-
Você que já foi aos jogos de Corinthians e Palmeiras nas novas arenas, principalmente nos clássicos disputados por ambas as equipes, já deve ter percebido que os dois estádios possuem locutores oficiais. Responsáveis por informar e, principalmente, agitar os torcedores das equipes da casa, as 'vozes oficiais dos estádios' deixaram o lado conservador, que ficou marcado na voz de Edson Sorriso, locutor 'do seu, do meu, do nosso, Pacaembu', para adotar um estilo mais fanático, muito utilizado nos palcos europeus
Montagem/Arquivo pessoal
-
Na Arena Corinthians, a voz que ecoa pelo gigantesco estádio em Itaquera é feminina, e tem nome: Chris Lima. Torcedora fanática, a jovem, que completou 32 anos no último dia 29 de maio, é quem passa todas as informações para os corintianos antes, durante e depois das partidas dentro da arena.
— O convite chegou através do Gil Latoreira, que na época era o coordenador desta área na Arena. Marcamos o teste e na seleção havia cerca de 16 locutores, sendo eu a única locutora dentre os participantes.Arquivo pessoal
-
Já no Allianz Parque, quem comanda o som do estádio é Marcos Costi, palmeirense fanático de 33 anos de idade. Acostumado a dizer que não gosta de futebol, mas sim do Palmeiras, ele contou ao R7 como surgiu o convite para ser a voz da arena.
— Era um sonho, uma vontade que eu tinha. Um dia tive a oportunidade de contar isso para o então diretor de Arena, Ricardo Galassi. Apresentei meu currículo e fiquei em cima, sempre lembrando que queria fazer teste e ter a oportunidade, até que chegou o dia. Foi no segundo jogo do Palmeiras em casa, contra o Atlético Paranaense, jogo duro, tenso. Ali era tudo ou nada, e acabei deixando o meu lado torcedor falar mais alto já na escalação. Na minha cabeça, eu poderia tentar trazer o torcedor para vibrar e de alguma forma, transmitir isso para os jogadores em campo. E então eu anunciei cada um dos 11 jogadores como se fossem 11 guerreiros entrando para um combate, uma luta pela dignidade de uma família, de 18 milhões de pessoas. Isso agradou a todos, ao Palmeiras, ao pessoal da transmissão e principalmente aos torcedores, disseArquivo pessoal
-
Ex-repórter da Rádio Coringão, a webradio oficial do clube, Chris Lima é cantora e locutora. Para ela, as experiências anteriores com o público fizeram com que as coisas ficassem mais fáceis para realizar o seu trabalho na Arena Corinthians.
— Sou locutora há seis anos. Já trabalhei com a Rádio Coringão que também é ligada ao clube. Mas nunca pensei que poderia chegar a ser a voz da Arena Corinthians. De um estádio tão sonhado por todos nós corintianos. Fui confiante sim para fazer o teste, pois sempre acreditei em mim. Mas não imaginava que uma voz feminina tivesse um espaço dentro do estádio, em um ambiente que ainda é cercado por homens. Fico muito feliz pelo espaço que me foi concedido. Hoje posso mostrar meu trabalho dentro da ArenaArquivo pessoal
-
Assim como Chris Lima, Marcos Costi também trabalhou por muito tempo em rádio. Âncora esportivo da Rádio Nova Difusora, de Osasco, e com passagem pelo Grupo Bandeirantes de Comunicação, o hoje locutor oficial do Allianz Parque conta que suas experiências nos veículos de comunicação o ajudaram bastante para realizar o trabalho feito atualmente dentro do estádio.
— Pelo lado da inibição sim, o rádio dá o improviso, a maneira de se comunicar e se fazer entender. Mas não posso dizer de forma plena pois esse tipo de comunicação é algo novo no Brasil, é uma outra forma de se comunicar. Antes você tinha o locutor do famoso “sistema de som”, hoje você tem a “transmissão do telão”. Existe toda uma equipe por trás disso, profissionais da área. Você tem que ter outros tipos de cuidado. Tem que se policiar para não prejudicar o trabalho, na rádio o erro faz parte, em um estádio, um erro, uma palavra mal colocada pode gerar confrontos. Acima de tudo, tem que saber o limite entre o respeito e o descaso com o adversário. Com certeza, o rádio facilitou sim, porém existe uma adaptação que só o tempo vai moldandoArquivo pessoal
-
Antes de serem locutores, no entanto, os dois são torcedores fanáticos. Questionada sobre como fazer para controlar a emoção durante uma partida na Arena Corinthians, Chris Lima diz que o segredo é sempre manter o foco na partida e no trabalho.
