Entenda por que a final do Carioca é chamada de Clássico da Amizade
Vasco e Botafogo são tidos como os rivais fraternos no Rio de Janeiro
Futebol|Do R7
Vasco e Botafogo são os rivais mais amigos do Rio. É comum encontrar torcedores de ambos os lados se unindo para torcer contra o Flamengo, por exemplo. Domingo (26), porém, no primeiro jogo da final do Campeonato Carioca, o Clássico da Amizade terá um capítulo de rivalidade. Afinal, ninguém quer deixar de levantar o caneco do Estadual.
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Na expectativa de paz no Maracanã, neste fim de semana, o volante Marcelo Mattos exaltou o bom clima entre as torcidas adversárias. Por outro lado, o cabeça de área lembrou que há uma disputa em questão, no campo.
— É bacana ter este clima tranquilo, de paz. Espero que nenhuma briga ou violência seja registrada. Todas as famílias precisam ir ao estádio. Mas, na hora que a bola rolar, cada um vai querer que sua equipe vença. Espero que o Botafogo saia vencedor.
O curioso, nesta amistosa disputa, são os laços entre os torcedores do Glorioso e do Cruz-Maltino. No fim da década de 70, quando o Maracanã não tinha uma divisão como hoje, as bandeiras das duas torcidas eram carregadas para ambos os lados, por todo o anel do estádio. Depois que elas se cruzavam, os apaixonados pelo futebol aplaudiam efusivamente, deixando claro o clima de amizade.
Esta herança perdura até os dias atuais. Domingo (26), inclusive, é muito provável que os torcedores estejam misturados no entorno do Maracanã, como de costume.
O bom relacionamento entre botafoguenses e vascaínos é bom também para a polícia. O Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe) vai até reduzir o efetivo de agentes em relação ao clássico disputado entre Vasco e Flamengo, na semifinal: de 250 para 180 policiais.
COM A PALAVRA, ROBERTO ASSAF - colunista do Lance e historiador
Amizade se fortaleceu a partir de 1971
A amizade entre os alvinegros cresceu, essencialmente, entre 1971 e 1981, quando os chamados ‘coloridos’ conquistaram 11 dos 12 títulos estaduais disputados no período. O Botafogo não ganhou nenhum, e os cruz-maltinos um, em 1977. Não seria exagero afirmar, porém, que a violência entre torcedores, que infelizmente se tornou comum desde então, tem sido menor entre ambos.
Para muitos, os laços de camaradagem passaram a ser notórios no campeonato atual, quando Botafogo e Vasco se tornaram aliados da Ferj, num duelo extenuante contra Fla e Flu.
Seria um absurdo afirmar que os alvinegros chegaram à decisão por favorecimento. Os cartolas da entidade não batem pênalti como Diego Cavalieri e não mandam o time jogar retrancado, como fez Vanderlei Luxemburgo.
COM A PALAVRA, JEFFERSON GOMES - historiador do futebol carioca
Política foi decisiva
Realmente são duas torcidas que sempre foram amigas. Na época que o Maracanã não tinha uma divisão como hoje, as bandeiras eram carregadas, erguidas, dos lados opostos até chegarem ao local onde costumavam ficar durante os jogos. Elas acabavam se cruzando, passando por todo o anel do estádio, e com todos no Maior do Mundo aplaudindo.
Nos anos 1920, o Vasco foi rejeitado, porque o futebol era um esporte de elite, e o time estava tendo sucesso com negros, operários e analfabetos. Ganhou a Segunda Divisão e a Primeira. Então os rivais ficaram na bronca e o Vasco foi rejeitado. Houve um dirigente do Botafogo que ajudou o Vasco a voltar às disputas.
Já na década de 1930, Vasco, Flamengo e Fluminense aderiram ao profissionalismo, enquanto o Botafogo permaneceu amador. Em 1935, o Vasco brigara com o Flamengo e abandonara a liga. Em 1936, o Cruz-Maltino fundou uma nova liga, agora, com o clube de General Severiano.
Esses fatores políticos fizeram os times se unirem, além de terem as mesmas cores e frequentarem o mesmo lado do Maracanã, pelo antigo acordo. Acabaram se tornando torcidas coirmãs. O Botafogo sempre teve muita rivalidade com Fluminense e o Vasco com o Flamengo. O Botafogo também tem, naturalmente, rivalidade contra Rubro-Negro.
Raramente houve problema entre as torcidas e isso é, inclusive, motivo de orgulho entre as organizadas tanto de um quanto do outro clube”.
AMIZADE ANTIGA
Início - Na década de 1920, um dirigente do Botafogo ajudou o Vasco a se “enturmar” com os outros clubes cariocas, que rejeitavam o Cruz-Maltino por colocar negros e analfabetos em suas equipes.
Criação de Liga - Na década de 30, no meio de uma briga entre profissionalismo e amadorismo no futebol carioca, o Vasco se juntou ao Botafogo para criar a Federação Metropolitana de Desportos (FMD).
Jantares frequentes - Lá pelos idos de 1950, Dulce Rosalina, famosa torcedora vascaína, oferecia jantares para líderes de torcidas rivais quando perdiam para o Vasco. Como o Botafogo perdeu nove vezes para o Vasco entre 1956 e 1959, os encontros se tornaram frequentes e a amizade cresceu.
Confusão em família - Em meados dos anos 80, Robson, torcedor do Vasco e integrante de uma organizada, brigou num clássico com rubro-negros. Roberto, irmão dele e alvinegro, foi defendê-lo e se mobilizou para que, no jogo seguinte entre Vasco e Fla houvesse um revide aos flamenguistas.