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'Fazer o Palmeiras renascer foi o maior título', Alexandre Mattos

O executivo revela o quanto foi bom, e ruim, ser o principal responsável por fazer voltar a ser vitorioso e respeitado o gigante Palmeiras

Cosme Rímoli|Do R7 e Cosme Rímoli

"Trabalharia no Corinthians. Sou profissional. Respeito, conheço o trabalho sério
"Trabalharia no Corinthians. Sou profissional. Respeito, conheço o trabalho sério "Trabalharia no Corinthians. Sou profissional. Respeito, conheço o trabalho sério

São Paulo, Brasil

"(Trabalhar no Corinthians?)Sim, sou profissional.

Respeito, conheço o trabalho sério, a infraestrutura.

"Não fui trabalhar no Atlético, depois de ficar anos no Cruzeiro?

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"Eu só preciso acreditar no projeto.

"Trabalho seja onde for..."

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"Mitto."

Nenhum executivo na história do futebol brasileiro teve esse status.

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Se aproveitou.

E, depois, pagou por ele.

Inúmeras vezes era mais fotografado do que o atleta que contratara.

A ponto de deixar para trás jogadores, técnicos e ser o escolhido para fazer propaganda para atrair sócios-torcedores.

Algo, até então, inacreditável.

Aproveitou os privilégios, como ser mais respeitado que os presidentes dos clubes que trabalhava.

E também sofreu pela inveja.

E expectativa despertada pela sua habilidade em contratar jogadores importantes, transformar equipes perdedoras em campeãs.

Se desfrutou cada conquista, cada venda lucrativa, foi culpado pelos caríssimos fracassos dos atletas que contratou. 

Borja, Lucas Lima, Guerra, Deyverson, Arouca, Lucas Barrios, Ricardo Goulart, Carlos Eduardo...

Mas ganhou quatro Brasileiros da Série A. E uma Copa do Brasil. Campeão mineiro pelo Cruzeiro e Atlético.

Acertou e errou.

Formado em Educação Física e Administração, tem na retórica, na conversa inteligente, persuasiva, atitude empresarial corporativa e narede de relacionamento suas maiores armas.

Junta visão empresarial e estratégias psicológicas motivacionais de um exímio coach.

Foi assim que o mineiro vendedor em lojas de shopping em Belo Horizonte, se transformou em sócio de academia. E que o amigo, Antônio Baltazar, então presidente do América de Minas, fez seu assessor. 

Logo apontou os erros, a necessidade de apostar em projeto longo de infraestrutura, no clube um dia dominou Belo Horizonte, mas estava 'arrasado' em 2005. Foi assessor não remunerado, sem ganhar um centavo, de 2005 a 2008.

Se tornou diretor de futebol. E teve força para implementar de vez o projeto de reestruturação do clube. O América saiu da Série C para a Série A.

Centro de Treinamento e a relação com a base foram modernizados.

Em 2012 foi para o Cruzeiro. Clube bicampeão da Libertadores, dez anos sem Brasileiro. Ganhou duas vezes o torneio nacional.

Mattos. Um dirigente fazendo propaganda para buscar novos sócios-torcedores
Mattos. Um dirigente fazendo propaganda para buscar novos sócios-torcedores Mattos. Um dirigente fazendo propaganda para buscar novos sócios-torcedores

Chegou ao Palmeiras como a grande contratação de Paulo Nobre. O clube havia acabado de sair da Série B, seu segundo rebaixamento.

Se tornou o maior ídolo do Palmeiras.

Com ele, o clube conquistou dois Brasileiros e uma Copa do Brasil. Se classificou cinco vezes seguidas, mas não conseguiu a sonhada Libertadores.

Foi tratado por "Mitto" por quatro anos e nove meses.

Nos últimos três meses, pagou seus pecados.

Foi xingado e até ameaçado de morte.

Era acompanhado por segurança por onde ia.

Foi demitido em dezembro de 2019.

Iria trabalhar no clube inglês Reading, mas teve seu visto de trabalho negado.

Ficou de março de 2020 a janeiro de 2021 no Atlético Mineiro. Foi demitido com a troca de presidente. Saiu Sergio Sette Câmara e assumiu Sérgio Coelho. A troca foi exigência dos mecenas Rubens Menin, dono da construtora, MRV, e Ricardo Guimarães, dono do banco BMG.

