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A dor na Argentina, na França, em Gales. Pelo terrível destino de Sala

A luta do atacante argentino iria ser compensada. Mas a queda do monomotor no Canal da Mancha, Cemitério de Aviões, selou seu destino

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

Justo quando o atacante iria conseguir seu objetivo, o destino não permitiu
Justo quando o atacante iria conseguir seu objetivo, o destino não permitiu Justo quando o atacante iria conseguir seu objetivo, o destino não permitiu

São Paulo, Brasil

O caminhão repleto de cereal chegou, tinha de chegar até à zona portuária de Ricardones, a 30 quilômetros de Rosario.

Iria der descarregado, como sempre foi.

Por uma questão de honra.

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Na cabine, em vez da tradicional música romântica que embala o motorista há décadas, noticiário.

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A seu lado, no banco, o celular, que cruelmente insiste em não tocar.

A viagem que começou com alegria, euforia, esperança que fosse uma das últimas da vida de Horacio, que sustentou sua família nas perigosas rotas que circundam Santa Fé, infelizmente terminou na mais pura agonia.

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Emocionante: 'Me arrependo de não ter dito tudo', diz ex-namorada de argentino Sala

Seu filho era a manchete de todos os portais, jornais.

Estava em todo noticiário pela tevê, rádio, internet.

Não da maneira que o pai orgulhoso esperava.

Mas da pior maneira.

Desapareceu às 17h20, de Londres, quando já escurecia.

Ele estava a bordo do monomotor Piper PA-46 Malibúl.

As primeiras informações davam conta que ele pertenceria ao dono do Cardiff City, o bilionário do Cazaquistão, Vincent Tan.

Só que o presidente do Cardiff, Mehmet Dalman, desmente.

"Conversamos com o jogador e perguntamos se ele queria que nós fizéssemos arranjos para o vôo dele, o que, francamente, teria sido um vôo comercial .

Ele se recusou e fez seus próprios arranjos.

Eu não posso te dizer quem organizou o vôo porque eu não sei neste momento, mas certamente não é Cardiff City. "

Seria o caminho para a independência financeira de vez da família. 

E se transformou na mais dolorosa tristeza.

Não há esperança de que ele seja encontrado com vida.

As buscas do avião foram retomadas hoje, depois de interrompidas diante do péssimo tempo, no Canal da Mancha, conhecido pelos pilotos, como Cemitério de Aviões. Principalmente no inverno europeu, que atinge seu auge em janeiro. Quando a formação de gelo nas nuvens já derrubou vários aeroplanos. 

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Monomotores, como no qual embarcou Sala, têm um risco intrínseco.

O maestro Glenn Miller, o histórico piloto de Fórmula-1 Graham Hill e o escritor Saint-Exupéry já perderam a vida em voos entre a França e a Inglaterra, por exemplo.

Emiliano iria fazer com que acabassem as horas e horas do pai em cima do caminhão, dia após dia, semana após semana, meses após meses. Iria valer a pena, sua mulher Mercedes, ter acompanhado o filho durante toda a infância e adolescência para se transformar em um jogador de futebol. Assim como a vida de sua irmã Romina, sempre à sua sombra, teria enorme transformação.

Jurava que mudaria a vida de todos, os recompensaria por todos os sacrifícios.

A aposta foi alta.

Emiliano estudou apenas o básico para se dedicar de corpo e alma ao que mais adorava, o futebol.

O sorriso largo era uma das marcas registradas do argentino
O sorriso largo era uma das marcas registradas do argentino O sorriso largo era uma das marcas registradas do argentino

Desde garoto era um atacante alto, brigador, veloz, de chute forte, artilheiro. Tentava incorporar seu grande ídolo Gabriel Batistuta, 'grande e raçudo' como ele.

Fazia de conta que não sabia que ele começou no Newell's Old Boys, passou pelo River Plate e se firmou no Boca Juniors. Porque o clube de coração de Emiliano sempre foi o Independiente, no qual sonhava jogar no final da carreira.

Homenagens: Maradona, Iniesta e mais jogadores postam mensagens de apoio a Sala

Mas aos 28 anos, estava pronto para viver seu auge.

Desde os quatro anos onde começou a jogar, e ficou até os 15 anos no Atlético y Social San Martín sabia que nasceu para ser jogador de futebol. A certeza veio com a aprovação no projeto Crescer, bancado pelo Bourdeaux, da França, na busca de atletas argentinos.

Saiu de lá aos 16 anos, na maior aventura de sua vida. Ficou na base do Bordeaux. Teve passagem relâmpago pelo FC do Crato, em Portugal. Inexperiente, não conseguiu se impor no Bourdeaux, acabou emprestado para os pequenos Órleans, Chamois Niortais e Caen.

Foi vendido para o Nantes. E aproveitou a grande chance. Mostrou toda a sua gana, sua vibração e esforço como atacante. Marcou 48 gols em 133 jogos.

Ótimos números para um bom jogador.

Nesta temporada, era o quinto artilheiro, com 12 gols.

E que estava para dar o grande salto na vida.

A alegria de Emiliano com o contrato milionário com o Cardiff.
A alegria de Emiliano com o contrato milionário com o Cardiff. A alegria de Emiliano com o contrato milionário com o Cardiff.

Conseguir a independência financeira, retribuir ao esforço do pai caminhoneiro Horacio e do amor companheiro da mãe Mercedes. 

Foi a maior compra da história do Cardiff, principal equipe do País de Gales.

A quantia foi irrecusável para o Nantes.

15 milhões de libras esterlinas, cerca de R$ 73 milhões.

Contrato de três anos.

Emi, como era seu apelido, foi se despedir dos companheiros do Nantes. 

Muito fraterno, tinha ótimo relacionamento com todos.

Os mais íntimos conheciam seu medo de voar.

Toda vez que tinham de embarcar para jogar era a mesma coisa.

Durante o voo de ontem, Sala mandou uma mensagem dentro do monomotor.

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Para seu grande amigo no Nantes, o uruguaio Diego Rolán.

"Irmão, estou morto.

Estive em Nantes fazendo coisas, coisas, coisas e não termina mais.

Estou aqui em cima em um avião que está caindo aos pedaços.

Se em uma hora e meia não tiverem notícias minhas, não sei se vão mandar alguém me buscar porque não vão encontrar, mas... já sabem.

Papai, que medo que tenho!"

A mensagem de áudio foi divulgada no mundo todo.

Helicópteros e barcos buscam no Canal da Mancha vestígio do monomotor.

Sala era muito admirado no Nantes
Sala era muito admirado no Nantes Sala era muito admirado no Nantes

Há comoção em Nantes e em Cardiff.

Não há esperança que Sala e o piloto David Ibbotson estejam vivos.

Emi tentou.

Fez de tudo para realizar seu sonho.

Como jogador mudar o destino do pai, da mãe, da irmã.

Deu até a própria vida.

Horácio, com o coração embrutecido pelos anos em cima de caminhões, já deixou claro.

Acabaram suas esperanças.

Não verá mais o querido filho vivo...

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