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Portuguesa-RJ ressurge como zebra. E com folha salarial de R$ 250 mil

Há 10 anos, clube da Ilha do Governador iniciou reestruturação e hoje lidera Carioca com duas vitórias sobre grandes

Campeonato Carioca|Eugenio Goussinsky, do R7

Jogadores comemoram gol no Carioca
Jogadores comemoram gol no Carioca

Dentro de campo, gritos de jogadores, orientações, som de chutes se misturam ao barulho dos aviões que pousam e decolam do Galeão. As aeronaves levam e trazem sonhos, espalhando-os pelo mundo afora enquanto, da Ilha do Governador, os treinos no estádio Luso-Brasileiro, da Associação Atlética Portuguesa-RJ, há anos já fazem parte da realidade local.

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Folclore, planejamento e esperança estão sempre presentes neste clube que representa um pouquinho do Brasil. Ousada e surpreendente, de tempos e tempos, a Lusa carioca veste o seu tradicional traje de zebra e ressurge como sensação. Isso ocorre no atual Campeonato Carioca, em que, com duas vitórias, sobre os tradicionais Vasco e Fluminense, em duas partidas, já desponta como um dos líderes.

Isso com uma folha salarial de apenas R$ 250 mil por mês, segundo conta o presidente do clube, Marcelo Barros. Como referência, o valor é quase 20 vezes menor do que a folha salarial do Flamengo, de R$ 23 milhões. A do Fluminense é de R$ 3,8 mihões, a do Vasco, de R$ 3,4 milhões e a do Botafogo é de 2 milhões mensais.


Barros diz que, há 10 anos, seu pai, João do Rêgo, pegou o clube falido, à beira de cair para a Terceira Divisão estadual, afundado em dívidas e sem documentação. Desde então, o clube iniciou um processo de reestruturação e se mantém na Primeira Divisão desde 2015.

Chay é o grande nome da Portuguesa
Chay é o grande nome da Portuguesa

Nomes como o de Luís Gustavo, lateral improvisado vindo do Sampaio Correa-MA, chegaram para se juntar ao meia Chay, jogador mais habilidoso da equipe, eleito melhor jogador do mundo de Fut7 e ao atacante Romarinho, atleta com mais de 12 anos e 160 jogos pela Portuguesa. Este último é velho conhecido do presidente Barros.


"Praticamente nasci aqui na Portuguesa. A minha vida está ligada ao clube. Estamos trabalhando há 10 anos. Meu pai ficou por três mandatos, eu assumi há dois anos. Trabalhamos com os pés no chão, folha salarial de R$ 250 mil, mas com contratações pontuais, mantendo uma espinha dorsal", diz Barros.

Em sua trajetória, a Portuguesa tem três conquistas do Campeonato Carioca da Segunda Divisão, em 1996, 2000 e 2003, além de duas Copa Rio, nos anos de 2000 e 2016.


A cada ano, o clube tem passado por melhorias, trabalhando com as receitas possíveis a partir das cotas de transmissão de TV, diz o dirigente. Patrocinadores também têm se interessado em manter parceria. Foram construídos locais com equipamentos de fisioterapia, campos de treinamento, inclusive um sintético, e até foram instalados painéis solares na sede, para economia de 95% de energia.

Barros compara a gestão do clube ao processo de reestruturação feito pelo Flamengo, que, mesmo em proporções bem maiores, carrega o mesmo conceito. 

"É uma engenharia financeira parecida. Também diminuímos e negociamos a dívida e fomos realizando melhorias a cada ano, de acordo com o orçamento. Hoje estamos com fôlego e podemos almejar algo melhor, inclusive neste Carioca. Quem sabe?"

Façanhas históricas

A Portuguesa entra novamente em campo neste domingo (14) para manter essa liderança, em jogo contra o Volta Redonda. E viver mais um capítulo nesta história de façanhas, desde o jogo contra o Vasco, em 1964, em que, seguindo a previsão de seu técnico, Gentil Cardoso, venceu o temido Vasco por 2 a 1 e deu origem ao termo zebra.

Cardoso disse, com bom-humor, que o resultado da partida seria a zebra, um animal que não faz parte do jogo do bicho.

Vieram depois, outros jogos inesquecíveis, como o da vitória por 2 a 1 sobre o Real Madrid, em pleno Santiago Bernabeu, em 1969. O resultado fez a Portuguesa, recentemente, convidar o clube espanhol para um novo amistoso, em 2024, ano do centenário da Portuguesa, fundado a partir de uma viagem de dois jovens a Santos, na qual se encantaram pela Portuguesa Santista.

Já em 1982, foi a vez do Flamengo, campeão mundial, ser derrotado no Luso-Brasileiro, por 3 a 2, resultado que ofuscou até o gol olímpico de Zico, o primeiro da partida, aproveitando o forte vento vindo da Baía da Guanabara, e um dos dois em sua carreira. 

O placar possibilitou que o Vasco se distanciasse e, como maior pontuador do campeonato, participasse da fase final, para ser campeão.

"Essa é a nossa marca, o símbolo da zebra. Mas sempre alcançamos os resultados por causa da competência da equipe. O que estamos fazendo agora é tentar resgatar um pouco o passado do futebol brasileiro, onde os jogadores atuavam muito em função do amor à camisa. Mesmo com planejamento moderno, estamos mostrando que somos um clube-raiz", destaca Barros.

O presidente ressalta que, por causa da pandemia, as receitas caíram muito e o clube teve de cortar gastos. A inadimplência aumentou e a solução foi negociar valores com patrocinadores e buscar outras fontes de receita.

"O clube também é social, temos muita tradição na Ilha. Há 10 anos, tínhamos 800 sócios, naquele momento de crise. Hoje já contamos com 13 mil e estamos tentando criar cada vez mais atrativos para não perder esse patrimônio humano, que é o mais importante para nós", completa o dirigente, enquanto os jogadores treinam e os aviões sobrevoam uma Ilha que sonha com os pés no chão.

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