São Paulo, Brasil
"Time de viado...
"Time de viado..."
Esse era o coro que dominava São Januário aos 19 minutos do segundo tempo, ontem à tarde.
Sem hipocrisia, a maior parte dos 20.404 torcedores que estava nas arquibancadas do estádio construído em 1927, gritava sem dó.
A demonstração de homofobia em cada tiro de meta cobrado por Volpi, com gritos de 'bicha', já não mais bastava.
O coro surgiu nas organizadas e se propagou pelos torcedores vascaínos 'comuns'.
"Time de viado", preconceito que acompanha o São Paulo por, supostamente, ser uma equipe da elite, por ter sua sede no Morumbi, área nobre paulista.
Os gritos de 'gambá' para os corintianos e 'porco' são também politicamente incorretos, mas não são homofóbicos.
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O novo comandante da Comissão de Arbitragem, Leonardo Gaciba, já havia orientado os árbitros a pararem seus jogos quando ouvissem gritos homofóbicos, que associassem qualquer times a gays, de forma pejorativa.
Mas nenhum árbitro ainda havia tido coragem.
Ate que ontem Anderson Daronco tomou a atitude, com Vasco e São Paulo sendo transmitido na tevê aberta para milhões de pessoas.
Ele seguiu a recomendação de Gaciba.
Parou o jogo e procurou Vanderlei Luxemburgo.
"Time de viado não pode, não pode", enfatizou o árbitro, pedindo para que ele pedisse para a torcida vascaína parar.
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O treinador, especialista em piadas politicamente incorretas, percebeu que teria de agir. E, sem graça, se virou para as arquibancadas e repetiu.
"Calma, calma, calma."
Daronco avisou o capitão vascaíno Leandro Castán, que os gritos teriam consequência, prejudicariam o mandante. E Castan pediu a seus companheiros para implorarem o fim do coro.
Daniel Alves, capitão do São Paulo, foi avisado que o juiz estava tomando providências.
O sistema de som de São Januário avisou que o clube seria punido se o coro não acabasse.
E ele acabou.
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Mas Daronco fez questão de constar o que ocorreu na súmula do jogo.
"Aos 19 minutos do segundo tempo, a partida foi paralisada para informar ao delegado do jogo e aos capitães de ambas as equipes a necessidade de não acontecer novamente e para informar no sistema de som do estádio o pedido para que os torcedores não gritassem mais palavras homofóbicas."
Ou seja, o STJD deve fazer oficialmente a denúncia contra o Vasco.
O clube pode perder mando de jogos ou pontos.
O que aconteceu se encaixa no artigo 243-G do Código Disciplinar (praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência).
A diretoria vascaína já entrou em contato com a CBF. E promete não aceitar punição nenhuma. A alegação é que em todos os jogos no Brasil, gritos homofógicos acontecem.
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E ninguém foi punido.
Pelo contrário, até.
Os dirigentes dos clubes acreditam ser um exagero e que não podem sofrer punição por atos dos torcedores.
Mas estão completamente errados.
A Fifa, por exemplo, cansa de punir equipes por atos de racismo.
A homofobia tem de ser banida dos estádio.
Não há mais graça no grito de 'bicha' a cada tiro de meta do goleiro contrário.
Para que isso aconteça, o presidente da CBF, Rogério Caboclo, precisa agir. Dar respaldo ao STJD.
Os dirigentes de clubes já foram avisados, antes de começar o Brasileiro de 2019, que este momento chegaria.
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Eles não acreditaram.
Seguindo achando que a CBF não agiria.
Muito menos a Comissão de Arbitragem.
Está nas mãos de Rogério Caboclo.
As punições precisam começar.
E não há escapatória para o Vasco.
Se os auditores do STJD se respeitarem.
Tiverem autonomia, vergonha na cara.
A sociedade mudou.
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Estádio de futebol não está livre das leis.
O torcedor daqui para a frente já sabe.
Se apelar para a homofobia...
Estará prejudicando seu clube.
O aviso serve para os racistas.
Anderson Daronco está de parabéns.
Foi o primeiro árbitro a não fingir ser surdo...
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