Queriam alguém sem 'tanta mídia' e Rodrigo Caetano assumiu no seu lugar.

Mattos está há três meses sem trabalhar.

Teve sondagens de três clubes.

Não quis confirmar quais foram.

Mas o Cruzeiro foi um deles.

E outras duas equipes da Série A.

Já confidenciou que gostaria de trabalhar no Flamengo, elogiou a estrutura do Grêmio.

E disse ao blog que aceitaria ser executivo do Corinthians.

Mattos deu uma reveladora exclusiva.

Revela o quanto é bom e ruim chegar a ser considerado "Mitto" no futebol deste país.

Qual é o peso de ter o apelido de Mitto? Ter mais visibilidade que os dirigentes com quem trabalhou? Mais atrapalha ou ajuda´?

Mitto é um rótulo que eu nunca busquei. Nunca pedi. Me deram. Não só eu, como nenhum dirigente iria gostar de ficar rotulado por uma importância que não é nossa. A nossa importância é reestruturar e fazer gestão. 

Quem merece a glória, quem são as estrelas são os jogadores, os treinadores. E quando ganha, são os presidentes dos clubes.

Da mesma maneira que fui rotulado (como Mitto), ganhei outros rótulos que foram injustos. No futebol, a velocidade, com que você sai do céu e vai para o inferno, é enorme. 

As pessoas no futebol são muito imediatistas e resultadistas.

Você ganha, você é o "Mitto".

Você perde, é o pior.

Mattos sabe que errou e acertou no Palmeiras. Enfrentou a torcida e trouxe Weverton
Mattos sabe que errou e acertou no Palmeiras. Enfrentou a torcida e trouxe Weverton Mattos sabe que errou e acertou no Palmeiras. Enfrentou a torcida e trouxe Weverton

Como você ganhou o apelido de Mitto?

Foi no Cruzeiro. O Dedé é que tinha esse apelido. Ele era um dos grandes jogadores brasileiros (em 2013). O PSG e o Bayern de Munique querendo. Fui para passar um dia e fiquei 13 no Rio de Janeiro convencendo o jogador, sua família, a direção do Vasco, que seria melhor para ele jogar em Belo Horizonte.

Quando voltei com ele, no aeroporto (da Pampulha) havia centenas de torcedores para recebê-lo. E havia uma faixa lá. O "Mittos contratou o Mito." Foi lá que começou. 

Mas veja bem, Cosme, isso não é um rótulo que eu queria, que fosse o meu objetivo de vida. E da mesma maneira que faz uma contratação grande, quando vence a concorrência, quando não é campeão, as ofensas são proporcionais aos rótulos também.

E o outro lado da moeda? Como é que foi ser ameaçado de morte, perseguido pelas organizadas nos últimos momentos no Palmeiras?

Primeiro, eu acho que é uma questão da sociedade. Não é exclusiva do futebol. A gente vê isso na rua, quebra-quebra. Com outras pessoas públicas também aconteceu. Com artistas, políticos, jornalistas. Situação da sociedade.

É questão de educação, governo. Mas não é esse o caminho da entrevista. 

Sem dúvida é uma situação que entristece. Somos trabalhadores e todo trabalhador comete erros e acertos.

No futebol, onde a gente lida com seres humanos, você não tem certeza de nada. 

A cobrança faz parte, a crítica faz parte...

Agora, a ofensa, a ameaça, a intimidação são situações de educação...

Violência e impunidade que existem no nosso país.

Consequentemente, também no nosso futebol.

Como executivo tinha um segurança me acompanhando no Palmeiras.

Foi muito ruim.

Indo por esse caminho, como tem de ser a relação de um clube com suas organizadas? Com a Mancha? (A principal organizada do Palmeiras, Mancha Verde assumiu uma postura agressiva, perseguindo, exigindo a saída de Mattos, ao final de 2019.)

Cosme, olhe só. Eu fiquei cinco anos no Palmeiras. Foram quatro anos e nove meses com uma relação absolutamente saudável. Fui criticado várias vezes, outras vezes aplaudido, ovacionado. Todas as vezes que fui convidado para festas, desfile de fantasia, eu fui. E muito bem recebido.

