Entenda a crise que pode mandar Palmeiras e Botafogo juntos, mais uma vez, para a Série B
Rivais podem terminar o ano da mesma forma que em 2002: rebaixados
Futebol|Do R7
O fatídico cenário tem se repetido anualmente. Clubes grandes, outrora campeões, mas que devido a gestões e planejamentos ineficazes, chegam ao fim do Brasileiro brigando arduamente pela permanência na Primeira Divisão. Nas ruas, torcedores e rivais questionam: “Será que vai cair?”.
Desta vez, Palmeiras e Botafogo são os protagonistas do filme. Os dois clubes que, coincidentemente, foram juntos rebaixados no Brasileirão de 2002, o último antes da mudança do regulamento para a fórmula de pontos corridos. Entenda a seguir porque a dupla pode "morrer abraçada" novamente.
BOTAFOGO
Enquanto elege o seu próximo presidente nesta terça-feira (25), o Botafogo se apega à matemática para fugir do quase consumado rebaixamento. Para se salvar, o alvinegro carioca precisa vencer as suas duas partidas restantes, contra Santos e Atlético-MG, e torcer contra Bahia, Vitória e Palmeiras. Um verdadeiro milagre.
Situação impensável para o time que terminou a edição de 2013 em quarto lugar e retornou à Libertadores após 17 anos, certo? Nem tanto. Uma série de fatores contribuiu para colocar o Botafogo na crise atual.
Santos pode se vingar do Botafogo e ainda rebaixar outro rival
A começar pela perda do cérebro do time, o holandês Clarence Seedorf, que se aposentou em janeiro quando decidiu ser treinador. Jorge Wagner, contratado no início do ano para ser o substituto do meio-campista, deixou o clube meses depois, sem convencer a torcida, alegando salários atrasados.
Quem também não convenceu o torcedor do Glorioso foi o treinador escolhido para comandar o time. Depois de tentar Tïte, Paulo Autuori e Cuca, a diretoria do Botafogo acabou confirmando o interino Eduardo Hungaro.
Resultado: com duas vitórias, um empate e três derrotas, o Botafogo não durou muito na Libertadores e terminou eliminado na primeira fase da competição. No Campeonato Carioca a situação foi ainda pior, terminando em 9º lugar, atrás de equipes como Nova Iguaçu, Macaé e Friburguense.
Já no Campeonato Brasileiro, o Botafogo sequer flertou com a parte de cima da tabela. A melhor colocação alcançada pela equipe nesta temporada foi um 12º lugar, na longínqua 15ª rodada, após vencer o Fluminense no clássico carioca. E foi só.
Afundado numa crise financeira sem precedentes, o presidente Maurício Assumpção vendeu o zagueiro Dória, a principal revelação das categorias de base do clube nos últimos anos, para o Olympique de Marselha. O clube, que detinha 30% dos direitos econômicos do jogador, ficou com cerca de R$ 10 milhões da negociação e, de quebra, quitou uma dívida de R$ 1,5 milhão com o zagueiro – valor referente a dois meses de salários na carteira de trabalho (CLT), seis meses de direitos de imagem, além de FGTS.
Enquanto o time seguia capengando no Brasileirão, veio o tiro de misericórdia, dado pelo próprio presidente Assumpção, que decidiu afastar quatro jogadores considerados titulares da equipe (Emerson Sheik, Edilson, Bolívar e Julio Cesar). O motivo alegado pele diretoria? Inacreditáveis questões técnicas.
De lá para cá foram oito derrotas, um empate e somente duas vitórias. O suficiente para que o fantasma do rebaixamento assombrasse de vez a sede de General Severiano.
PALMEIRAS
Se os torcedores do Botafogo não tem tido do que comemorar e já olham para a Segundona, o que dizer então do palmeirense?! Em pleno ano de centenário do clube, o torcedor alviverde não pôde sequer festejar a abertura de sua nova casa, o moderno Allianz Parque. Logo na estreia do remodelado Parque Antártica, derrota para o Sport, por 2 a 0, e a maldição de Ananias e Patrick, os autores dos gols que viraram motivo de chacota entre os rivais do Verdão.
Depois de chegar a abrir cinco pontos para a zona de rebaixamento, o Palmeiras cansou de perder oportunidades para sair dos 39 pontos e respirar um pouco mais aliviado. Apesar disto, o clima no clube é de evitar uma “caça às bruxas”, como definiu o técnico Dorival Júnior.
O ano do Palmeiras começou sob o comando de Gilson Kleina. Campeão da Série B em 2013 e semifinalista do Campeonato Paulista, Kleina foi garantido no cargo para a disputa do Brasileirão, mas acabou demitido em maio, após três derrotas seguidas. Para o seu lugar a diretoria trouxe Ricardo Gareca, multicampeão pelo Vélez Sarsfield (ARG) e um dos nomes fortes do mercado.
Inicialmente, “El Flaco” Gareca passou por um período de análise do elenco, começando os trabalhos, de fato, apenas durante a pausa para a Copa do Mundo, em junho. Apesar do tempo para evoluir o futebol do Verdão, Gareca não obteve sucesso e seu retrospecto foi catastrófico: quatro vitórias, um empate e oito derrotas. Um aproveitamento de 33,3% dos pontos.
Sem alternativa e com o Palmeiras já beirando o Z-4, o presidente Paulo Nobre optou novamente pela troca de treinador. O escolhido da vez foi Dorival Júnior, ex-jogador do clube e sobrinho do ex-volante Dudu, um dos maiores ídolos alviverdes.
De cara, uma das principais missões de Dorival foi dar sentido aos reforços trazidos por Gareca. Isso porque o treinador deixou um legado argentino, quatro atletas escolhidos por ele quando assinou com o Palmeiras (Cristaldo, Tobio, Allione e Mouche).
Na ocasião, Paulo Nobre negou que a situação se tratasse de um equívoco de sua gestão ao comentar o caso.
— Não há argentinos, chilenos, paraguaios. São jogadores do Palmeiras. Todos os jogadores indicados pelo Gareca foram aprovados pelo Palmeiras. Ele dizia: “Vocês fazem contrato com jogadores de três ou quatro anos, e com treinador um ano só. Então avaliem bem, porque pode ser que no ano que vem não estejamos aqui, e eles continuam”. Então todos foram aprovados, são bons jogadores e contamos com todos eles.
Atualmente, já são quatro derrotas consecutivas do Verdão, um recorde neste Brasileiro. Nem o antecessor do técnico Dorival Júnior ostentava tal marca negativa.
Porém, a um ponto da zona de rebaixamento, a equipe ainda depende somente de suas forças para evitar o terceiro rebaixamento em 12 anos. No entanto, a situação é delicada. Nas próximas duas rodadas, o Palmeiras pega o Inter no Beira-Rio, com o Colorado brigando por uma vaga no G-4, e termina sua campanha em casa contra o Atlético-PR.