— Quando estou na Arena sempre fico focada e muito atenta a cada detalhe do ambiente de trabalho na cabine. Mas às vezes é natural que a emoção fuja um pouco do controle (risos). Principalmente em jogos decisivos. Mas rapidamente recuperamos a atenção e damos sequência no trabalho. Agora, um detalhe importante, quando tem gol do adversário, não mostramos ou falamos nada no estádio. Sempre enfatizamos o Corinthians, disse a locutora.Arquivo pessoal
-
Com Marcos Costi, como já era de se imaginar, a situação não é diferente. Torcedor de carteirinha e de arquibancada, o palmeirense revela todo seu amor ao Palmeiras ao contar se imaginava algum dia trabalhar para o seu time do coração.
— Imaginado e sonhado. Você sabe, nos conhecemos na rádio, é a minha paixão. O Palmeiras é o meu amor, eu juntei o útil ao mais que agradável. Só posso ser grato por realizar esse sonho. Todos os dias eu agradeço! Agora, só há uma forma de controlar a emoção durante uma partida: com o microfone fechado! Essa é a única forma. Quando abre, tenho que respirar, me acalmar e mandar o recadoArquivo pessoal
-
Já habituada ao trabalho que realiza desde o fim do ano passado, Chris Lima conta que, apesar de ficar "escondida" em uma das cabines da Arena Corinthians, ela já é reconhecida pelos torcedores como "a voz do estádio".
— Os torcedores corintianos que acompanham o Corinthians com frequência, já me conhece sim. Me procuram nas redes sociais para dar sugestões ou comentar sobre algum jogo especifico. A relação com eles é bem legal, respondeu a locutora, que revelou a única proibição imposta pelo clube dentro do estádio.
— Gols de times rivais, não anunciamos na Arena. Apenas gols em que eles sofrem. Aí quando anunciamos o torcedor corintiano vibra. Esta é mais uma forma de trazer o torcedor pra perto da gente, completouArquivo pessoal
-
Assim como acontece com Chris, Marcos Costi também já é popular entre os palmeirenses, principalmente nas redes sociais. Há torcedores que, inclusive, chegaram a sentir falta do locutor em uma das partidas da equipe na temporada de 2015.
— Isso tem acontecido sim, gradativamente. Teve uma matéria para um noticiário esportivo que eu apareci e deu mais evidência. Fora isso existe o pessoal que me conhece, sempre fui frequentador de jogos, tinha amizades dentro da torcida, contou o palmeirense, que, ao contrário da coirmã, não é proibido de fazer nada, mas evita os gols adversários.
— Não, eu tenho uma autocensura, tomo muito cuidado em não desrespeitar o adversário, em não fazer nada além do protocolo. Não incentivo gritos, manifestações, nada do tipo. Apenas passo as informações do que acontece, disseArquivo pessoal
-
Por fim, a reportagem do R7 fez a mesma pergunta às vozes da Arena Corinthians e do Allianz Parque: O que vocês gostariam de gritar durante um jogo do seu time no estádio e ainda não conseguira? A resposta de Chris Lima foi a seguinte.
— Nunca pensei sobre. Até porque sou livre pra chamar e envolver a torcida corintiana, mas nunca utilizar palavras que possam desdenhar e desprezar o adversário. Como disse, sempre enfatizamos o CorinthiansArquivo pessoal
-
Já Marcos Costi tinha a resposta pronta na ponta na língua e não titubeou.
— Não consegui ainda pelo pouco tempo da Arena, mas tenho certeza que é questão de tempo e esse tempo não irá demorar a chegar, se Deus quiser. Eu irei gritar com todo meu fôlego e toda minha força duas palavras: Palmeiras CampeãoArquivo pessoal