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A UEFA decreta que agora vai priorizar, mesmo, os seus clubes

Um acordo entre a entidade, a associação das equipes e a associação das Ligas que fazem os campeonatos coloca os times à frente das seleções

Silvio Lancellotti|Do R7 e Sílvio Lancellotti

Alexander Ceferin e Andrea Agnelli, em Fevereiro, ainda antes da Covid-19 se espalhar
Alexander Ceferin e Andrea Agnelli, em Fevereiro, ainda antes da Covid-19 se espalhar Alexander Ceferin e Andrea Agnelli, em Fevereiro, ainda antes da Covid-19 se espalhar

Três personagens assinam uma longa missiva, remetida às 55 nações afiliadas à UEFA, a entidade que administra o Ludopédio no Velho Continente, e aos mais de 2.000 clubes das suas divisões profissionais. Dois desses senhores já são largamente conhecidos. Aleksander Ceferin, o advogado esloveno de 53 anos, seu presidente desde Setembro de 2016. E o empresário italiano Andrea Agnelli, de 44, leia-se Juventus de Turim & Fiat, desde Setembro de 2019 o presidente da ECA, a Associação de Clubes da Europa. O terceiro deles, embora menos celebrado, não deixa de ser igualmente crucial. Trata-se de Lars-Christer Olsson, sueco, 60, especializado em Turirmo e em Gestão Esportiva, o presidente da ELs, a associação que congrega 36 das Ligas que organizam os respectivos campeonatos nacionais e abarca cerca de 950 times.

Lars-Christer Olsson
Lars-Christer Olsson Lars-Christer Olsson

Na carta, embora em termos diplomáticos e elegantes, os termos obviamente adequados a um texto que procura a unidade, os três mega-cartolas, na verdade, estabelecem um ultimato. Frase que sintetiza a sua poderosa posição: “Qualquer decisão de suspender campeonatos nacionais, neste momento, será prematura e não justificada.” Claro, o recado é genérico, mas já tem os seus destinatários bem específicos. Na Inglaterra, realizadas 29 rodadas de 38, ou 27 pontos ainda a se disputarem, o Liverpool preserva uma folga de 25 sobre o Manchester City. E na Bélgica, a uma jornada de se encerrar o certame de classificação, o Brugges abriu 15 pontos sobre o Gent. Acontece, porém, que ainda existe briga, na Premier League, por vagas nas competições da Europa. Na Júpiter, da Bélgica, ainda se sucederiam playoffs para chegar ao ganhador. Mas, num acordo controvertido entre a federação e as equipes, o Brugges foi preguiçosamente proclamado o campeão.

Um cartazete da Liga do Futebol da Bélgica
Um cartazete da Liga do Futebol da Bélgica Um cartazete da Liga do Futebol da Bélgica

Agnelli confidenciou a alguns jornalistas mais próximos que, no caso de se interromper a temporada, melhor seria haver uma anulação total: “Anno perduto”. E em público ainda afirmou não aceitar que a sua Juventus arrebate o seu nono “scudetto” consecutivo “in tavolino”, expressão italiana para o “tapetão” cá do Brasil. Nada mais correto. A “Velha Senhora” comanda a tabela, 63 pontos em 26 “giornate”. A sua vice, a Lazio de Roma, todavia, tem 62 pontos. E ainda remanescem 36 em disputa. Sem fricotes e sem metáforas, Ceferin deplorou a postura da Júpiter: “Não creio que tenha adotado a decisão correta. Ninguém pode pedir ajuda e daí optar pelo que seja mais cômodo”. Ainda que, convenhamos, o esloveno seja um mestre em puxar todas as brasas para as próprias sardinhas pois ele reina em uma entidade que ostenta em caixa uma bagatelazinha equivalente a perto de R$ 3,5 bilhões.

