs e jogar onde quiser.

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E se tudo isso pareceu interessante para você, lembre-se do preço. A concorrência do Ataribox mostra que não adianta analisar os benefícios do produto em um vácuo: e a verdade é que esse console ainda não se provou necessário.

Pelo que você gastaria no Ataribox, você pode comprar um PS4 Slim, ou um Xbox One S. Até um Nintendo Switch, se não for aqui no Brasil! E esses são apenas os "consoles". Quem não gosta de consoles pode muito facilmente comprar um laptop, que é mais portátil e já vem com uma tela.

Mas digamos que você realmente, com toda certeza, queira um PC bonito e pequeno rodando Linux: aí é que as coisas ficam ainda mais difíceis para o Ataribox. Você pode comprar um Compute Stick, da Intel, que é basicamente um computador pouco maior que um pendrive, por menos da metade do preço do Ataribox. Os mini PCs da marca ZOTAC, por exemplo, oferecem muito mais opções granulares de configurações técnicas, mas costumam vir com chips da Intel, o que pode irritar alguns. Ainda assim, eles são menores, mais versáteis, mais baratos e já podem ser comprados hoje mesmo.

Quando o Ataribox chegar, esse mercado de mini PCs estará ainda mais competitivo, e os outros consoles, ainda mais baratos. A ideia da Atari é boa, mas está vindo tarde demais, cara demais e confusa demais. Não quero que pareça que estou torcendo pelo fracasso da Atari, porque ela mesma já está fazendo isso. Pelo menos a versão de madeira é bonita.