Prata adia (ou encerra?) sonho do tetra de Zé Roberto: 'Vamos ver'
Treinador de vôlei foi ouro com o time masculino em 1992; com a seleção feminina, ouro em 2008 e 2012 e prata em Tóquio 2020
Olimpíadas|André Avelar e Kaique Dalapola, do R7
José Roberto Guimarães poderia terminar a Olimpíada como o brasileiro que mais vezes foi campeão olímpico na história. Já tinha três títulos como técnico de vôlei e sonhava com mais uma conquista em Tóquio. Não deu. A derrota da seleção brasileira feminina para os Estados Unidos no final olímpica neste domingo (8) adiou - encerrou? - a busca pela tetra.
Após a partida, Zé Roberto não quis falar muito sobre seu futuro na seleção. "Vamos ver. A gente tem que chegar em casa e se preparar para o Sul-Americano. Temos que ver se podemos contar com essas jogadoras, por que é uma competição importante, classificatória para o Mundial", afirmou.
Mas vai continuar? "Tem que ver com a confederação, com quem manda em casa. Vamos ver. Agora é curtir um pouco esse luto. O trabalho foi bacana aqui. A gente não era nem cotado para estar entre os três. Agora vamos assentar um pouquinho e depois a gente vê", respondeu.
A trajetória de conquistas de Zé Roberto começou há quase três décadas. Nos Jogos Olímpicos Barcelona 1992, ele era treinador da seleção masculina que venceu a Holanda por 3 a 0 na final, ganhando o primeiro ouro da seleção de vôlei mais vencedora de olímpiadas. Era a primeira vez que que o Brasil subia ao topo do pódio na modalidade.
Mas essa não tinha sido a primeira participação de Zé Roberto em olimpíadas. Em Montreal 1976, quando tinha 22 anos, ele havia disputado como jogador. Na ocasião, a seleção brasileira ficou na sétima colocação. Depois disso, já como treinador, além da conquista do ouro em 1992, ficou na quinta colocação em Atlanta 1996.
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A caminhada mais vitoriosa, à frente da seleção feminina, começou em 2003, com a tarefa de comandar a nova equipe em Atenas 2004. Quando Zé Roberto assumiu, o Brasil chegava na olimpíada com medalhas de bronze nas duas edições anteriores (Atlanta 1996 e Sydney 2000).
Na primeira disputa olímpica à frente da seleção feminina, o treinador ficou na quarta colocação. Depois, veio a supremacia. Ouro em Pequim 2008, batendo os Estados Unidos na final por 3 sets a 1. Quatro anos mais tarde, em Londres 2012, o mesmo adversário na decisão do ouro, e o mesmo placar. A seleção brasileira feminina de vôlei se tornava, então, bicampeã dos Jogos Olímpicos.
Com isso, Zé Roberto chegava com força para disputar a terceira medalha de ouro em casa, nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Na primeira fase da competição, o favoritismo da seleção foi confirmado. Cinco jogos e cinco vitórias, contra Rússia, Coreia do Sul, Japão, Argentina e Camarões.
Nas quartas de final, o Brasil enfrentou a China, que havia sido a pior classificada da outra chave. A seleção de Zé Roberto começou avassaladora e venceu o primeiro set por 10 pontos de vantagem. Aí, então, começou a queda: derrota nos dois sets seguintes, venceu o quarto, e foi eliminado no tie-break. Fim do sonho do tri, em pleno Maracanãzinho lotado — 3 sets a 2 (parciais 15/25, 25/23, 25/22, 22/25 e 15/13).
As chinesas terminaram campeãs dos Jogos do Rio 2016, e Zé Roberto Guimarães com uma nova missão: reformular novamente a seleção para voltar ao topo do vôlei feminino no mundo. E o novo ciclo começava pela imagem que ficou marcada naquela olimpíada, do neto do treinador, à época com seis anos, chorando logo após a eliminação.
Em Tóquio 2020, pela primeira vez na última década, a seleção de Zé Roberto não chegou como favorita ao ouro. A condição aconteceu, sobretudo, por causa da eliminação ainda na segunda fase do Mundial, em 2018, vencido pela Sérvia na final contra a Itália.
Para a disputa desta edição dos Jogos Olímpicos, apenas três jogadores que estiveram no Rio 2016 seguem no time — Gabi Guimarães, Natália Pereira e Fê Garay. Mas o técnico é o mesmo, e isso já traz ao Brasil, se não o favoritismo, a confiança de medalha.
No meio da disputa olímpica, em 31 de julho, Zé Roberto completou 67 anos. Ele sentiu a falta da família, mas nada que tirasse a concentração e o foco da conquista. Sobretudo quando a seleção precisou da experiência vencedora de superar o afastamento de Tandara por suspeita de doping. Além de manter o grupo extramamente concentrado, o treinador se posicionou demonstrando a confiança que tem na atleta.
Na final, Zé Roberto tentou motivar as jogadoras diante de uma seleção dos Estados Unidos com sangue de vitória em busca do ouro inédito. Depois de perder duas finais olímpicas para o Brasil, vencer neste domingo era questão de honra para as norte-americanas. E sob o comando do técnico Karch Kiraly, elas foram impiedosas com as brasileiras: 3 sets a 0. E quem acabou sendo tetracampeão olímpico não foi Zé Roberto, mas o americano Kiraly.
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