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Opinião: Hulk simboliza a força do povo paraibano

No primeiro artigo, fui incompreendido como as inscrições da Pedra do Ingá

Copa do Mundo 2014|Eugenio Goussinsky, do R7

Craque paraibano tem tudo para ser destaque na Copa do Mundo
Craque paraibano tem tudo para ser destaque na Copa do Mundo Craque paraibano tem tudo para ser destaque na Copa do Mundo

Amo a Paraíba, que em tupi significa rio de águas rasas. Admiro este Estado riquíssimo em belezas naturais, sua população criativa, a cultura original e cheia de encantos. E, após estas primeiras frases, que revelam meu mais puro sentimento em relação a este ponto luminoso para o Brasil, acredito que tenha acalmado grande parte das pessoas que leem apenas as palavras que lhes interessam, não sei por qual motivo, ou a primeira linha de um texto.

Para muitos, minhas palavras foram tão indecifráveis quanto as inscrições na Pedra do Ingá. Nelson Rodrigues (quem sou eu...) teve uma questão semelhante em relação ao Piauí. E, como coloquei para um atento leitor, um dos muitos que me apoiaram, acredito que ele pecou pela falta de diplomacia. Vou tentar não enveredar por esse caminho.

Satisfeitos os mais precipitados, constato também a força que as redes sociais adquiriram em nossa época. Em outros tempos, quando algo contrariava alguém, este seria obrigado a ir até a própria casa para fazer um telefonema de reclamação. Ou mandar uma carta protestando. Ou simplesmente engolir sua indignação inicial, devido à dificuldade de comunicação. Existe a famosa frase em relação a isso: "Vá reclamar com o bispo..."

De qualquer maneira, enquanto caminhasse para casa, provavelmente pararia em um barzinho e, saboreando uma xícara de café, o sujeito começaria a olhar a paisagem, observar as pessoas ao redor, cumprimentar um e outro e...esfriar os ânimos.

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O mesmo vale para o caso dele optar por enviar uma carta. Prepararia a caneta, sentaria confortavelmente na cadeira, respiraria fundo diante da antiga escrivaninha e buscaria a mais sensata das palavras, no silêncio acolhedor de seu quarto, iluminado apenas pela luz suave de um abajur.

Estaria propenso a chegar, enfim, tanto antes do telefonema, quanto da carta, à mais sábia das perguntas: queria, aquela pessoa que me contrariou, dizer mesmo o que eu pensei? Será que minha impressão inicial foi a mais adequada?

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A humanidade sempre evoluiu em meio aos desentendimentos. Mas parece que eles estão mais acelerados, e insolúveis, em nossa época frenética. O escritor Marcel Proust, no início do século XX, passava horas contemplando a vida em seus aposentos clássicos, nas alamedas de Paris, aguardando encontros por uma semana, pensando em diálogos por um mês. Insatisfeito, precisou de sete volumes para tentar recuperar o tempo perdido, de forma magistral.

Hoje, para o bem e para o mal, não há tempo para mais nada. Ninguém quer perder um segundo sequer. Às vezes, infelizmente, nem para reflexões. As tentações eletrônicas se tornaram um caminho para o desabafo instantâneo, feito em apenas um clique. Uma ideia errônea vira verdade em um instante e se torna um vírus.

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Não posso desdizer o que disse, mesmo porque o fiz em prol da Paraíba. Acontece que, involuntariamente, feri egos. Afinal, nós podemos criticar familiares que amamos. Mas quando vem alguém de fora e faz as mesmas considerações, ficamos enfezados. Mesmo esse exemplo é apenas parcial, já que NÃO critiquei a Paraíba. Critiquei o Brasil que não liga para a Paraíba.

Nem de longe menosprezei as preciosidades que se desenlaçam pelo mar esmeralda da Praia do Amor, pelo pôr do sol exuberante de João Pessoa, pela história cheia de fatos que ajudaram a mudar a trajetória do Brasil, inclusive sendo o ponto de partida para uma revolução, em 1930.

Enquanto escrevo, pulsa em mim o ritmo da Paraíba, a batida do bumba-meu-boi, do xaxado, do coco-de-roda, da ciranda. E elaboro cada palavra com o gosto na boca de uma deliciosa peixada ao leite de coco.

Se errei em algo no tão polêmico artigo, foi por ter sido conciso nas palavras, em não complementá-las com afagos carinhosos que a Paraíba tanto merece neste e em outros momentos. Pois não estou sendo agora.

