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BRASILEIRO 2022

Nas dunas da Arábia Saudita, Pâmela Bozzano se torna a primeira piloto brasileira no Dakar

Catarinense competiu na categoria T3 e esteve acompanhada do navegador Cadu Sachs durante as duas semanas de provas

Automobilismo|Isabella Pugliese Vellani*, Do R7

Pâmela Bozzano foi a campeão do Rally dos Sertões
Pâmela Bozzano foi a campeão do Rally dos Sertões

Desde 1978, pilotos de rali se desafiam a participar da competição mais temida da categoria: o Dakar. A prova é a mais longa off-road do mundo, com quase 8.600 km, e exige uma alta preparação física dos competidores.

No entanto, demoraram 45 anos para que o Brasil tivesse uma mulher como piloto. No automobilismo há dois anos, Pâmela Bozzano entrou para a história por ser a responsável por mostrar o lado feminino brasileiro nas dunas da Arábia Saudita.

Em entrevista exclusiva ao R7, a piloto afirma que o Dakar foi a prova que mais exigiu dela, dentre todas que participou. Pâmela começou a pilotar durante a pandemia, após o marido, Ênio Bozzano — que também é piloto —, sofrer uma lesão no joelho. Ele começou a insistir para que ela competisse ao lado ele. Foi experimentar e gostar.

Por ser menor que o marido, foi preciso montar um novo carro para que a brasileira alcançasse os pedais de freio e aceleração. Determinada, buscou se aprofundar no rali e contou com a ajuda do preparador físico Leandro Ono, que também treinou os pilotos de Stock Car Rubens Barrichello e Thiago Camilo. 


"A gente começou a fazer um trabalho [físico] bem específico, com o que eu sentia mais necessidade para cada prova. De membros, fiz muito pescoço e ombro, que é o que eu sentia mais cansaço nas provas longas", explica a piloto, que também já foi atleta da marcha atlética e de tênis de praia.

Pâmela realizou um curso no Peru para aprender a pilotar nas dunas
Pâmela realizou um curso no Peru para aprender a pilotar nas dunas

Campeã da categoria UTV 3 do Rally dos Sertões de 2022, 1ª colocada do Campeonato Brasileiro de Rally Cross Country e vice-campeã da South American Rally Race, que aconteceu na Argentina, ela nunca havia experimentado uma rotina tão frenética e exaustiva em uma competição.


Além de provas longas, com mais de 400 km, os deslocamentos para as etapas seguintes do rali da Arábia Saudita também são grandes e chegam a 300 km. A rotina dos participantes pode contar com mais de 12 horas dentro do carro, noites de sono de 4 horas e pouco tempo para alimentação.

"O Cadu [Sachs - navegador] me ajudou bastante, já que ele podia fazer o deslocamento. Nós revezávamos, para cada um dormir um pouco antes da prova. A parte física foi bem dolorosa. Nos últimos dias, senti dores nos braços e na escápula. Tiveram dias que eu achei que terminaria a prova por dor, mas quis me superar", diz.


O Dakar conta com territórios inéditos, o que requer ainda mais cuidado dos participantes. Carlos Sainz, piloto da Audi, foi surpreendido em um trecho de dunas, capotou o carro e fraturou duas vértebras.

Para isso, a brasileira explica que é preciso realizar uma leitura atenta do circuito e, para estudar os morros de areia, ela realizou um curso no Peru.

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"Aconteceu de vararmos uma duna mais forte. Eu brinquei que meu navegador até apertou o cinto. O problema grande é subir uma duna e não saber o que tem do outro lado. Às vezes, você achar que ela é redonda e, quando menos espera, ela é cortada e o carro pode capotar", conta Pâmela, que é cautelosa nas regiões mais desafiadoras.

Na 5ª etapa, Pâmela caiu de frente em uma duna, o que danificou a caixa de direção do carro. Mais de 143 km depois, a caixa quebrou e foi preciso chamar ajuda mecânica, para arrumar o carro.

Em 2h30, quando eram 20h no horário local, a equipe pôde retornar ao circuito. No entanto, precisaram enfrentar 60 km das maiores dunas da prova em apenas duas horas restantes para a etapa ser finalizada.

Para a brasileira, esse foi o desafio mais marcante de todo o Dakar. "Foi uma adrenalina muito grande. Para mim, o Dakar podia ter terminado ali. A gente se abraçou, eu chorei muito, fiquei muito emocionada, agradeci", conta.

Pâmela e Cadu começaram a parceria no rali no SARR, na Argentina, em 2022. Na competição, eles terminaram em 2º
Pâmela e Cadu começaram a parceria no rali no SARR, na Argentina, em 2022. Na competição, eles terminaram em 2º

Dois dias mais tarde do incidente, a piloto e o navegador não conseguiram concluir uma etapa, o que os impediu de receber a medalha de 'finisher' (finalizador) e subir a rampa de encerramento.

"Saí desse Dakar com o sentimento de que está faltando mais essa medalha e a rampa. Mas, eu posso dizer que sou feliz e realizada de poder estar lá, no maior rali do mundo. É uma felicidade muito grande", reforça ao comentar que os valores para participar do rali ultrapassam 100 mil euros (R$ 563 mil).

Pâmela mentalizou, nas provas, que esperava terminar "todos os dias bem". Ela contou com o apoio de mulheres que fazem parte do automobilismo e de outros torcedores que a acompanharam.

"Não imaginava que a repercussão seria tão grande. Fiquei super feliz, emocionada e orgulhosa por estar representando as mulheres. É um peso bem grande", revela.

Pâmela se diverte ao recordar que, antes mesmo do fim da competição, conversou com a equipe sobre a vontade de participar da próxima edição. Por mais que tenha retornado ao Brasil no dia 17 de janeiro, os pensamentos se concentravam no retorno para a Arábia Saudita para mais uma prova do Dakar.

"Entrei no avião pensando: 'See you next year, Dakar' (Te vejo no próximo ano, Dakar). Eles brincaram: 'No, this year' (Não, neste ano). Isso porque quando é dia 25 ou 26 [de dezembro], a gente já está viajando para o Dakar", finalizou.

*Estagiária do R7, sob supervisão de Carla Canteras

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