O que aconteceu é que no nosso futebol, sempre precisa ter um culpado. Aconteceu o 7 a 1 e o Felipão foi o culpado. Ninguém quis saber o porquê.

Naquele momento, já havia sido trocado o presidente, trocado treinador, trocado jogadores. A única pessoa que estava ali há cinco anos (com o Palmeiras fracassando no Brasileiro, culminando um ano todo sem conquistas) era eu.

Naquele momento eu fui apontado como o causador dos erros. Respeito, não tenho mágoa nenhuma. Mas não vou mudar minha opinião por três meses. 

A Mancha foi fundamental em todos os títulos que eu ganhei no Palmeiras. Fundamental como apoio, ir à porta de CT, de hotel, de apoiar, de cobrar. Sempre foi assim dentro de campo. Nos momentos de maior dificuldade sempre apoio, sempre cobrou. Criticava após os jogos, como tinha de ser.

Você acabou tendo mais proximidade com a torcida organizada do Palmeiras, do que com a do Cruzeiro, do Atlético?

Foi diferente. Porque quando eu cheguei no Palmeiras. O Palmeiras precisava fazer uma reformulação drástica em vários setores. O Palmeiras não precisava montar só um time de futebol. 

Precisava construir sua estrutura física, que não tinha. Precisava construir sua categoria de base, que não tinha. Quando eu falo 'não tinha', era que precisava trabalhar em excelência, como faz hoje. E não fazia. Precisava fazer análise de desempenho. Precisava investir em tecnologia.

Precisava resgatar o respeito do mercado.

Precisava resgatar o respeito, a autoestima que já havia perdido.

Precisava voltar a ser protagonista, que é hoje.

Ou seja, precisava de muita coisa.

E precisava de uma figura, alguém, logicamente autorizado com o respaldo dos presidentes Paulo Nobre e Mauricio Galiotte, para dar a cara nova ao clube.

Não à toa, o Paulo Nobre me pediu para fazer a propaganda para atrair sócios-torcedores. Eu tive até um pouco de resistência, porque não é a minha praia. Mas ele queria dar uma nova ao Palmeiras naquele momento.

Trabalhar muito e fazer o Palmeiras renascer foi o mais importante dos títulos que consegui no clube.

Mattos revela que teve de reconstruir toda a base do Palmeiras
Mattos revela que teve de reconstruir toda a base do Palmeiras Mattos revela que teve de reconstruir toda a base do Palmeiras

Mattos, todo executivo precisa ter seus empresários favoritos? Como é que acontece com você?

O grande executivo é aquele que consegue ter a rede de relacionamentos igual com todos os empresários. Sempre foi assim comigo. No Palmeiras era igual com todos. Eu consigo olhar nos olhos de todos os empresários do futebol brasileiro. Independente do tamanho, do número, da qualidade dos jogadores que representam.

É claro que, quando você eleva o nível, como o Palmeiras elevou, você começa a ficar restrito pelo nível dos jogadores, porque você precisa trazer jogador de alto nível. E jogadores de alto nível estão nas mãos de um, dois ou três empresários. 

O mesmo vale para a categoria de base?

Sim. Não é à toa que o Palmeiras montou a categoria de base que tem. Porque o Palmeiras conseguiu colocar, de maneira equilibrada, todos os empresários. Todos têm jogadores lá dentro. Porque o clube foi agressivo e foi buscar esses jogadores para o Palmeiras.

Se não fosse o trabalho de excelência na base que a minha equipe fez há cinco anos, o Palmeiras hoje não teria hoje Gabriel Menino, Veron, Wesley, Patrick de Paula.

Isso me dá muito orgulho.

Não só comprei jogadores, não.

E no profissional, em 2015 e 2016, o Palmeiras precisava resgatar sua identidade. Voltar a ser a primeira opção no mercado.

Foram muitos empresários que colocaram jogadores, porque era o momento de reconstrução e de muitas contratações. Depois, começou a subir a régua, aumentar o nível dos jogadores. E quando você sobe a régua e os poucos que têm qualidade estão nas mãos dos maiores empresários.

O resultado está aí...

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Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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