O início do processo de demolição da estrutura do setor do Tobogã na última terça-feira marca o fim de uma era no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Construído na década de 1970 no lugar da antiga Concha Acústica, o local tinha capacidade para receber 10 mil torcedores.
A torcida do Corinthians, por exemplo, usava o Tobogã para exibir os seus famosos bandeirões. Com posição privilegiada, do local era possível ver todo o gramado. Outra vantagem era que o preço do ingresso era mais barato do que em outros setores por não haver cobertura no local. Mas havia torcedor que fazia questão de assistir aos jogos somente no Tobogã para analisar a disposição tática dos jogadores em campo.
O atacante Lucas Braga, antes de defender o time profissional do Santos, era um desses fãs de carteirinha do tobogã. Na infância, ele contou com a influência do avô João Braga Neto para se tornar torcedor do Santos e acompanhava os jogos no setor do estádio sonhando em um dia estar em campo representando seu clube de coração.
O Pacaembu é tombado e a demolição do Tobogã foi autorizada previamente pelos órgãos responsáveis pelo patrimônio histórico da cidade (Conpresp e Condephaat). O previsão é que a reinauguração do estádio aconteça nos primeiros quatro meses de 2023. O estádio chegou a ser usado como Hospital de Campanha para receber pacientes com covid-19 entre os dias 9 de abril e 29 de junho do ano passado, em uma obra que custou cerca de R$ 23 milhões.
A Allegra Pacaembu assumiu o estádio em 2020. A concessionária pagou R$ 115 milhões pelo direito de gerir o local por 35 anos. Dentre as mudanças, no local do Tobogã será erguido um prédio de cinco andares, com 44 mil metros quadrados de área construída. O projeto prevê que o novo edifício tenha restaurantes, lojas, escritórios, e centro de convenções e eventos, construído no subsolo junto ao novo estacionamento. O térreo terá vista para o gramado e ao boulevard que será criado no local onde hoje fica o estacionamento do clube esportivo. Uma praça pública elevada irá conectar as ruas Desembargador Paulo Passaláqua e Itápolis.
Assim como agora a sua demolição provocou polêmica (o caso parou até na Justiça), a construção do Tobogã também foi controversa. Isso, graças à charmosa Concha Acústica que existia atrás de um dos gols do Pacaembu. No fim da década de 1960, o estádio estava carente de mais lugares para o público, que se espremia para ver a bola rolar, e decidiu-se à época por demolir a concha para erguer novas fileiras de arquibancadas.
A concha servia para amplificar o som das apresentações artísticas realizadas no palco que existia no local. Ali tocaram bandas, orquestras e se apresentaram peças e palestras. O efeito sonoro criado pela estrutura em arco transformava as arquibancadas à sua volta numa grande plateia.
BRIGA - Um capítulo triste da história do Pacaembu ocorreu em 20 de agosto de 1995, na decisão da Supercopa São Paulo de Juniores entre Palmeiras e São Paulo. O Tobogã estava sendo reformado e havia muito entulho no local, transformado imediatamente em armas por torcedores briguentos que fizeram do estádio um palco de guerra. Com pedras e paus, a briga ganhou proporções ainda maiores. O são-paulino Marcio Gasparin acabou assassinado durante a confusão.
Era daquele setor também que torcedores do Corinthians principalmente provocavam seus rivais, que se posicionavam numa área reservada ao lado, separados por um espaço livre que levava aos vestiários. Os vestiários do Pacaembu ficam atrás do Tobogã.