Novo queridinho do futebol nacional, Angra ganha as redes sociais e se inspira na Chapecoense para chegar à elite
Clube do litoral sul fluminense lidera a Série B2 do Campeonato Carioca com muito bom humor
Futebol|Dado Abreu, do R7
Duas horas e meia de viagem. 140 km percorridos. Espremido entre as poltronas do ônibus comum, o grandalhão Batata levantou aliviado e esticou as pernas compridas quando o time do Angra dos Reis chegou ao estádio Giulite Coutinho, em Mesquita, no Rio de Janeiro, para enfrentar o Duquecaxiense. O ídolo do Tubarão não sabia, mas não terminaria ali a viagem.
“Atenção, pessoal! Todo mundo de volta para o ônibus. O jogo é em Nilópolis”, gritou o motorista, assumindo a culpa como um goleiro que leva um frango entre as pernas. E assim o Angra mais um dos causos divertidos que têm tornado o time da Série B2 do Campeonato Carioca o mais querido do País na atualidade.
Para completar a graça da história, quando percebeu a confusão, a equipe de comunicação da equipe, autointitulada de “estagiários”, tratou de publicar uma postagem no Twitter: “Aguenta aí, @FFERJ [Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro]! O jogo é no Estádio Joaquim Flores, em Nilópolis, mas o motorista trouxe a gente pra Edson Passos, em Mesquita”, publicou. “Já estamos a caminho da cancha correta! Segura esse W.O. aí que estamos chegando”.
Esta é apenas uma das simpáticas histórias do líder da terceira divisão do Estadual. Antes o Angra dos Reis já havia ganhado notoriedade por ser empurrado por um único torcedor fiel e solitário nas arquibancadas da Rua Bariri, em Olaria, ou quando o treino da equipe precisou ser interrompido para que o helicóptero dos apresentadores Luciano Hulk e Angélica pousasse no gramado do Estádio Municipal Jair Carneiro Toscano de Brito.
“Tem coisas que só acontecem com a gente”, brincam os torcedores pelas ruas do litoral sul fluminense. Porém, o Diretor de Futebol do Angra dos Reis, Roberto Gilvaz, discorda. Para ele, o clube está apenas tornando conhecida dificuldades que ocorrem com qualquer time menor.
“No futebol em que não se tem recursos esses causos se repetem aos montes, não é só com o Angra. Nós estamos apenas expondo. As pessoas estão vendo o que acontece nas divisões em que não se tem investimento. Esses percalços acontecem. E a gente está levando isso com humor, que é o que a gente pode fazer: tratar com bom humor e buscar superação para chegar nos nossos objetivos”, contou Gilvaz em entrevista ao R7.
Com quatro vitórias e um empate, o Tubarão já está classificado para a semifinal da B2 do Carioca (equivalente a terceira divisão). A diretoria espera que a fama repentina do time sirva para atrair recursos e levar a equipe para desafios maiores.
“Temos como exemplo a Chapecoense, que é um clube de uma cidade com as mesmas condições de Angra dos Reis. Queremos criar uma equipe com uma boa gestão, que veio de divisões inferiores e com muito trabalho e carisma chegou à elite”, revelou o dirigente.
O faturamento do clube é modesto e o dinheiro vem de doações. Um empresário ajuda com alimentação, outro com transporte. A prefeitura sede o estádio, além de ambulância e médicos nos jogos. A folha salarial, na casa dos R$ 40 mil, é rigorosamente cumprida com a ajuda de amigos. Agora, com o cartaz da internet, o clube tem sido procurado por empresas interessadas em apoiar o Tubarão.
“Nada foi acertado, ainda não conseguimos capitalizar. Mas, é um começo. Essa exposição nas redes sociais tem feito com que as pessoas da cidade percebam que é importante ter um clube de futebol, que isso gera recursos e traz dinheiro para o município. Já imaginou os grandes do Rio de Janeiro jogando em Angra dos Reis?”, ressaltou Roberto Gilvaz, que mesmo sem a monetização, vibra com a motivação extra recebida pelo elenco. “Estamos indo degrau por degrau. Já batemos na trave do acesso duas vezes. Vamos chegar. Nosso objetivo é a primeira divisão do Carioca e chegar à Série D do Brasileiro”.
Em tempo: Em Nilópolis, no Estádio Joaquim Flores, mesmo atrasado com a trapalhada do motorista do ônibus o Angra derrotou o Duquecaxiense por 1 a 0. Batata foi o autor do tento decisivo. Daniel Oliveira, o torcedor solitário que ganhou fama nas redes sociais, foi testemunha in loco da vitória.