Fracasso do Atlético na Libertadores faz mecenas repensarem o time de estrelas. E prejudica Cuca, no sonho de assumir a seleção
O elenco milionário, que recebe R$ 24 milhões por mês, fracassou na Libertadores e na Copa do Brasil. Eliminações precoces vieram na pior hora. O clube precisava de conquistas por conta da arena de R$ 650 milhões
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli
São Paulo, Brasil
"Não somos uns mer..."
A frase de Hulk, dita após a eliminação do Atlético da Libertadores, diante do Palmeiras, que jogou com dois jogadores a menos, teve repercussão contrária à que esperava o experiente atacante.
A reação da imprensa mineira diante da queda foi muito dura. Desde ontem os veículos de comunicação questionam o que aconteceu com o elenco caríssimo, formado por estrelas, e que se apequenou nas quartas de final não só da Libertadores como da Copa do Brasil.
As duas eliminações provocaram profunda decepção para os mecenas, bilionários que mantêm no elenco estrelas com salários dignos do futebol europeu. Enquanto o clube acumula dívida de mais de R$ 1,3 bilhão.
O plano dos mecenas, que controlam o clube, e as decisões do futebol, era fazer de 2022 um ano histórico, com conquistas significativas. Principalmente vencer a Libertadores.
Por conta do estádio que será inaugurado em 2023. A arena será caríssima. Os custos estavam previstos em R$ 410 milhões. Passaram para R$ 650 milhões. Mas, alerta a construtora MRV, dona até do nome do estádio, a obra pode custar R$ 900 milhões. Por conta da pandemia, do alto custo dos materiais e de "adaptações" exigidas pela Prefeitura de Belo Horizonte.
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A estratégia era motivar os torcedores atleticanos para que entrassem como sócios-torcedores do clube. E garantir a venda de carnês digitais de jogos do clube já a partir de 2023. A inauguração da Arena MRV está marcada para o primeiro semestre do próximo ano.
Ter uma conquista importante era fundamental. Mais do que objetivo, era uma missão do Atlético. O treinador argentino Turco Mohamed sabia muito bem desse projeto. E, quando o clube começou a fraquejar, seu emprego já corria riscos. Quando veio a eliminação diante do Flamengo, nas quartas da Copa do Brasil, com a equipe atuando com medo, como se fosse um time pequeno, no Maracanã, a demissão foi inevitável.
Cuca voltou, sete meses depois de ter ido embora "para cuidar da família". Retornou a peso de ouro. E com a exigência de ficar apenas até o fim do Brasileiro. Contrato pequeno, de julho a novembro. O técnico quer estar livre após a Copa do Mundo, porque sabe que tem defensores importantes para que suceda Tite, que não ficará mais no comando do Brasil.
Só que o plano de Cuca também fracassou.
Ele estava muito empolgado, e acreditava que conseguiria levar o Atlético para a final da Libertadores. Seria fundamental para realçar sua importância como técnico ante a opinião pública. Mostrar-se como o melhor brasileiro para o cargo.
O fracasso do Atlético Mineiro, com dois jogadores a mais, atingiu em cheio o repertório tático de Cuca. Mesmo com vantagem numérica fabulosa no futebol moderno, seu time não conseguiu marcar sequer um gol no Palmeiras. E perdeu na decisão por pênaltis.
O técnico tentou desviar a atenção do vexame ao avisar publicamente que Vargas terá de se explicar e poderá até ser afastado, por ter sido expulso. Ele foi aos 50 minutos do segundo tempo! Por mais que ele fosse cobrar pênalti, a raiva do técnico não se justifica. O Atlético, com dois a mais, tinha a obrigação de vencer.
Muito vivido, Cuca agora assume o óbvio.
A obrigação de classificar o clube para a Libertadores.
Com o potencial que o Atlético tem, dedicando-se a apenas uma competição, tinha de se comprometer a brigar pelo título, não se satisfazer em ficar apenas "nas primeiras colocações".
Cuca perdeu pontos importantes na luta para assumir a seleção.
O jogo de ontem não será esquecido facilmente.
O clube conseguiu "apenas" R$ 28 milhões de premiações, somando a Supercopa do Brasil, com as participações frustradas na Libertadores e na Copa do Brasil.
O experiente Hulk sabe que a cobrança será enorme, muito maior do que já era, no Atlético, depois da eliminação de ontem.
"Uma coisa que é um pouco dolorosa é a falta de reconhecimento, não por parte dos torcedores, que cobram muito, mas apoiam muito também e sempre vão ter nosso respeito. Mas o pessoal da imprensa, que fica criticando o Clube Atlético Mineiro, precisa ter um pouco de consciência, porque, de um ano para cá, somos o time mais ganhador do Brasil."
"Em um ano e pouco tivemos cinco títulos, e é o mesmo time. Por vezes não vamos conseguir, mas nem por isso, me desculpe a palavra, não somos uns mer... Pelo contrário, as coisas acontecem quando têm que acontecer. Não somos uma máquina que vai jogar bem todas as vezes."
A verdade é que Hulk conseguiu atrapalhar o ambiente, ao criticar abertamente os gols que o Atlético Mineiro vem sofrendo. As queixas eram evidentes. Sobre o sistema defensivo.
Cuca conversou com o atacante e com o elenco antes da partida de ontem no Allianz, buscando mais união entre os atletas.
Além de Vargas, há outra situação desconfortável no Atlético. A de que Nacho Fernández não está mostrando o ótimo futebol da temporada passada. Inclusive deixando de ser titular absoluto do time.
No fim da temporada haverá uma avaliação séria.
E, dependendo do rendimento no Brasileiro, algumas estrelas poderão sair.
A exigência da direção e dos mecenas do clube é brigar pelo título do campeonato.
O time ocupa apenas a sétima colocação.
Restando 17 partidas.
"Temos que encarar esses 17 jogos do Brasileirão como finais. Quando matematicamente há chance, tudo é possível. Não existe nada impossível para Deus, e todo o nosso elenco tem muita fé. Temos de encarar como finais os 17 jogos porque só temos o Brasileirão para jogar e conseguir o máximo de pontos para fazer as contas no final", assumiu Hulk.
As eliminações da Copa do Brasil e da Libertadores ligaram o sinal de alerta.
Não é esse desempenho que encantará os torcedores.
E os incentivará a gastar em 2023, ano de inauguração da MRV Arena.
Cuca e os jogadores sabem muito bem dessa situação.
O clube ainda deve mais de R$ 1,3 bilhão.
Fora a arena, cujo custo final ninguém sabe ainda...
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