Opinião: Hulk mostrou para brasileiros o mapa da Paraíba

Quis exaltar as inúmeras virtudes deste Estado, incrustado no Nordeste brasileiro. Talvez pensassem que eu deveria ter pedido licença. Mas por que motivo, já que, como brasileiro, também me sinto paraibano e me vejo no direito de apontar injustiças pelas quais o Estado passa?

Quem vive no Sudeste sabe. Venham para cá e sintam. É algo que se tornou corriqueiro mas que precisa ser superado, tornando-se demodée e injustificável. Para que induza, de forma natural, dicionários a não mais colocarem definições deste tipo, que seguem a insanidade de certos comportamentos sociais.

http://www.dicionarioinformal.com.br/para%C3%ADba/

Claro, não são todos que pensam desta maneira em nosso país. Mas que é nítida a existência de um descaso, inadmissível descaso, com a Paraíba, isso é inegável.

Sei do crescimento do Estado. Sei que há lugares maravilhosos para se morar na Paraíba. Mas tenho certeza de que, do ponto de vista turístico, a Paraíba é muito menos visitada do que poderia, e deveria ser.

Também considero que, com boas médias de público de Treze e Campinense, entre outros, e com a paixão do paraibano pelo futebol, a Paraíba poderia ser uma das sedes da Copa. Mas, infelizmente, não é.

Sei de todas as potencialidades do Estado. Sei, como disse no início do meu primeiro texto, que o cangaço raramente passou por terra paraibana e que essa comparação, muitas vezes feita em outros estados, não reflete a realidade do que se passou.

A irritação que parte da população paraibana mostrou com o meu artigo pode ter sido equivocada por um lado, mas saudável por outro. Mostra que os próprios paraibanos não aceitam esse rótulo cruel, que não fui eu quem criou. Mostra que a Paraíba está antenada com o que acontece no país. Demonstra que a Paraíba, muitas vezes tão esquecida, é uma parte ativa deste organismo chamado Brasil.

Porque o Brasil também se assemelha à Paraíba. No cenário internacional, o país é pouco valorizado. Vejam como a Fifa tem tratado nossas falhas, exacerbando-as em detrimento de nossas tantas qualidades. Mas o mundo, ainda que injusto e propenso sempre a manter um conservadorismo morto, está mudando.

A zona leste, aqui em São Paulo, mostraria a mesma contrariedade se alguém a considerasse uma área excluída. Indesejavelmente excluída, porque por lá as coisas incríveis também se multiplicam. E a região se desenvolveu, por outro lado. A zona Norte do Rio também já não aceita, com razão, ser considerada algo menor, em relação às badalações de Ipanema e Copacabana.

A revolta, pacífica, é um primeiro passo para alguém se apropriar da autoestima. O filósofo Gilles Deleuze (1925-1995) dizia que uma novidade sempre demora para maturar. Começa titubeante, frágil, até se perceber que ela já existia muito antes de nossa percepção. Há um clima de efervescência no ar. No entanto, é importante tomar cuidado para essa efervescência não descambar para um incêndio.

Usei a imagem de Hulk como símbolo do meu pensamento. Ele é alguém que rompeu roupagens desconfortáveis, trajes que ele não queria para si, para desbravar o mundo e levar aos quatro cantos o seu brio e seu brilho de brasileiro, de paraibano.

Aposto mil fichas em Hulk, um jogador extraordinário, um "monstro" do Brasil, e tenho convicção de que ele será uma das estrelas da Copa. Aqui em São Paulo, ainda ninguém vê muito destaque nele. Por acaso, outro dia, uma criança pediu na loja uma camisa da seleção, estampada com o número 19. O vendedor perguntou.

— De quem é?

A criança, toda orgulhosa, respondeu.

— Do Hulk!

— Do Hulk??? Não vai querer a do Neymar?

Então, me meti na conversa e falei ao lojista.

— Você vai ouvir falar muito dele na Copa.

Vejo tudo isso com bons olhos. A Copa será uma oportunidade, não estereotipada, de Hulk mostrar a grande força do povo de sua região. Escritores como Suassuna e Lins do Rego são da Paraíba. Mas o futebol tem uma força mítica, de massificação, que, se direcionada para o lado construtivo, contribui muito.

Citando outro pensador, Dostoiévski, me senti um dos personagens de seus dramas, quando, ao tentar devolver o bracelete de ouro roubado da esposa do fazendeiro, foi acusado pelo fazendeiro de ser o ladrão.

É apenas uma comparação, e NÃO estou acusando a Paraíba de ser fria como o rico fazendeiro...Mesmo porque minhas palavras também foram bastante elogiadas, e compreendidas, por outra parte dos leitores. Agradeço a eles e a todos os outros, que me deram o privilégio de falar bem da Paraíba, para o Brasil e para o mundo. E gol de Hulk.

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