A Euro de seleções, por enquanto, esquecida
A Euro de seleções, por enquanto, esquecida A Euro de seleções, por enquanto, esquecida

Claro, lógico, e evidente, Ceferin está muito, muitíssimo mais preocupado em satisfazer os SEUS patrocinadores. A UEFA reza para que a pandemia Convid-19 se acalme, no Velho Continente, ao menos o suficiente para que os seus planos se cristalizem com o desfecho da Champions e da Europa League, ainda sem uma data prevista. Numa nota oficial, Ceferin desmentiu que houvesse estabelecido 3 de Agosto como o limite viável. E, para que o seu projeto se efetive, o esloveno não hesitará em recorrer aos artifícios e aos improvisos. Por exemplo, congestionar as datas das SUAS copas com as das suas afiliadas. Ou até encolher as quartas-de-final e as semis para um jogo único em campo neutro, ao invés do habitual sistema de ida-e-volta. “Sei que atravessamos uma situação extraordinária. Todavia, confio nos nossos governos e nas autoridades sanitárias. Sei inclusive que permitirão, se for o caso, os jogos com os portões fechados mas com a televisão liberada”.

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Gabriele Gravina
Gabriele Gravina Gabriele Gravina

Gabriele Gravina, o mandatário da FIGC, a entidade que cuida do Calcio, parece alinhado ao trio da missiva, em particular ao compatriota Andrea Agnelli. Não descarta que a Série A de 2019/20 se estenda até Setembro, talvez Outubro. Gravina é pragmático: “Qualquer atitude que diminua, mutile, comprometa os nossos campeonatos, eu não duvido, será objeto de uma infinidade de batalhas na Justiça. Ao invés de campeonatos no gramado, teremos exaustivas audiências em tribunais.” De fato, não se trata, apenas, de escolher o campeão ou os clubes que se viabilizarão nas copas do continente. “Imagine, você, se nós rebaixarmos alguma agremiação com base na atual classificação. Não duvide. A discussão na Justiça não terminará nunca.”

No Calcio, por enquanto, estádios fechados
No Calcio, por enquanto, estádios fechados No Calcio, por enquanto, estádios fechados

Na FIGC desde Outubro de 2018, laureado em Direito, professor universitário com passagens pela administração de instituições financeiras, um prêmio do Parlamento da Europa pelo seu combate ao racismo, Gravina, hoje nos 67 anos, assumiu uma entidade em crise, desmoralizada, três cartolas eleitos e seis, digamos, interventores, desde a gestão profícua de Antonio Matarrese (1987-1996). “Nós estamos diante de uma emergência da maior seriedade”, ele aceita: “Precisamos respeitar as autoridades científicas e, antes de mais nada, seguir as suas orientações. E então, precisamos do máximo de bom senso para conjugar todas, todas as hipóteses, e adotar uma solução que sirva a todos, todos os interesses, os humanos, os esportivos e os comerciais”. 

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Noel Le Graet, da Federação Francesa de Futebol
Noel Le Graet, da Federação Francesa de Futebol Noel Le Graet, da Federação Francesa de Futebol

Proveniente de Castellanetta, numa região bem junto ao calcanhar da Bota, de história enraizada na Idade do Bronze (2000-1000aC), depois submetida à invasão dos povos mais engenhosos da Magna Grécia, sabiamente Gravina evita os debates abertos. Considerou precipitada, no entanto, a opção da Júpiter em relação aos clubes da Bélgica. Julga legítima a ameaça da UEFA em retirar tais times das próximas Copas do continente. Quer evitar que um risco assemelhado assole os clubes do Calcio. E, mais ainda, não admite engolir uma pressão como a que certa rede de hotéis, patrocinadora do PSG, começou a desferir sobre Noel Le Graet, o presidente da FFF, a federação da França: "Caso os campeonatos de lá não retornem até 1º de Julho, perderá o apoio mensal de R$ 171mi." Numa crise que mata, perdão, uma vergonha!

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