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Dinheiro público x futebol: Caso Bruno em Varginha levanta questão das prioridades municipais

Ressocialização do goleiro pelo Boa Esporte Clube é questionada no sul de Minas Gerais

Futebol|Dado Abreu, do R7

Parte da população varginhense aprovou a contratação de Bruno
Parte da população varginhense aprovou a contratação de Bruno Parte da população varginhense aprovou a contratação de Bruno

Apresentado oficialmente nesta terça-feira (14) no Boa Esporte Clube, a chegada do goleiro Bruno à equipe tem dividido a pequena cidade de Varginha, no sul de Minas Gerais. A controvérsia se dá porque a prefeitura da cidade de pouco mais de 130 mil habitantes e carente de serviços básicos é uma das principais apoiadoras do time. A responsabilidade social ficaria então em segundo plano diante da contratação de um condenado por homicídio qualificado, sequestro e ocultação de cadáver. 

A repercussão negativa do acordo fez com que o patrocinador máster, a fornecedora de material esportivo e outros três parceiros do clube rompessem contrato nos últimos dias. Por outro lado, a prefeitura admitiu incômodo com a situação, mas negou, a princípio, fim do convênio que mantém através de lei municipal de 2013, quando um grupo de empresários levou o time de Itumbiara para Varginha.

"As decisões de ordem administrativa, financeira, operacional e de execução, inclusive as definições na contratação de jogadores, compete única e exclusivamente ao clube", disse a Prefeitura por meio de nota oficial.

Cerca de R$ 300 mil anuais são investidos pelo município na equipe. O time manda os seus jogos no Estádio Municipal Prefeito Dilzon Melo, o Melão, onde a maior parte dos funcionários é da prefeitura e as contas de luz e água são pagas com dinheiro público. Além disso, o centro de treinamento e as despesas com hotel e uma casa para concentração dos jogadores e comissão técnica também ficam por conta da Prefeitura de Varginha, que ainda oferece profissionais da área da saúde, como médicos, fisioterapeutas e dentistas. Até mesmo o ônibus para o transporte de torcedores organizados é pago com dinheiro público.

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No esporte este tipo de parceria não é novidade. Na Copa do Brasil, por exemplo, dezenas de equipes distantes dos principais centros do futebol conseguem competir contra os grandes graças a investimentos nestes moldes. Dos 20 times que disputam a terceira fase da competição, Gurupi-TO, Murici-AL, Sampaio Corrêa-MA, Luverdense-MT, Cuiabá-MS e Asa-AL recebem algum tipo de incentivo público, seja empréstimo de estádio e estruturas de treinamento, até aporte financeiro.

Caso semelhante também pode ser visto nos Estados Unidos, onde cidades enfrentam verdadeiros leilões para sediar as franquias das principas ligas esportivas. Por melhores ofertas o Seattle Supersonics virou Oklahoma City Thunder na NBA e na NFL o Saint Louis Rams se "mudou" para Los Angeles, por exemplo.

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Para o professor de MBA de Gestão de Risco e Compliance da Fecap, José Pela Neto, alianças como essas podem trazer benefícios além dos campos, mas desde que avaliada cuidadosamente a viabilidade operacional. "Estamos falando de investimento de dinheiro público e de risco. É preciso que existam contrapartidas reais para a cidade, como a geração de empregos, melhorias sociais, movimentação do comércio, uma série de fatores", explica Pela Neto. "O problema é se este investimento representar 10% do que o município investe em saúde. Aí é preciso fazer uma reavaliação".

De forma diferente pensa o sociólogo e professor da Universidade Mackenzie, João Clemente de Souza Neto. "Investir dinheiro público em um esporte altamente rentável, em que os ganhos do capital ficam para um grupo determinado, não faz sentido. É como se a prefeitura fosse colocar dinheiro em um banco e no final quem lucrasse fosse apenas a instituição financeira e seus associados. Na prática, não tem retorno social", explica o professor.

O prefeito em exercício de Varginha, Vérdi Melo, afirmou que a população da cidade apoiou a chegada do Boa Esporte, motivo pelo qual o município firmou convênio com o clube. O contrato entre as partes é renovado anualmente, mas, diante da polêmica do caso Bruno, pode se encerrar antes do previsto.

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