Esquema do Corinthians traz a confiança ao Brasil na Copa
Tite queria atacar no Mundial. Mas decidiu não correr mais riscos desnecessários. E optou pelo 4-1-4-1 que o consagrou no Parque São Jorge
Cosme Rímoli|Do R7

Sochi, Rússia
Tite havia esboçado fazer com que o Brasil disputasse a Copa no esquema 4-2-3-1. Foi assim que enfrentou a Suíça e Costa Rica, com o time mais ofensivo, jogando na intermediária adversária, trocando passes. Com as linhas adiantadas. Mas com a defesa exposta. Havia espaço entre os laterais e os zagueiros para contragolpes.
O Brasil tinha mais posse de bola, porém corria mais riscos.
Contra a Sérvia, no primeiro jogo decisivo deste Mundial, Tite decidiu. A Seleção não correrá mais riscos. Nos treinamentos fechados, longe da imprensa, o técnico mudou a maneira de o Brasil atuar. Com os mesmos jogadores, mantendo a coerência, como ele gosta tanto de enfatizar.
Ele decidiu apelar para o esquema tático que descobriu ser o ideal, no ano sabático, que tirou para viajar pela Europa realmente disposto a se inovar como treinador. Em 2014, chegou à conclusão que o 4-1-4-1 é a base mais segura na hora de atacar e defender. Com duas linhas de zagueiros, um volante à frente, combativo. Quatro meio-campistas versáteis, um mais marcador e três mais ofensivos. E um atacante de referência na frente.
Foi assim que ganhou títulos e respeito no Corinthians. E virou unanimidade para substituir Dunga no comando da Seleção. Assumiu e acabou iludido nas Eliminatórias. O fraco nivel do futebol sul-americano fez com que apostasse no ataque. O Brasil atuou no 4-2-3-1 e chegou até a jogar aberto de verdade, no 4-3-3.
Mas a Copa do Mundo mostrou o quanto as Eliminatórias poderiam ser ilusórias. Não havia sentido para Tite continuar proporcionando contragolpes aos rivais. E o Brasil atuou exatamente como o Corinthians campeão brasileiro de 2015.
"Eu preciso ter intensidade, combatividade e buscar espaço para atacar com segurança", deixou escapar o treinador, após a vitória incontestável e sem risco, diante dos sérvios.
Tite conseguiu que, sem a bola, o Brasil fechasse as intermediárias. Casemiro não estava mais sobrecarregado como nos dois primeiros jogos. Paulinho se encontrou, ocupando a toda a intermediária direita, da defesa ao ataque, onde fez o primeiro gol. E onde seu futebol é excelente.

Philippe Coutinho, Neymar e Willian ajudaram a fechar o meio de campo e formavam a linha de quatro com Paulinho. Estavam um pouco mais recuados do que o normal. Mas em compensação, assim que o Brasil recuperava a bola, desciam em bloco, dificultando ao máximo a marcação sérvia. Ainda mais porque Neymar jogou para o time, trocando passes, não apenas forçando dribles desnecessários.
Gabriel Jesus é o sacrificado da equipe. Porque ele atua isolado, como o jogador que atrai a marcação adversária, abre espaço para quem vem da intermediária. E ainda tem fôlego para marcar a saída de bola dos zagueiros e volantes. Não para um instante. Não está conseguindo marcar gols, só que se mostra muito útil ao time. Por isso que Tite não o troca por Roberto Firmino, incapaz de ter essa movimentação frenética do atacante do Manchester City.
Como no Corinthians, o desafogo precisa vir das laterais. Fagner sabe muito bem que pode surgir como ponta direita porque haverá cobertura. O recuo de Paulinho quando ele está no ataque é sincronizado. Casemiro estava pronto quando no início Marcelo e depois Filipe Luís estavam à frente. O lado esquerdo ofensivo não foi tão forte porque Filipe Luís é mais marcador do que agudo na lateral.
A frustração dos sérvios por não conseguirem furar o bloqueio brasileiro foi imensa. Tanto que só sobrou como opção os levantamentos, os chuveirinhos para a área brasileira. O que faciltou o trabalho de Alisson, Miranda e Thiago Silva para afastarem a bola de frente.
"Nós nos sentimos muito seguros jogando dessa forma. Não demos chances aos adversários. A movimentação do time como um todo foi como deveria ser. A nossa vitória não foi convincente por acaso", destacava Thiago Silva.

Contra o México, time especialista em contragolpes, Tite não vai mudar o esquema brasileiro. Se deixar empolgar e abrir a equipe, voltar a escancar o meio de campo seria se expor de maneira desnecessária.
O México do colombiano Osório, atuou contra a Alemanha no 4-5-1. Venceu por 1 a 0, explorando os contragolpes. Quando tentou se abrir contra a Suécia, jogando no 4-3-3, perdeu por 3 a 0. E poderia ter sido massacrado. É óbvio que os mexicanos vão tentar sobreviver nas oitavas, em Samara, buscando uma bola salvadora. De preferência, nos contra-ataques velozes, especialidade de Chicharito.
Apesar de o Brasil ser mais forte, seria um risco se expor.
Times já foram a base de títulos mundiais.
Santos e Botafogo, em 1970, era o caso mais explícito.
Mas agora a Seleção está atuando como o Corinthians.
O 4-1-4-1 fez Tite ganhar o Brasileiro de forma segura.
Sem riscos.
Ele repete a dose aqui na Rússia.
Só que com muito mais qualidade.
Daí a convicção de que encontrou a fórmula.
Ela o acompanhava há dois anos.
No Parque São Jorge...
Copa: jogadores ficam mais felizes com a família na Rússia
O técnico Tite acertou em cheio quando autorizou que as famílias dos jogadores estivessem por perto durante a Copa da Rússia. Uma cena impossível de se ver em outros Mundiais virou corriqueira em 2018. Os filhos dos jogadores acompanharem de perto algu...
O técnico Tite acertou em cheio quando autorizou que as famílias dos jogadores estivessem por perto durante a Copa da Rússia. Uma cena impossível de se ver em outros Mundiais virou corriqueira em 2018. Os filhos dos jogadores acompanharem de perto alguns treinos recreativos do Brasil. Outra fator importante é que as folgas dos atletas são passadas perto das pessoas mais importantes da vida deles. Funciona como a folga ou o fim de semana que uma pessoa comum. Para Paulinho faz toda diferença. "É ótimo para gente. No momento que mais precisamos de apoio é importante vir de quem mais confiamos"