Estrelas dos anos 90, Stoichkov e Zamorano criticam a seleção brasileira
Ex-capitães de Bulgária e Chile vieram ao Brasil como comentaristas de TV
Futebol|Do R7
No passado, Ivan Zamorano, ex-jogador do Real Madrid, e Hristo Stoichkov, do Barcelona, eram adversários, mas a rivalidade entre o chileno e o búlgaro ficou nos gramados da Espanha nos anos 90. Em entrevista exclusiva concedida à Agência Efe no Rio de Janeiro, a dupla de antigos goleadores mostrou que entre eles existe forte amizade.
Durante alguns minutos, sentados frente a frente, eles conversaram sobre o passado no esporte, deram opiniões sobre a Copa do Mundo e, sobretudo, demonstraram que as polêmicas entre Real Madrid e Barcelona ficaram esquecidas no passado.
Os senhores se enfrentaram muitas vezes e hoje estão aqui juntos...
Stoichkov: Meu ódio ao Real Madrid não é novidade para ninguém! Mas isto é diferente porque ele [Zamorano] usou várias camisas durante os anos. Primeiro jogou na Suíça, depois em Sevilha, em Madri, na Inter de Milão, no América do México, no Colo-Colo, na seleção do Chile. Ele não sabe para quem joga! (risos).
Zamorano: Tenho um carinho especial pelo Real Madrid. O mesmo que Hristo sente pelo Barcelona. Vivi anos maravilhosos lá, fui campeão, artilheiro. Acho que a lembrança sempre estará guardada no meu coração. O mesmo carinho que Hristo sente pelo Barcelona, clube no qual deixou um legado importante.
Como é a relação entre vocês?
Zamorano: Muito boa. Somos amigos. Antes de chegar ao Real Madrid tive a oportunidade de conhecer o Hristo em um jogo da Unicef, na Alemanha. Fomos companheiros de quarto nesse jogo. E até hoje somos amigos. Depois, no Real Madrid, as pessoas poderiam não entender que eu era amigo de um jogador do Barcelona. Mas a amizade ultrapassou o ódio entre Real Madrid e Barcelona.
Quem ganhará a Copa do Mundo?
Stoichkov: Meu coração diz que é a Argentina. Quero finalmente ver Lionel Messi ganhar para que parem de dizer que um é melhor que outro [se referindo a Maradona]. A Argentina precisa vencer. Acho que Grondona [presidente da Federação Argentina de Futebol] está trabalhando para isso (risos). Mas será um jogo muito difícil, a Alemanha tem uma boa equipe. É um time preparado. Esta equipe é de 2004. São muitos anos de preparação, trabalho duro. Isso é um fator importante. Conhecer as jogadas, quando um deve chutar, como o outro jogador faz a movimentação. Por outro lado, eles enfrentarão a Argentina, que contra a Holanda demonstrou sua força. Com muita disciplina, muita ordem e com Mascherano, que dominou o meio de campo. É nesse setor que o duelo entre Argentina e Alemanha será decidido.
Zamorano: Tenho uma mulher argentina e filhos com sangue argentino, portanto tomara que a Copa fique na América do Sul, mas, como disse Hristo, será um jogo muito difícil. Há quatro anos, a Espanha foi campeã do mundo com sete jogadores do Barcelona, de um estilo muito parecido com o da Guardiola.
Stoichkov: Oito jogadores do Barcelona!
Zamorano: A Alemanha tem oito jogadores do Bayern de Munique, equipe treinada pelo Guardiola. É um estilo que, de alguma maneira, marca tendências no mundo. Acho que a Argentina terá um jogo muito difícil, mas Argentina tem essa garra e coragem que guarda para as finais. Confiamos em Messi para que ele possa levantar a Copa.
Vocês comentaram sobre o Guardiola. Ele criou as equipes campeãs do mundo?
Stoichkov: Não. Absolutamente não se pode pensar desta maneira. Barcelona tem um estilo desde 1988, quando chegou Cruyff ao comando da equipe. Ele continuou trabalhando o futebol na base, desenvolvendo projetos de Johann. Cada técnico que chegou ao Barcelona sempre ganhou algum título importante mantendo essa filosofia. Claro que Guardiola fez história no Barcelona, com seis títulos em um ano, mas o esforço é dos jogadores. Na Alemanha, com o Bayern de Munique, ele ganhou o campeonato com facilidade, mas perdeu a Liga dos Campeões da Europa e deu um passo para trás. Não gosto de comparações. Acho que comparar as pessoas é falta de respeito. Tenho muito respeito por Pep. Fui companheiro dele há muitos anos.
Vocês acreditam que o Brasil conseguirá se recuperar da surra que levou da Alemanha?
Stoichkov: Basta perguntar ao Felipe [Luiz Felipe Scolari, treinador do Brasil]. É ele que distribui os coletes. Ele e o outro. Como se chama o diretor esportivo? Parreira. Esses dois são os "fenômenos" do Brasil. A escolha dos titulares parece ser feita por sorteio. O 7 a 1 ficará marcado na lembrança de todos.
Zamorano: Não sabemos. É preciso se colocar na pele dos brasileiros. É uma derrota muito dura. Não só eu acho isso. É uma derrota muito profunda para o povo brasileiro, além dos jogadores. Isso demora a passar. Nós, que já jogamos futebol, sabemos o que significa uma derrota em uma Copa do Mundo. Ainda mais sabendo que os brasileiros organizaram o mundial para serem campeões. Assim, jogar no sábado, na disputa pelo terceiro lugar, e não na final, será muito difícil para todos.