Corinthians assiste fracasso de Vítor Pereira na Supercopa. Não festeja a vitória do Palmeiras. Mas saboreia derrota do técnico
Ainda a mágoa com o português no Parque São Jorge. Mas mesmo para os veículos de comunicação do Rio, a derrota para o Palmeiras foi frustrante. Vítor será mais cobrado no Mundial
Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Brasília, Brasil
Até o tom de voz era mais baixo que o normal.
Quem acompanhou sua coletiva, aqui em Brasília, no Mané Garrincha, depois da derrota do Flamengo na final da Supercopa do Brasil, percebeu seu enorme desconforto.
Vítor Pereira sabia: perdeu o jogo que não poderia perder.
Com sua vivência no futebol, o português tinha a consciência de que ganhar o primeiro título em disputa no Brasil, com todos os holofotes voltados para Mané Garrincha, seria fundamental para espalhar confiança ao time que vai disputar o Mundial de Clubes, no Marrocos. A estreia será no dia 7 de fevereiro, daqui a nove dias.
Justo ele, que trocou o Corinthians, garantindo à diretoria paulista que voltaria à Europa para tratar da sogra, foi seduzido pelo elenco excelente do atual campeão da Libertadores. E ficou no Brasil, distante da mãe de sua esposa. Não quis virar as costas à chance de disputar o Mundial.
Aliás, assim que o Palmeiras venceu o Flamengo, houve farta troca de mensagens entre conselheiros corintianos. Não comemorando a vitória do maior rival, mas a derrota de Vítor Pereira.
Na imprensa carioca, esmagadora maioria aqui em Brasília, enorme desilusão com a derrota do Flamengo. O clima já era de desconfiança, pressão aumentada para o Mundial.
E repassou a culpa da quarta derrota seguida dele, para o Palmeiras, de Abel Ferreira, à característica do elenco flamenguista. O mesmo que escolheu para trabalhar.
"Nós temos que defender com bola. Essa equipe tem muitos jogadores com propensão ofensiva, quer dizer que está sempre perto de fazer gol, e tem que se tornar mais forte e consistente defensivamente. Esse é o processo.
"Já falei disso em jogos anteriores, que tínhamos que melhorar o processo defensivo. Estamos no início do processo, começando o trabalho agora. Naturalmente a equipe tem que saber defender com bola e não aconteceu isso no primeiro tempo."
Vítor também escolheu o caminho da arbitragem para explicar a derrota.
"Começar com uma final com o resultado de 4 a 3, uma derrota, num jogo com muitos gols, muito corrido, não que tenha sido bem jogado, mas muito corrido de um lado e de outro.
'Muitos gols marcados e acredito eu, por todas as indicações que tenho, com um gol irregular que decidiu um jogo desse. O quarto gol deles foi irregular, segundo as informações que tenho."
A alegação é que no quarto gol, o segundo de Gabriel Menino, Mayke estaria em posição de impedimento, atrapalhando o goleiro Santos.
Só que a explicação tão simplória para a derrota não convenceu veículos de comunicação cariocas. As críticas à falta de organização na recomposição, na marcação flamenguista recaíram sobre o técnico. O Mané Garrincha tinha ontem cerca de 70% de flamenguistas, contra 30% de palmeirenses.
Não tinha desfalque no time que pretende usar para disputar o Mundial.

O português conseguiu transformar uma evidente vantagem, disputar o Carioca, contra adversários fracos, ideais para testar novas formações táticas e jogadores, em desvantagem.
"Nós temos construído aos pouquinhos o time que irá para o Mundial. Se preparar para um jogo desses, contra o Palmeiras, jogando o Carioca, se aproveita muito pouco. Este jogo de hoje (ontem), foi um jogo importante para nós nos prepararmos para o Mundial.
"O nível competitivo foi muito mais alto. Vamos ter agora alguns dias, corrigir o que temos para corrigir e nos apresentarmos mais fortes."
A comparação entre Vítor Pereira e Paulo Sousa, que começou 2022 perdendo a Supercopa do Brasil, e foi mandado embora, depois de seis meses de trabalho, foi inevitável para vários jornalistas cariocas, aqui em Brasília.
O time desembarcou no final da noite de ontem mesmo no Rio de Janeiro.
Sem falar com os jornalistas que esperavam os jogadores, no Galeão.
Além do clima ruim, algo que a direção do Flamengo detesta aconteceu.

Com a perda do título, a premiação pelo jogo caiu pela metade.
O clube levou R$ 5 milhões, enquanto o Palmeiras, R$ 10 milhões.
A primeira decisão de Vìtor Pereira foi péssima.
A cobrança para valer será no Mundial de Clubes.
Enquanto isso, a diretoria do Corinthians assiste a tudo que acontece no Flamengo, 'de camarote', sem comentar oficialmente, sem entrevistas.
Ninguém falará para jornalistas 'em on', ou seja, permitindo gravações ou identificações de quem se alegrou com o fracasso do técnico que não quis seguir no Corinthians.
Mas nos bastidores o rancor segue.
Ninguém se esqueceu da 'traição' do português.
E muitos corintianos importantes seguem a mesma linha de pensamento.
Quanto menos sucesso de Vítor Pereira no Rio, melhor...