Pelé, soberano, Rei do Futebol, deixou uma herança estimada pela revista Forbes há quase 10 anos em US$ 15 milhões. O maior jogador da história conseguiu juntar durante toda a sua vida o que Neymar ganha em um mês. Sim, são outros tempos, tão diferentes que, antigamente, mesmo com pequenos desvios e erros humanos, atletas eram considerados heróis nacionais e exemplos para jovens e crianças.
A origem da imensa maioria deles é a mesma: nascem na pobreza, raramente são brancos e conheceram na pele as dificuldades e privações por que passam a maioria do povo brasileiro – aquele que lotava a geral do Maracanã, o tobogã do Pacaembu e, hoje, nem mesmo o ingresso mais barato para jogos nas “arenas” é capaz de pagar, de tão caros e elitizados.
Sim, outros tempos. Hoje os supostos ídolos preenchem o imaginário de seus fãs com carros de altíssimo luxo, festas nababescas e um padrão de vida impensável para Rivelino, Garrincha, Zico e antigos colegas estrangeiros como Beckenbauer e Johan Cruijff. Pena que essa dinheirama (fruto de talento) tenha tomado uma proporção que impede nossos craques de se comportarem – fora as honrosas exceções de sempre – com discrição, elegância e alguma vergonha na cara.
Bastaria citar o milionário Daniel Alves, preso sob acusação de estupro, crime pelo qual já foi condenado Robinho, na Itália. Neymar escapou por pouco de se tornar réu por crime sexual, em 2019, mas são notórios seus problemas com a Receita Federal e sua obsessão em ostentar mulheres, jogatinas e as mundanas festas com seus parças.
Emerson Sheik é denunciado pelo Ministério Público por lavagem de dinheiro. Jogadores do Palmeiras caem em golpe financeiro e ex-colega é suspeito. Pedrinho, do São Paulo, presta depoimento após acusação de agressão à ex-namorada.
Justiça mantém penhora de parte do salário de Romário por causa de dívida de mansão no Lago Sul, em Brasília. Cafu recebe ordem de despejo por dívida de casa em Alfaville. Vampeta, esse da velha-guarda, deve R$ 495 mil de pensão para as filhas. Marcelinho Carioca é procurado pela Justiça por dívida com hospital.
Essa lista não para. Raríssimos são os ídolos que atualmente se comportam à altura do que deveriam representar para sua legião de admiradores. São incapazes de conter o deslumbramento, a vaidade, a ganância e, tantas vezes, o machismo e a violência. Não por acaso, o orgulho de vestir a camisa da seleção brasileira hoje se dá longe das arquibancadas. Não temos heróis. Outros tempos...