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BRASILEIRO 2022

Demissão de Claudio Carsughi deixa rádio afônica 

Comentarista esportivo trabalhava na Rede Jovem Pan desde 1957

Mais Esportes|Dado Abreu, do R7

Aos 82 anos, Carsughi segue agora na internet
Aos 82 anos, Carsughi segue agora na internet

Alguns poderão dizer que a Rádio Jovem Pan está afônica. De certo modo, está. Uma das vozes mais marcantes da história do rádio brasileiro, Cláudio Carsughi foi demitido nesta semana da emissora após quase 60 anos de serviços prestados com sotaque italiano.

Blog do Álvaro José: Rádio sem Claudio Carsughi não dá

Chamado de “mestre” por colegas da imprensa esportiva, Carsughi, que participou da cobertura da Copa de 1950, atendeu à reportagem do R7,com a cordialidade que lhe é característica, para falar sobre sua carreira, suas paixões e os rumos do jornalismo brasileiro. “Cada um sabe onde lhe aperta o sapato. Às vezes, a direção de uma emissora escolhe buscar caminhos alternativos”.

Como o senhor vê esta comoção, entre colegas de trabalho e ouvintes, com a notícia de sua demissão?


Fiquei muito sensibilizado. Agradeço pela atenção, pelo carinho que venho recebendo, e espero que todos continuem me seguindo através do meu site e nos próximos trabalhos que vierem no rádio e na televisão. Mas, a demissão em si, é algo normal. Cada um sabe onde lhe aperta o sapato. Às vezes, a direção de uma emissora escolhe buscar caminhos alternativos.

O senhor ficou triste com a demissão?


Não, acho que é uma coisa normal, que acontece. A rádio resolveu mudar o seu enfoque, buscar outra faixa comercial. Faço votos que eles tenham sucesso nessa escolha, pois se eles tiverem sucesso não precisarão mandar mais ninguém embora. [Carsughi era o funcionário mais antigo da Jovem Pan; estava na emissora desde 1957].

Sempre gostou de esporte?


Desde garotinho, quando ainda morava na Itália. Meu pai costumava me levar para Monza para acompanharmos o Grande Prêmio de Fórmula 1. Embora ele fosse advogado, era especialista em acidentes de transito e tinha essa queda por automobilismo, por motociclismo, paixões que ele acabou passando para mim.

E quando o jornalismo entrou na sua vida?

Em 1946, quando nós viemos para o Brasil. A ideia era ficarmos apenas um tempo por aqui, até meu avô acertar algumas questões das empresas que ele tinha no Brasil. Na época, meu pai era amigo do diretor do jornal Corriere dello Sport, de Roma, e pediu um trabalho para mim, para que eu pudesse continuar escrevendo em italiano nesse período. Foi quando começou.

Que tipo de matéria o senhor fazia?

Comecei fazendo matérias ligadas ao folclore do esporte brasileiro, de curiosidade, contando como era o futebol aqui, como a torcida se portava. A ideia era de colocar no lugar do meu barbeiro – naquele tempo eu tinha cabelo – e escrever tudo o que ele gostaria de saber sobre o esporte no Brasil.

Como foi sua primeira reportagem?

Uma das primeiras coberturas foi de uma temporada, de quatro jogos, que o Torino fez em São Paulo, em 1948. Na época eu tinha 16 anos, era muito novo. Comentei os jogos, apresentei, fiz entrevistas. A direção do jornal gostou dessa van premier e então me escalaram para a Copa do Mundo, em 1950.

E como foi na Copa?

Eu ficava todo embasbacado porque os meus colegas eram experientes, mais velhos. E todos eles me receberam muito bem. Éramos eu e o diretor do jornal. Ele foi para o Rio de Janeiro, cobrir a fase final que decidia o título, e eu fiquei em São Paulo, para acompanhar os outros jogos. No dia da final, eu fui para as ruas entrevistar as pessoas sobre a surpresa que tinha acontecido. E isso foi o que mais me chamou a atenção. Não tinha gente revoltada, tinha gente resignada. “Acontece, futebol é assim mesmo”. Eu não vi a revolta que eu vi recentemente quando o Brasil perdeu de 7 a 1 para Alemanha [na semifinal da Copa de 2014], ou mesmo nos 3 a 0 para Holanda [na disputa de 3º lugar]. Foi uma diferença clamorosa do comportamento da torcida.

Futebol ou Automobilismo?

Automobilismo. Vou te dar um exemplo: em 1966 eu estava na Itália, ia fazer o Grande Prêmio de F-1, e o pessoal do Jornal da Tarde, onde eu trabalhava, me ligou pedindo uma matéria: “no sábado vai ter um jogo importante da Internazionale pela Copa dos Campeões [atual Champions League]. Você não quer fazer?”. “Claro que não”, eu respondi. “No sábado eu estarei em Monza desde manhã, cobrindo o segundo dia de treinos. Imagina se eu vou perder um treino de Fórmula 1 para ver um jogo de futebol? Arrumem a notícia através das agências, pois eu não vou”.

E a paixão que o senhor sente hoje pelo automobilismo é a mesma daqueles dias?

A mesma. Só não vou para Monza balançando bandeira porque eu acho ridículo. [Risos]. 

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